Se você está neste site, você possivelmente gosta de mudanças, simpatiza pelo dinâmico ou ao menos tem interesse em novas formas de ver a vida, novas perspectivas instigadoras que sirvam como ponte entre o “você” atual e a sua melhor versão.
Pois bem, neste texto vou compartilhar uma experiência transformadora que tive e que definiu de muitas formas o que seria o meu futuro a partir dali. Minha ideia não é que você concorde com todos os conceitos que serão abordados aqui, mas sim que leia com atenção (coisa tão rara de se ver nos dias de hoje!) e se permita refletir, concordar, discordar e absorver além da superfície no mais nobre exercício que existe: pensar.
Mas antes de abordar o impacto do Objetivismo em minha vida vou explicar, de forma resumida, no que consiste esta filosofia e seus principais conceitos:
O que é o Objetivismo?
O Objetivismo é uma filosofia criada pela autora Ayn Rand (1905 – 1982) e é descrita por ela como “uma filosofia para viver na terra” mas o que isso significa?
Em suma, é uma filosofia que defende que o homem deve ter a sua própria felicidade como o propósito moral da sua vida, com a realização produtiva como a sua atividade mais nobre e a razão como o seu único absoluto.
Dividindo em 3 das diferentes áreas da filosofia:
Metafísica (interpretação do mundo, natureza, realidade): Rand defende que a realidade existe, é objetiva (daí o nome da filosofia, em oposição a uma visão subjetiva, irreal, ilusória, sobrenatural do mundo).
A realidade é o que ela é e não o que você gostaria que ela fosse.
Epistemologia (sobre o conhecimento, como aprendemos e compreendemos):Razão como a nossa única ferramenta para o conhecimento. Nossa visão racional deve ser a base para o entendimento da existência lutando contra contradições irracionais que nos distanciam da realidade.
Você não pode comer um pedaço de bolo e querer que o bolo ainda esteja inteiro.
Ética (como devemos agir e os valores do indivíduo):Self Interest – O Objetivismo defende que o homem é um fim em si mesmo e não um meio para o fim dos outros. Que cada indivíduo tem o direito e a responsabilidade de buscar a sua felicidade, sendo este o propósito moral mais elevado de sua vida, não se sacrificando pelos outros e nem deixando os outros se sacrificarem por ele.
“Para viver, o homem deve considerar três coisas como valores supremos e dominantes de sua vida: Razão – Propósito – Auto-estima. Razão, como sua única ferramenta de conhecimento – Propósito, como sua escolha pela felicidade que essa ferramenta deve prosseguir para alcançar – Auto-estima, como sua certeza inviolável de que sua mente é competente para pensar e sua pessoa é digna de felicidade, o que significa : é digno de viver.”
Ayn Rand
Como o Objetivismo mudou a minha vida?
Meu primeiro contato com o Objetivismo foi em 2013 através do livro “A Revolta de Atlas”, livro que, aliás, é até hoje o meu livro favorito. É o livro que eu recomendo e o livro que eu normalmente dou de presente aos meus amigos.
A Revolta de Atlas é um livro de ficção, um romance distópico que ilustra toda a filosofia do Objetivismo de forma clara e didática (muitas vezes inclusive de forma exagerada/caricata, ao ponto que você notar muito bem que o objetivo da autora era ilustrar os princípios objetivistas e não apenas fazer uma ficção).
Já no término da primeira vez que o li, minha mente explodiu em um peculiar misto de novos conceitos com ideias que eu já tinha mas que estavam “nubladas” em minha mente.
A partir dali, posso citar alguns dos impactos transformadores que o Objetivismo trouxe:
Descarte da irracionalidade
Eu nunca lidei bem com a irracionalidade, então este não foi um conceito necessariamente novo, mas o que me transformou foi a forma estruturada com que eu pude entender e aceitar a realidade, finalmente tirando o peso da irracionalidade das minhas costas.
Eu observo que a grande maioria dos problemas surgem quando nos afastamos da realidade objetiva, quando fugimos da realidade para nos preocuparmos e sofrermos com algo que não aconteceu, que não é realmente um fato ou baseado no aqui e agora.
A partir daí encaro minhas preocupações e problemas tentando me ater aos fatos (digo tentando pois eu sei que não é fácil, nossa mente é ardilosa em tentar nos enganar com mundos e preocupações fictícias).
Além dessa camada de preocupações que eliminei de minha vida, a minha tomada de decisões se tornou muito mais clara e confiante, pois se você tirar toda a sujeira e distorção de fugas da realidade de sua estrada os caminhos serão muito mais claros. Quando você sabe o que você quer, sabe o porquê quer, sabe o que fazer para chegar lá… é só ir.
Porém caberá a você ir… trilhar o caminho, conquistar.
Assim você também entende quando escolhe não fazer e deve aceitar as consequências disso (acredite, esta é a parte mais difícil) a nossa capacidade de autossabotagem é enorme, principalmente quando não percebemos e atribuímos a culpa aos outros.
“You can avoid reality, but you cannot avoid the consequences of avoiding reality.”
Você pode evitar a realidade, mas não pode evitar as consequências de evitar a realidade.
Definição de valores/autoconhecimento
Como uma consequência de entender o valor da razão como a sua ferramenta para o entendimento da realidade e busca pela felicidade, você começa a achar uma monstruosidade imoral e antinatural o ato de “não pensar”, de não refletir, de não usar aquilo que você tem de mais precioso. E você se dá conta que para agir de acordo com seu racional você precisa se conhecer. Sim, voltamos ao clichê filosófico mais repetido (e esquecido/menosprezado) da história: conhece-te a ti mesmo.
No tópico anterior eu citei: o que você quer, e o porquê quer…
E como fazer isso sem uma profunda reflexão sobre si mesmo?
Vamos lá..
Quais são os seus valores?
O que/quem você admira?
O que você quer?
O que você não quer?
A quantidade de pessoas que responde com um “não sei” para as questões acima são enormes… e o mais triste é saber que as pessoas não veem isso como um problema. Você vai viver com você mesmo toda a sua vida, sua individualidade é o mais importante que tem. Como você pode querer tomar as decisões corretas se não tem a base de autoconhecimento estruturada para chegar lá?
No meu caso, essa percepção resultou em intensos e diários momentos de reflexão sobre mim mesmo (que duram até hoje e vão durar para sempre). Sempre que eu não sei algo sobre mim mesmo isso me incomoda a um ponto que isso vira prioridade para mim.
Responsabilidade por minha felicidade
Quando você entende que você é o único responsável pela sua felicidade, entende que não deve nada a ninguém mas que ninguém deve nada a você também, você começa a encarar a vida de outra forma.
Você descarta elogios e favores não merecidos ao mesmo tempo que age para merecê-los.
Você para de culpar os outros e se colocar no papel de vítima ao mesmo tempo que se coloca como protagonista de sua vida.
Você entende que exige esforço para chegar aonde você quer chegar.
Quando você não espera nada de ninguém, você se decepciona menos e se surpreende mais.
Juntando os tópicos que falamos até aqui: Se eu me conheço para saber o que quero, se eu penso racionalmente para chegar à conclusão de como chegar lá e sei que é responsabilidade minha, eu vou atrás. Isso não quer dizer que eu não vá encontrar diversidades, isso não quer dizer que será justo, isso não quer dizer que será fácil, isso não quer nem dizer que vai dar certo (o universo não me deve nada, lembra?) mas eu estou fazendo a minha parte, dando o melhor de mim com o que eu tiver, dentro das adversidades que surgirem.. e o motivo? saber que a minha felicidade é minha responsabilidade.
Para ilustrar com um exemplo: eu tento tocar guitarra, estudo guitarra desde a minha adolescência porque amo música e me expressar através da música. Estudo música para que a minha técnica não seja limitante em minha expressão artística. A quantidade de horas que eu gastei em minha vida estudando música, errando, aprendendo, me esforçando, falhando, acertando, melhorando é enorme… mas não são raras as vezes que as pessoas chegam até mim e dizem:
- Nossa eu adoraria tocar guitarra que nem você…mas não tenho o dom. (??)
Isso vale para tantos outros exemplos de gente desejando ser “fit” mas não botando os pés na academia, gente querendo saber de um assunto mas não abrindo um livro, achando que um post aleatório de redes sociais já te torna especialista em algo, gente querendo e querendo mas não fazendo.
Lembre-se, a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que ela fosse.
Ou, como diria o único filósofo que Ayn Rand admite inspiração – Aristóteles, A é A.
Devido valor ao dinheiro
No Livro A Revolta de Atlas existe um personagem chamado “Francisco d’Anconia” e em certa parte do livro ele dá um discurso sobre dinheiro que é lindo. Junto com outros discursos que aparecem neste livro, você ressignifica e entende que o dinheiro não é o vilão. Que o dinheiro é um meio, uma ferramenta, é a forma que achamos para prosperar, pois sem ele o que nos resta é o uso da força bruta.
Mais do que a falta de educação financeira, somos ensinados a demonizar o dinheiro.
As pessoas têm vergonha de falar sobre o assunto, de pensar no assunto, de entender o assunto. É um tema proibido, julgado e muito, mas muito mal interpretado.
Se eu entendi o tópico anterior, eu devo também entender que é minha responsabilidade construir a minha estabilidade/prosperidade financeira sem depender de nada ou ninguém. Novamente, isso não tem nada a ver com justiça, nem com garantia de sucesso (fuja dos coachs financeiros que prometem prosperidade financeira de forma fácil e garantida). Não funciona dessa forma, para a maioria das pessoas (infelizmente) o caminho é árduo, longo, cheio de altos e baixos e sem garantia nenhuma. MAS não fuja do assunto, não fuja de buscar conhecimento, de se planejar, de buscar oportunidades, não tenha vergonha de ser ambicioso, se prepare para imprevistos (eles sempre acontecem), não gaste o que não tem e vá atrás. Entenda que este tópico pode te proporcionar uma liberdade ímpar para todos seus outros objetivos e o melhor caminho é buscar ser um maker ao invés de um taker.
É ver a beleza na produção da mente humana, de sua razão aplicada, de sua capacidade criativa a fim de gerar valor e ser remunerado por isso assim como achar triste quando isso não acontece.
So you think that money is the root of all evil? . . . Have you ever asked what is the root of money? Money is a tool of exchange, which can’t exist unless there are goods produced and men able to produce them. Money is the material shape of the principle that men who wish to deal with one another must deal by trade and give value for value. Money is not the tool of the moochers, who claim your product by tears, or of the looters, who take it from you by force.
A Revolta de Atlas
Então você acha que o dinheiro é a raiz de todos os males? . . . Você já se perguntou qual é a raiz do dinheiro? O dinheiro é uma ferramenta de troca que não pode existir a menos que haja bens produzidos e homens capazes de produzi-los. O dinheiro é a forma material do princípio de que os homens que desejam negociar uns com os outros devem negociar através do comércio e dar valor por valor. O dinheiro não é a ferramenta dos saqueadores, que reivindicam o seu produto com lágrimas, ou dos saqueadores, que o tiram de você à força.
Respeitar a minha Individualidade
O último exemplo de impacto que vou citar é possivelmente o que teve maior ação transformacional em minha vida e um dos mais difíceis de botar em prática. Para explicar melhor, é impossível eu não citar a minha frase favorita, figurinha carimbada já em meus textos aqui no DM:
I swear by my life and my love of it that I will never live for the sake of another man, nor ask another man to live for mine.
Juro pela minha vida e pelo meu amor por ela que nunca viverei pelo bem de outro homem, nem pedirei a outro homem que viva pelo meu.
Esta frase teve um efeito tão poderoso em mim que redefiniu aspectos em todas as perspectivas de minha vida.
Eu não posso viver os problemas e conquistas de outras pessoas como se fossem meus.
Assim como eu não posso deixar que outras pessoas interfiram em minha vida, decidam por mim, vivam por mim.
Quem decide as coisas em minha vida sou eu. Quem aceita as consequências dessas decisões sou eu. Não sacrifico a liberdade de ser o único dono desse poder de escolha.
Faz parte de minha busca individual tentar alcançar meu máximo potencial e assim ser o melhor que puder para aqueles que valorizo…sim, pois o conceito de respeitar a sua individualidade é muitas vezes confundido com não se importar com os outros, o que é um erro. Se eu te valorizo, se eu te admiro, baseado no que já expliquei em outros tópicos eu me dedico a você. Agora isso passa longe de um altruísmo indiscriminado, pois amar a todos é não amar ninguém.
Uma pequena e poderosa frase de Rand é:
‘To Love is to Value.’
Ou seja, amar é valorizar. Admirar. Amar baseado em nada é mais do que um devaneio, é imoral.
Uma outra frase complementar a esta é:
‘To say ‘I love you’ one must first know how to say the ‘I.’
Ou seja, para construir um amor, um carinho, uma amizade, uma dedicação.. você deve antes SE conhecer, para saber o que valoriza e a partir daí construir o seu entorno.
Outro ponto de virada neste sentido é a imposição do respeito em relação aos limites de quem é você e quem são os outros.
É erguer a cabeça de dizer que suas escolhas são suas e ninguém deve se intrometer.
Que a sua vida é sua para as coisas boas ou ruins.
Fazer valer este respeito, não ceder para as pressões das pessoas que insistentemente tentam viver a vida alheia exige um auto policiamento constante em nossa vida.
Assim como o inverso de cuidarmos para não tentarmos viver a vida de outra pessoa. Respeitar o espaço do outro, as decisões alheias, as consequências e os caminhos que cada um toma é essencial.
Exija respeito pelo seu caminho.
Respeite o caminho do outro com a mesma intensidade.
Sei que ao ler isso você deve estar pensando, mas eu faço ambos! Respeito os outros e quero que me respeitem…acredite, você não faz.
Ao menos 99% das pessoas que eu conheço, não fazem.
É uma reflexão constante que demanda um nível de consciência altíssimo para chegar lá. E é por isso que tenho um quadro com esta frase na cabeceira da minha cama.
É um lembrete diário para todos os dias que acordo.
É um juramento e um guia moral para o que acredito.
Arquivo pessoal do autor
Conclusões
Se você chegou até aqui, muito obrigado pela leitura.
Se você já tinha ouvido falar dela, vai notar que eu (propositalmente) não entrei em dois temas que são os comumente discutidos quando ela está em pauta: Economia e Política.
E eu não entrei nestes assuntos por dois motivos:
- Acredito que as pessoas deveriam estar muito mais interessadas nas discussões sobre o indivíduo antes de se preocuparem com itens mais amplos. Como querem resolver a sociedade se não resolveram o básico do indivíduo? Gosto da filosofia (não só o objetivismo) como uma ferramenta de estudo individual de quem somos e como viver da melhor forma, primeiramente em um nível individual para, daí sim, partir para discussões em sociedade. Para ser sincero, tenho até uma tristeza em ver quem conhece Rand (seja admirador ou hater) que as discussões se resumem a uma bipolarização política e econômica e por causa disso se percam discussões riquíssimas que poderiam existir na esfera do indivíduo e seus valores.
- Opinião pessoal (e sincera) do autor: Discutir economia e política é muito chato, principalmente nos dias de hoje neste mundo de redes sociais que desaprendeu a argumentar, interpretar e respeitar. Eu sei da importância do tema, mas meus olhos brilham para discussões sobre o indivíduo, sua mente, seu comportamento… se você quer discussões sobre política e economia certamente achará gente mais qualificada e com maior conhecimento que eu!
Se você nunca tinha ouvido falar sobre Ayn Rand e Objetivismo, espero que este texto lhe instigue a procurar mais sobre o assunto. Existem livros dela com preços acessíveis, é só dar uma pesquisada que você possivelmente achará alguma promoção bem em conta.
Também existem muitos vídeos dela mesma palestrando e sendo entrevistada, assim como conteúdo gerado de outras pessoas sobre ela.
Um último comentário,
Fuja das pessoas que a idolatram a um nível quase “místico” pois perdem a essência de sua filosofia em manter os questionamentos e a sua individualidade/ razão.
Fuja também das pessoas que a odeiam apenas no efeito manada, sem argumentos ou conhecimento.
Eu mesmo, apesar de ser um fã declarado dela, de sua obra, de sua filosofia, de suas conquistas, de sua inteligência… não concordo com 100% com suas afirmações e cada vez mais me sinto instigado a conhecer outros caminhos do conhecimento como o poder do inconsciente e da intuição, porém é um fato que ela e seu objetivismo mudaram a minha vida e, com certeza, para melhor.
Arquivo pessoal do autor