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Alguns dias atrás caminhando pela Av. Paulista, vi um senhor vendendo Cubos Mágicos (também conhecido como Rubik´s Cube) e, como um bom colecionador, parei e comprei um que ainda não tinha. Ao colocar o novo puzzle em minha estante fiquei pensando sobre o que me motiva a ter esta coleção. Colecionar um brinquedo dos anos 80 nos digitais dias de hoje não é algo que faça muito sentido.

Então  cheguei a conclusão de que (além de eu achar esteticamente bonito) está muito ligado com uma das minhas maiores paixões da vida inteira, resolver problemas. Eu era aquela criança que adorava um desafio de raciocínio lógico, uma charada, um quebra-cabeças, um mistério, um bom problema para resolver e acredito que esta paixão teve um impacto positivo no enfrentamento dos desafios que encontrei em meu caminho.

Desta reflexão, surgiram diversos paralelos e aprendizados que compartilho com vocês neste texto. Tentei fugir das analogias clichês mais óbvias para traçar paralelos que realmente obtive com o cubo e que consigo aplicar em outras camadas de minha vida.

O próprio criador do cubo, o senhor Ernő Rubik acreditava nas analogias epistemológicas que conseguimos traçar a partir das análises do puzzle:

“The Cube is very much about understanding the complexity of our world. In some areas, like group theory or combinatorics, this link is very specific and direct. In other realms it is indeed more metaphorical: how to think about problem-solving. What is it about human nature that allows for the luxury of spending so much time and energy figuring out a seemingly impossible challenge, when the reward is nothing more than the solution itself?

Compartilho então com vocês os 3 “dicas” de problem solving advindas desta reflexão:

1 – Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes

Esta frase célebre frase de Isaac Newton popularizou o conceito atribuído a Bernardo de Chartres e ilustra muito bem um dos principais aprendizados que tive ao longo de minha jornada com o cubo. Em suma, ela reforça que temos muito conhecimento já estabelecido, estruturado e difundido na história da humanidade e que, é um desperdício de tempo e energia não se aproveitar disso.

Quando você pega um cubo pela primeira vez, você tem a sensação de que é uma tarefa impossível. São tantas variáveis..é um caos tão grande que não conseguimos encontrar um sentido… tentamos movimentar o cubo aleatoriamente e a cada movimento feito, mais caos é gerado.

Passei por essa sensação e por alguns anos, eu desistia algum tempo depois de sucessivas falhas. Pois bem, em 2013 eu aprendi que já existe um (na verdade bem mais de um) método estabelecido, padronizado e organizado para resolver o cubo. E, após aprender o método, a tarefa de montar o cubo se torna simples e banal. Ao ponto de me sentir um palhaço por tanto tempo jogado fora nas tentativas empíricas. Eu sei que parte da brincadeira é tentar aprender por conta e achar as respostas, mas se o objetivo claro traçado é conseguir montar (ao menos era o meu objetivo), já existe uma forma estruturada e validada  para aplicar.

E quantas vezes ao nos depararmos com um problema em nosso trabalho ou em nossa vida cotidiana tentamos resolver sozinhos com uma certa arrogância ao invés de parar e pesquisar quem já passou por aquilo no passado.

Quem fez? Como fez? Quais lições aprendidas já existem sobre este assunto?

Vamos partir de onde outros pararam e não recomeçar a corrida do zero. Você não imagina quanto tempo vai economizar se tiver isso em mente.

Uma ressalva se faz necessária sobre este conceito:

Se basear em conhecimentos existentes não pode ser um fator limitante. Existe a chance de nos prendermos em grilhões se não consideramos este conhecimento apenas como ponto de partida/atalho.  A partir do conhecimento validado e conhecido, que brilhe a inovação e a criatividade para que a evolução possa ocorrer.

Ainda sobre a frase de Newton, eu também gosto de uma outra visão que está relacionada a me inspirar e me espelhar nos melhores sobre determinada disciplina, mas isso é assunto para um outro texto.

2 – Contexto, perspectiva e a escolha do método adequado

Praticamente todas as pessoas (eu incluso) que começam a tentar montar o cubo, tentam a mesma abordagem: tentar montar ao menos 1 dos 6 lados. Parece lógico, monto um lado e depois me preocupo com os outros. Parece uma tarefa atingível, um caminho mais fácil, então tentamos como em um alento para o nosso ego que nos diz: Consegui, ao menos essa etapa! Ledo engano. Ao fazer isso você praticamente acaba com as suas chances de completar os 6 lados, pois uma hora ou outra você irá acabar estragando o lado já montado na tentativa de completar o próximo. Existe uma sequência certa e não óbvia a seguir, uma ordem permite com que, apenas nos movimentos finais, você veja as cores se organizando.

Existe um certo padrão, ao menos nas etapas iniciais dos modelos de resolução de problemas complexos:

  1. Entender de forma clara o problema e o objetivo
  2. Começar pequeno/decompor o problema em partes menores

O modelo que eu sigo para resolver um cubo segue estes passos basilares. Primeiro eu monto uma “cruz” de alguma cor, depois as peças das duas camadas laterais e por último a última camada. Com um par de sequências pré-estabelecidas de movimentos, em pouco tempo o cubo está certinho. O objetivo é claro: montar as cores corretamente. E são passos pequenos, fáceis de aprender e repetir.

Mas aqui entra o meu alerta, assim como para o cubo, existem milhares de frameworks e abordagens para a resolução de problemas de forma geral (problemas pessoas, business, etc), tentando codificar e padronizar o processo de entendimento do problema, resolução e aprendizado. Basta dar um google e você receberá uma enxurrada de modelos e teorias sobre o tema. E cada um defende seu modelo como sendo o “definitivo” aplicável ao máximo de caso de usos possível, excluindo assim toda uma gama de novas possibilidades que podemos encontrar. Se eu tentar, por exemplo, aplicar uma abordagem determinística e padronizada em um modelo que não é repetível e com muitas variáveis em aberto, não vai funcionar (desculpem coaches de vendas com seus passo a passo milagrosos).

Gosto muito do framework Cynefin, desenvolvido por Dave Snowden como uma ferramenta de “sense making” e nos mostra de uma forma simples que:

Em situações e ambientes Claros/Simples/óbvios podemos usar as melhores práticas, pois sabemos que se fizermos “A” o resultado será “B”, existindo uma relação direta entre a causa e o efeito.

Agora a coisa muda de figura em ambientes complicados, complexos ou ainda mais  em ambientes caóticos onde não existe uma relação perceptível entre causa e efeito e o melhor que temos a fazer é agir, dar um primeiro passo, para sentir os resultados e trazer um pouco de ordem.

Existe muita, mas muita informação sobre o tema na internet. Vale a pena dar uma pesquisada.

É importante estudar diversos modelos de resolução de problemas e expandir o seu toolkit de conhecimentos aplicáveis. Mas é tão importante quanto conhecer o modelo, saber identificar em qual contexto ele se aplica, em que tipo de situação ele irá gerar os resultados esperados e em quais tipos de situação ele não se aplica.

3Qualidade da fonte

Normalmente o primeiro contato que a maioria das pessoas tem com cubos são aqueles de qualidade bem duvidosa, que por serem mais baratos, são dados de presente às crianças. A qualidade é tão ruim que você gasta toda sua energia tentando fazer apenas um giro naquele truncado pedaço de plástico. Isso desestimula qualquer interesse da criança e logo o cubo vira um objeto jogado no fundo do baú. Cubos de qualidade são feitos para girar fácil e com velocidade. Alguns possuem até imãs nas laterais para facilitar a movimentação…sendo assim, é fácil perceber o quão inúteis são esses cubos (de R$5, R$10) e a diferença que faz um material base de qualidade (pelo amor né, invista em um cubo um pouquiiiiinho melhor para o seu filho, faz toda a diferença).

Considerando que a resolução do cubo se torna algo tão banal após o aprendizado, ele não pode ser considerado como um jogo de lógica (como muitos pensam), mas sim um jogo de velocidade. Os campeonatos existentes (sim, existe campeonato disso :p ) é voltado para saber quem monta o cubo mais rápido. Eu monto o cubo em +- 1 minuto, no passado quando estava empenhado em treinar montava em menos de 30 segundos, mas isso é extremamente lento para os top performers que montam em menos de 10 segundos ou o para o atual recorde de 4.69 segundos do Yiheng Wang. O estudo de alto nível do esporte é baseado em algoritmos avançados de resolução e movimentação das mãos, nada a ver com QI ou lógica, é puramente execução mecânica de padrões.

A qualidade importa.

A qualidade dos seus dados/fontes/bases importa.

Não importa quão boa sua capacidade de análise se seus dados são um lixo.

Não importa a sua capacidade cognitiva se a sua fonte de informações são mensagens de whatsapp de origem duvidosa que convenientemente corroboram com a sua opinião.

Vá um pouco além da superfície, se cerque de informação relevante, histórica, contextual e confiável para estabelecer as bases da sua tomada de decisão na resolução de problemas.

“It’s a capital mistake to theorize before one has data

Sir Arthur Conan Doyle

Você enfrentará muitos problemas durante a sua vida inteira. Eles nunca cessam. Em sua vida profissional, em sua vida social, em sua vida financeira, amorosa, familiar e em todos os outros contextos que você possa imaginar. Sendo assim, entender a magnitude do tema e não refletir sobre como melhorar neste quesito é abrir mão de uma habilidade extremamente requisitada em nossas vidas.

Mas Felipe, a vida possui problemas importantes, que absurdo comparar com um simples brinquedo.

Ah, se você soubesse a riqueza das lições e reflexões que concluímos através de analogias comuns e mundanas você não pensaria assim. Não se leve tão a sério. O simples exercício de uma reflexão criativa pode te trazer insights e significados que te ajudam a entender melhor o caos que nos cerca.

E simples ele não é, um Rubik’s Cube 3×3 possui 43,252,003,274,489,856,000 (sim, eu não inventei, esse é o número).

Assim como em um cubo, nossos problemas podem aparecer de diferentes tamanhos, cores, formas e níveis de dificuldade. A cada escolha você pode estar botando tudo a perder se não souber o que está fazendo.. Então eu espero que as dicas e reflexões deste texto te ajudem a movimentar as peças de sua jornada na direção correta e que as cores de sua vida se encaixem!

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Felipe Neto

Apaixonado por Inovação, Música e filosofia sou um entusiasta de ideias inspiradoras e reflexões que levem ao desenvolvimento do indivíduo e sociedade. Formado em Administração e pós graduado em Gestão de Negócios, atuo com Tecnologia e Inovação desde 2011, tendo atuado como Gestor de P&D, Inovação e Consultor de negócios.

Um comentário

  • Mônica Ilha Albornoz disse:

    Maravilhoso texto e de um aprendizado incrível. Inteligentissimo. Orgulho meu filho! Te amo!

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