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Quanto tempo você resiste, em uma reunião, sem ler uma nova mensagem que acabou de chegar no seu whatsapp?

Durante o dia, quanto tempo você consegue permanecer sem consultar a tela do seu smartphone?

Quanto tempo, após acordar, você demora para verificar o seu celular?

Quanto tempo você aceita esperar por um download de um arquivo na internet?

Para muitos, as respostas aos questionamentos acima são: “pouco ou muito pouco tempo” ou até mesmo “imediato, instantâneo, etc”.

Quando isso acontece de forma desproporcional e exagerada estamos vivenciando um fenômeno social, cada vez mais frequente, que impacta e acelera a cultura do imediatismo.

Os comportamentos de um imediatista já são bem característicos. A impaciência e a pressa para qualquer tema do cotidiano são sinais de que algo não vai bem. O apego exagerado a permanecer conectado, quase todo o tempo, a redes sociais ou dispositivos de mensagens instantâneas ampliado pela conexão desproporcional a conteúdos digitais, na internet, de modo geral, culmina em altas doses de indiferença, irritabilidade e/ou angústia.

Uma pessoa afetada pelo imediatismo, além de impaciente, é de certa forma, displicente. Essa displicência, por sua vez, tem a ver com uma percepção equivocada de que tudo tem que ser para agora. Copiando o modelo de uso de diversos aplicativos. Para ela, o presente não é consequência do passado e tanto faz o que se fizer hoje, afinal, só o agora basta. Nesse sentido, há uma ânsia crescente de ter coisas para já e de resolver todos os problemas imediatamente.

Esta percepção ou necessidade de estar vivendo dentro uma jornada acelerada tem uma causa muito peculiar que é a própria expansão do mundo digital. Com a chegada da internet, no final dos anos 90 e a facilidade de uso e acesso a dispositivos eletrônicos cada vez mais amigáveis, sofisticados e responsivos a partir dos anos 2000, “tudo” pareceu realmente ficar mais rápido. O excesso de informações e de estímulos gerou aceleração mental e medo de estar perdendo algo virou uma constante. Dispositivos vestíveis ou os wearables dão mais impulso a esta tendência. A paciência para atividades simplórias do cotidiano foi esmorecendo.

O imediatista deseja, de forma exemplificativa, que um pneu do seu carro, quando fure, seja trocado em 1 minuto, que a tele entrega de uma pizza seja feita em 5 minutos, que a reunião de planejamento estratégico da empresa para o próximo ano seja concluída em 10 minutos e que a casa que ele planeja construir esteja pronta em 1 semana. O deslocamento de um ponto A para um ponto B de um imediatista é recheado de riscos e violações das regras de trânsito. Ele não suporta nenhum obstáculo no caminho e no tempo que traçou para atingir o seu objetivo. Inclusive os que estão próximos dele passam a ser seus detratores (até inimigos) por não contribuírem para o seu resultado, dentro das suas expectativas. Gera agressividade e tensões desnecessárias.

O imediatismo é muito diferente da acelerada vibração motivacional. Esta tende a ser curta, passageira, intensa e vale, positivamente. para alguns momentos, como uma campanha ou uma promoção. O imediatismo já é hábito, rotina e traz um saldo de consequências negativas para si e para os mais próximos. Por isso competividade e imediatismo não devem se confundir pois partem de premissas distintas.

Quando em ambiente familiar ou corporativo, o comportamento distópico do imediatista é percebido por todos. É transparente o excesso de angústia e aflição transmitido por ele em reuniões de trabalho, comemorações familiares e/ou no desejo de atingir objetivos e metas pessoais.

Infelizmente, esta prática, que se dissemina, de forma silenciosa, traz efeitos preocupantes. Não parece haver distinção de classe social ou geografia.

Tudo isso gera uma distância maior entre expectativa e a realidade.

Não respeitar o tempo natural das coisas provoca crises de comportamento e cria expectativas por soluções rápidas e fáceis que gerem uma satisfação instantânea. Tudo isso como se a vida fosse um aplicativo ou um game onde vamos acumulando pontos, em cliques, para trocá-los por novas habilidades repentinas que vão nos dar poderes extras sobre os demais competidores.

Em sociedade, a vida não funciona dessa maneira.

Na esteira da vida humana não pulamos etapas. Quando somos crianças, sonhamos em nos tornar adultos, mas antes disso vêm a adolescência. Não há como mudar esta ordem natural. É preciso aprender com o processo. É preciso socializar. É isso que nos torna mais equilibrados, fortes, resilientes e confiantes para desafios futuros.

O imediatista não vê o futuro. Ele quer antecipar a colheita, sem ter feito o plantio.

Não começamos um regime ou atividade física esperando que os seus resultados apareçam na primeira semana. É preciso persistência, empenho, foco e dedicação durante um prazo mínimo.

No mundo corporativo, a consequência deste comportamento acelerado é um desastre. Na área comercial, vendedores imediatistas querem que a venda aconteça sempre no primeiro contato com o cliente. Recursos humanos convivem com altos índices de rotatividade pois os novos colaboradores se desmotivam se a sua promoção não acontece já no segundo mês de trabalho. As gerências se vitimizam, nas suas funções, porque querem que novos funcionários, sem horas mínimas de treinamento ou experiência, produzam exatamente como o funcionário sênior na sua primeira semana de trabalho. Decisões baseadas em reuniões conduzidas por um imediatista geram análises superficiais que não consideram consequências a médio e longo prazo e levam a uma gama enorme de perda de oportunidades de negócios, distanciamento de clientes e a resultados negativos. E aqueles desejados feedbacks construtivos se tornam perda de tempo entre líder e liderados.

Assim, carreiras que seriam promissoras tendem a se esfarelar, em um piscar de olhos, a partir do encurtamento do tempo para se obter um resultado que ele próprio estabeleceu. Números atualizados, no Brasil, por exemplo, sobre a evasão em cursos superiores refletem um pouco deste drama.

Como isso, em geral, hoje, afeta com mais intensidade os mais jovens, as gerações mais recentes, se tornam o alvo do fenômeno.

No fim, a culpa recai toda sobre eles, quando, na verdade, são tão vítimas quanto as empresas que os contratam. Afinal, os jovens imersos na cultura do imediatismo têm muita dificuldade em aceitar regras, em se submeter a hierarquias e em aceitar o que não lhes gera um prazer imediato. Embora, sejam, em geral, muito qualificados e competentes, eles acabam se tornando um problema justamente por conta do individualismo exagerado. E as organizações, de forma geral, não aprenderam a lidar com isso ainda ou sequer percebem esta tendência.

Em tempos de inteligência artificial, parece que o futuro recomendável as organizações seja realmente ampliar o cuidado com pessoas, principalmente com a sua saúde mental, muito antes de tentar administrá-las. Investir em diálogo, escuta ativa, programas de capacitação contínua, com planos individuais e de acompanhamento do desenvolvimento pessoal estruturados e factíveis, já nas primeiras etapas da contratação é condição fundamental para ampliar o sucesso empresarial em tempos de imediatismo desenfreado.

Na competição da vida, resistência e persistência são habilidades que conseguem nos levar mais longe.

Muitos profissionais não resistem diante de um “não”. E desistem de si mesmos. Desistem dos seus sonhos e objetivos pessoais por impaciência. Desistem de iniciar ou de construírem uma próspera carreira profissional pois não se sentem capacitados ou não tem a mínima condição psicológica de enfrentarem os obstáculos naturais que a jornada do viver e ser nos apresenta.

Como a vida não premia estes arroubos, a frustração é certa. E isso impacta a vida pessoal. Afeta a organização, a família e o relacionamento com amigos.

Quanto mais imersa na cultura do imediatismo, a pessoa se torna menos capaz de estabelecer relações saudáveis com os demais.

Além disso, outros transtornos mais sérios podem surgir. A ansiedade é um exemplo. Um ansioso é alguém incapaz de aguardar e que sofre pelo que ainda não aconteceu. Ele está sempre antecipando as consequências de tudo, para si e para os outros. Isso gera um profundo mal-estar emocional, já que, com a ansiedade, vem o medo e, em situações mais graves, até a depressão. E isso sim é perigoso, pois coloca diante de si o risco da própria existência.

Uma das maiores perdas que o imediatismo provoca é impedir ou reduzir a capacidade de reflexão. Reflexão é sempre algo que demanda um prazo e tempo é uma ostentação para aqueles que valorizam demais a gratificação instantânea. Ou seja, significa que não há tempo para refletir sobre os próprios atos, formas de ser e de pensar. E o pior? Não se escuta quem está próximo. Não há conexão, não há conselhos, não há diálogo, não há trocas. Nesse contexto, parece que quanto menos se pensa, melhor. E tudo isso então é feito de uma maneira tão superficial e rasa que não oportuniza o contraponto aumentando o afastamento entre os que deveriam ser próximos.

Para mitigar o imediatismo é preciso abandonar a busca por soluções rápidas. Não há como fazê-lo sem que a própria pessoa tenha consciência do mal que está fazendo a si mesma ou aos demais que o circundam. E conhecer a si mesmo é um processo que leva tempo, pede muita paciência e na maioria das situações complexas requer ajuda especializada.
Por isso é importante estar atento a quem nos circunda. É fundamental tentar estabelecer algum um vínculo com o imediatista próximo e apoiá-lo a identificar tais fatos ou atos. Na maioria das vezes, ele não se percebe. Por isso é importante o autoconhecimento.

Quanto mais nos conhecemos, mais tolerantes seremos com os nossos problemas e os de outras pessoas. Como recomendar uma redução no uso diário em redes sociais, por exemplo, se ela mesmo vê nisso uma bobagem?
Criar novos hábitos, que distanciem o imediatista de dispositivos eletrônicos pode ajudar e muito; criar o hábito de leitura e debater seu conteúdo com colegas e amigos; ampliar seu nível de atividade física através de esportes coletivos; participar de grupos de caminhada ou corrida; planejar reuniões sem smartphone entre outras ideias. Tudo são possibilidades que, variam de pessoa para pessoa, na tentativa de quebrar um ciclo perverso de isolamento e apatia.
Afinal, não ter disciplina sobre o processo para alcançar os próprios desejos pode ser muito prejudicial e impedir um imediatista de realizar mudanças positivas na sua vida. Melhorar esse controle sozinho pode ser uma tarefa longa. Por isso ter alguém próximo para ajudar é fundamental. Se libertar dos excessos das redes sociais, fortalecer as interações sociais e buscar o autoconhecimento são passos importantes para prevenir e tratar um flagelo silencioso, mas catastrófico se não houver ações positivas sobre a própria vida.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Reges Bronzatti

Gerador de Valor para Negócios com Tecnologia. Apaixonado por Gestão, Inovação, Direito Digital, Privacidade e Empreendedorismo. Advogado. Mestre em Ciência da Computação. Conselheiro Empresarial.

2 Comentários

  • Mauricio Valadares disse:

    Ok,novas tecnologias influem em valores presentes mas há sempre migração desses valores a outros, sempre houve e sempre em certNaS circunstânciaos.Ngaas orgnaizações faz-de NECESSÁRIA uma nova Liderança com tais percepções para melhor conduzir tais comportamentos novos, emergentes. Não digo que seja fácil…

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