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Em março de 2024 acontecerá a terceira edição do South Summit Brazil, um grande evento global de inovação que tem ocorrido anualmente em Porto Alegre. Na edição passada foram mais de 22 mil pessoas vindas de cerca de 50 países que se encontraram para debater sobre tecnologia, sustentabilidade, transformação social e criatividade, tendo o Cais do Porto como cenário. Com ares de festival, foram três dias de intensas atividades com uma vibração positiva de colaboração, integração e difusão de novos conhecimentos. Saí de lá super motivada, vislumbrando um novo futuro de abundância e prosperidade.

Ocorre que o local do evento é próximo ao Centro da cidade. Ao caminhar alguns poucos passos, tive a sensação desconfortável de estar ultrapassando um Portal. Em vez do futuro harmônico, passei a vislumbrar uma distopia ao estilo Mad Max.

Tomei um choque de realidade. Afinal, estamos no Brasil. Enquanto se fala em IA, BigData, iOT, AR e tantas outras tecnologias chamadas “disruptivas”, saímos na rua e nos deparamos com uma realidade árida, inóspita, com crianças pedindo dinheiro nas esquinas, com total falta de perspectiva futura. Hiato social. De um lado estamos mirando na Lua; de outro, não temos o que comer. Um imenso paradoxo.

O caminho tradicional para realizar uma mudança nesse cenário é desalentador. Perpassa por muitas iniciativas, principalmente governamentais. Uma reforma de base, na educação, na saúde e na segurança. Mas reflitam comigo: vamos que, por algum fator mágico, nossos governantes de todas as instâncias públicas passassem imediatamente a se dedicar exclusivamente ao bem comum, começando hoje uma nova era no Brasil. Em quantos anos essa nova geração que começaria a se beneficiar agora realmente teria algum protagonismo e o reverteria em benefício para a sociedade brasileira? Coloquemos aí, sendo otimistas, 30 anos para frente. Ou seja, lá por 2055 começaremos a ser o Brasil que queremos. Não é maravilhoso? Claro que temos que cobrar de nossos governantes atitudes que mudem esse cenário. Mas se queremos vivenciar uma realidade diferente em menor espaço de tempo, isso não basta. E o que fazer no curto prazo? Voltemos ao nosso dia a dia: a revolução digital está eliminando cargos de mão de obra desqualificada e gerando novos cargos em áreas que exigem conhecimento estratégico. Excelente para países desenvolvidos. Mas para países como o nosso, isso só faz ampliar o abismo. O hiato social está aumentando assustadoramente; em breve se transformará em cratera intransponível.

Esta perspectiva futura precisa gerar reflexão hoje. Falamos em ambientes colaborativos e diversos, desde que os integrantes sejam pessoas com o mesmo perfil que o nosso. Isso não é sustentável como sociedade. Sobram vagas em nossas empresas de tecnologia e sobram pessoas precisando de emprego. Não é um contrassenso? Se existe um setor da economia capaz de realizar grandes transformações, é o da inovação. É o segmento com mais investimentos no mundo. Sem tecnologia não seremos competitivos internacionalmente, ela é a chave para o desenvolvimento. Nas pesquisas sobre os empregos do futuro, a maioria é em áreas de ambiente tecnológico. Temos que recrutar todos para fazer parte deste novo cenário. E se tentássemos conduzir nossos jovens de baixa renda, que atualmente contam com poucas perspectivas, para uma área onde eles poderão fazer a diferença e prepará-los para ela, não ganharíamos todos com isso?

Pode parecer utopia, mas acredito na tecnologia como o atalho transformador da nossa sociedade. Não existe hoje área produtiva que prescinda de inovação. Muitas associações empresariais possuem iniciativas neste sentido (destaco aqui o +pratTI). Precisamos nós mesmos refazer nosso mindset.  Se cada empresário se engajar em alguma destas iniciativas dentro de seu próprio ecossistema e fizer uma pequena experiência nesta direção, criando oportunidades para nossos jovens, esta transformação começará a acontecer, e a soma delas se refletirá em um cenário mais justo e competitivo em um curto espaço de tempo. Ganharemos como mercado, como sociedade e como indivíduos. Seria um excelente desafio para o novo ano que se inicia: por um 2024 repleto de experiências verdadeiramente transformadoras para todos nós!

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Polydoro

Diretora da Hypervisual Design de Interação, possui formação em Publicidade e MBA em Marketing pela FGV. Consultora do SEBRAE-RS, integrou a primeira diretoria da APDesign/RS, foi idealizadora do Grupo de Usuários em UI/UX da SUCESU-RS (GUIX) onde atualmente é Diretora de Grupos de Negócios. É também Vice-Presidente de Comunicação da Assespro-RS e articulista do Portal da Revista Amanhã — veículo especializado em economia e negócios da região sul.

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