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Quem assistiu ao filme Seven — que tem sido o fio condutor desta sequência de textos — sabe que os pecados da inveja e da ira nos são apresentados ao mesmo tempo em um final surpreendente e desconcertante. Para quem ainda não assistiu, será poupado de mais spoilers. Me concentrarei em relatar como esses dois pecados podem ser ainda mais perigosos quando cometidos juntos.

            Inveja (Dicionário de sinônimos: ambição, apego, ciúme, cobiça, egoísmo)

            Ira (Dicionário de sinônimos: fúria, cólera, ódio, raiva, rancor)

Inveja e ira, apego e raiva, cobiça e rancor são combinações muito emblemáticas dos tempos atuais. Em polos opostos temos observado a velha e a nova economia em uma coexistência forçada, numa relação ambígua, tensa e conflituosa. Nubank, Netflix e Airbnb — em oposição aos bancos tradicionais, redes de TV e hotéis — são exemplos notórios de novos negócios que estão obrigando os velhos modelos a reavaliarem-se.

A história é conhecida: nos dedicamos arduamente a construir o nosso negócio. Durante anos estudamos, trabalhamos, lutamos para conquistar nossos clientes. Após tanto empenho, é compreensível que fiquemos apegados ao nosso próprio modelo, afinal, foi ele que nos levou ao sucesso. Então o tempo passa e novos entrantes surgem, mas com uma abordagem diferente, ameaçando tudo o que construímos. Imediatamente tornam-se alvo da nossa inveja e nossa ira.

Nunca o ambiente foi tão propício a novos empreendimentos, vide o crescente ecossistema global de startups. Algumas dessas empresas que começam pequenas podem acabar com mercados inteiros e inaugurar novos. Quando o Uber entrou nas grande cidades, observamos perplexos cenas de raiva e violência dos taxistas em relação aos motoristas do aplicativo. Aos primeiros clientes que aderiram à plataforma — como eu — era aconselhado que sentassem ao lado do condutor, e não atrás, para disfarçar. Assim não seriam alvos de agressão física. Vimos diante de nossos olhos um exemplo concreto da reação do velho contra o novo. Por muitos anos a população estava insatisfeita com os serviços oferecidos pelos táxis. Porém, esse descontentamento era constantemente ignorado. Quando um novo player veio para solucionar o problema de mobilidade acrescido de um serviço de qualidade, houve adesão em massa da população (é fato que, de lá para cá, o Uber decaiu muito em relação a qualidade, mas esse já é assunto para um novo artigo). Os táxis optaram por ficar estagnados em seu modelo e foram atropelados. Ressalto que essa foi uma opção. Se os serviços oferecidos pelos táxis fossem realmente bons, a barreira de entrada teria sido maior. Essa é uma reflexão  importante: todos temos opções, mas será que estamos ouvindo o nosso cliente? É ele que deve estar no centro de tudo. Se conseguirmos partir da sua real necessidade e surpreendê-lo com novas e gratificantes experiências, teremos muito mais chances de conquistá-lo e fidelizá-lo e, assim, criar um forte barreira à concorrência.

“Cultivar novas ideias não é tão difícil. Difícil é livrar-se das velhas”. — Essa conhecida frase de John Maynard Keynes — considerado o pai da macroeconomia mundial — foi dita no início do século passado, muito antes da revolução digital. Ou seja, parece que é inerente à nossa natureza nos apegarmos ao que é conhecido. Por mais que desejemos o novo, o velho parece estar tão enraizado que acaba por nos imobilizar. Tenho observado empresas que estão nesse momento de impasse, oscilando entre tomar uma atitude ou permanecer como estão, como num jogo de tabuleiro: avance três casas, retroceda duas, fique uma partida sem jogar. E assim o tempo passa e pouca coisa muda.

Todo empreendimento nasce de uma necessidade (inclusive o seu). Hotéis, bancos e táxis seguem existindo, mas estão precisando se reinventar. Estão sendo forçados a se reavaliarem para qualificar seus serviços. Ou seja, o foco está no cliente. Revisar seu modelo, sair da zona de conforto e adotar novas práticas é possível. Se a inveja e a ira em relação à concorrência são sentimentos que vêm lhe trazendo um crescente desconforto, é sinal de que chegou a hora de você fazer alguma coisa. Tente canalizar as energias para entender a origem deste incômodo e aprimorar seu negócio. “O que este novo entrante está fazendo de tão arrebatador? Onde está a minha falha? Onde posso melhorar? E se o novo puder ser meu aliado e não meu inimigo?” são perguntas bastante oportunas. Comece entendendo suas próprias dores, depois mapeie seu cenário, planeje suas ações e, principalmente, as execute. Depois de tudo, faça uma avaliação. Quem sabe você não se surpreenderá sendo o alvo da ira e inveja dos demais?

E com isso chegamos ao final desta série dos sete pecados capitais: Gula, Avareza, Preguiça, Luxúria, Soberba, Inveja e Ira. Poderíamos ainda discorrer muito mais sobre eles e seus impactos nos negócios. Se você tiver algum exemplo que achar pertinente, pode me enviar, podemos voltar ao tema em novas oportunidades. No filme Seven, os protagonistas percorreram todos os pecados e saíram irremediavelmente transformados. Espero que a sua transformação também aconteça: comece agora, escreva seu próprio roteiro e dirija suas próprias cenas para que, mesmo com os obstáculos do caminho, você construa uma bela história com final feliz.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Polydoro

Diretora da Hypervisual Design de Interação, possui formação em Publicidade e MBA em Marketing pela FGV. Consultora do SEBRAE-RS, integrou a primeira diretoria da APDesign/RS, foi idealizadora do Grupo de Usuários em UI/UX da SUCESU-RS (GUIX) onde atualmente é Diretora de Grupos de Negócios. É também Vice-Presidente de Comunicação da Assespro-RS e articulista do Portal da Revista Amanhã — veículo especializado em economia e negócios da região sul.

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