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Talvez você nem tenha se dado conta, mas, há mais de 20 anos, empresas de tecnologia da informação figuram como as maiores no mercado. As chamadas Big Techs têm ditado tendências de comportamento e consumo, e não apenas como canal de distribuição – como um olhar desatento pode imaginar -, mas sim como detentoras do “attention span” dos usuários, curadoras de conteúdos e criadoras de tendências no mercado.

Podemos usar aqui como exemplo a influência das plataformas de streaming de áudio na produção e distribuição de música, ou a influência dos streamings de vídeo no consumo de filmes e séries. Saindo do mundo das mídias, como não falar sobre a influência das ferramentas de IA no dia a dia dos escritórios, como ferramenta de produtividade?

Dessa forma, navegar entre as tendências de mercado tornou-se praticamente sinônimo de inovação. Isso cria um contexto em que muitos líderes automaticamente associam o fato de adotar uma nova tecnologia ao ato de inovar. Eu gostaria aqui de te convidar a analisar dois fenômenos comportamentais da Gestão da Inovação que demonstram muito fortemente os impactos desse comportamento:

Posicionar-se como marca inovadora perante o mercado

Neste cenário, é muito comum ver marcas que realizam ações muito relacionadas a como os clientes, competidores e o mercado em geral podem perceber esta marca como inovadora. A adoção de novas tecnologias neste caso é, por vezes, utilizada em campanhas de marketing não diretamente associadas ao core de negócio da empresa, mas a ações mais pontuais, que visam gerar repercussão positiva em aspectos como:

● Engajamento dos usuários nas redes sociais;

● Geração espontânea de conteúdo vinculado à marca;

● Cobertura de canais de mídia e imprensa;

● Alavancagem com um perfil de público diferente do habitual.

Nesses casos, a tecnologia adotada vai cumprir um papel de demonstrar ao mercado que a marca é capaz de inovar, mesmo que essas ações tenham tempo determinado para acabar, assim como as campanhas que as criaram.

Executar ações que evoluam os modelos de negócio

Lideranças que buscam trazer inovação para seus processos de gestão e para os modelos de negócios de suas empresas, por vezes, vêem na adoção de tecnologias um atalho, como se esses elementos simbólicos trouxessem consigo automaticamente uma mudança de paradigma.

Assim como algumas empresas criam times de inovação, espaços coloridos com pufes e video-games, tantas outras empresas adotam a tecnologia como uma forma de transformação dos seus processos. Geralmente, essa adoção é guiada por fatores como:

● A hype de mercado em torno de determinados temas. Essas análises são pautadas com mais nível de detalhe por relatórios de mercados, como os famosos Quadrantes Mágicos, do Instituto Gartner.

● O comportamento dos competidores, que muitas vezes geram mídia em cima de ações de inovação, que geram reações internas na empresa com medo de ficar de fora dessa onda (inclusive, já incorporamos ao jargão da inovação a expressão Fear of Missing Out, ou FOMO para os mais chegados).

● Startups de diferentes segmentos, com seus modelos de ganho de escala, são também grandes influências para processos de adoção. Muitas vezes até mesmo esquecemos o fato de que essas startups abrem mão de receita, aceitam mais risco
e um break-even projetado em muitos anos, e queremos adotar modelos como os seus, para inovarmos.

● Pressão dos fornecedores, que buscam sempre trazer novidades, para maximizarem contratos e terem clientes que sejam “showcase” para o mercado.

Podemos incluir aí até mesmo os movimentos de inovação aberta, em que muitas empresas visam “se aproximar” de startups para acelerar seus negócios, por vezes, com uma visão de aquisição de tecnologia e não necessariamente de colaboração com o ecossistema.

Essa inovação é possível?

Para essa resposta ser sim, é importante que um elemento apareça em algum nível na gestão da inovação: a cultura. Mudanças estruturais impactam a cultura e são impactadas pela cultura. Sendo assim, quando se olha para a adoção de tecnologia como principal vetor de inovação, é importante se perguntar como a cultura existente na sua empresa influencia e responde a essa nova tecnologia.

Tecnologias como a Blockchain ganharam ampla repercussão de mercado nos últimos anos, muito devido aos grandes altos e baixos nas cotações das criptomoedas, mas, sem dúvidas, também pelos benefícios da transparência, segurança e escalabilidade que essa tecnologia proporciona para diversos segmentos da indústria. Porém, tecnologias como essa demandam que as empresas deixem de ver outros players do mercado como apenas competidores, pois eles podem naturalmente se tornar parceiros. É o caso da infraestrutura do Real Digital – ou Drex, como ficou conhecido o projeto -, em que várias instituições financeiras compartilharão o processamento dessas transações para colher os benefícios de um sistema mais eficiente e seguro.

Quando falamos sobre Big Data e Analytics, as possibilidades de analisar e conhecer seus consumidores geram nas empresas grandes oportunidades de alavancar novos produtos, modelar soluções para perfis mais específicos de clientes e também automatizar processos de tomada de decisão. Por outro lado, essa adoção cria desafios para a cultura corporativa, por evidenciar vieses inconscientes nos dados internos, ou por demandarem um posicionamento ético em relação aos dados processados, seja por riscos de ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), seja por não estarem alinhados com o posicionamento da marca.

E como não falar sobre a Inteligência Artificial e suas diversas soluções de mercado? Cada vez mais completas e complexas, especialmente no segmento de IA Generativa, elas preenchem, com base em seus dados, as nossas demandas por conteúdo ou os chamados prompts de comando. Qual criatividade esperamos de nossos colaboradores? Em que momentos vamos deparar os nossos usuários com bots ou conteúdos gerados por eles? Até que nível vamos aceitar o resultado gerado por uma IA como verdadeiro, sem uma dupla verificação? O que faremos quando algo der errado?

Perguntas como essas podem ajudar líderes a avaliarem seu processo de inovação, especialmente aqueles baseados em adoção de tecnologia. Isso porque trazem de volta o fator humano para a conversa, tanto no trato direto com seu público, quanto especialmente nos impactos que a cultura da companhia pode ter nessa estratégia, como diria Peter Drucker.

Eu, como profissional de tecnologia há mais de 20 anos e um dos fundadores da OnePercent – uma empresa de tecnologia -, sinto esse cenário na pele com muita frequência, pois nossas soluções de tecnologia são vistas muitas vezes como elementos chave na estratégia de inovação de nossos clientes. E destes, aqueles que tiveram maior sucesso na adoção de tecnologias de ponta, foram os
que conseguiram construir uma cultura de inovação em que as novas tecnologias harmonizam com outros elementos da estratégia, e não apenas resumem toda a estratégia.


Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Fausto Vanin

Fausto Vanin, agente da transformação digital. Atua em iniciativas que usam a tecnologia para mudar o contexto social em que vive. Possui mestrado em Informática Aplicada pela PUC-PR e certificação em Inovação e Estratégia pelo MIT Sloan School of Management. Em processo de doutoramento no uso de Blockchain na área da saúde pela Universidade do Vale dos Sinos, Co-fundador da OnePercent, empresa que desenvolve soluções com a tecnologia Blockchain e da Lanceiros, empresa de tecnologia formada por pessoas pretas e de periferia. Mentor, palestrante e ativista por causas de impacto social, ambiental em redução de desigualdades.

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