Silêncio

Me calei, fiquei imóvel e sem querer ser vista. Entrei dentro de uma concha e aqui estou, é como se tivesse encontrado a forma do meu corpo nela.

Fiz silêncio, arrumei a casa, desencaixotei roupas e louças. Vi nas paredes do meu novo lar uma tela em branco à espera das minhas cores. Me olhei no espelho tentando acessar minha alma através dos meus olhos.

É estranho, quando você sempre foi barulho e do nada vira silêncio.  

Vivi por anos com medo da solidão. Como o monstro que mora dentro do armário, sabe? Talvez alguns de vocês se identifiquem com o que conto aqui.

Inúmeras vezes buscamos externamente subterfúgios para nos alimentar de vida, quando na verdade estamos consumindo refeições rápidas e sem profundidade. O fato é que a gente só percebe que é corajoso até precisar ser.

Hoje entendo que estar preenchido vai além do que podemos tocar, estar preenchido vem da alma e do silêncio. Sim, silêncio! É no vazio que o novo nasce, que você enfrenta o elefante branco no meio da sala em uma noite fria, que se confronta e cria a própria identidade.

Entendi, que a mesma força que tem o poder de nos paralisar em algum momento nos tira da inércia.

Estar acompanhado de poucos e bons é delicioso, mas é covardia querer transferir a terceiros a responsabilidade de sermos felizes.

Lembram da solidão que me apavorou por anos? Hoje a encaro de frente, ela entendeu que quem manda aqui sou eu e que precisaremos lidar melhor uma com a outra quando necessário.

Sentada em meu tapete felpudo da sala, vejo no céu azul de uma segunda-feira um universo de infinitas possibilidades. Como uma criança que está aprendendo a andar de bicicleta sem as rodinhas eu vou seguindo, sei que tombos virão e com eles aquele frio na barriga que nos faz lembrar que estamos vivos.

Desejo estradas fascinantes no percurso, pessoas extraordinárias, experiências únicas… mas acima de tudo, desejo sempre ter a lucidez de lembrar o caminho de volta para a minha alma.