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Ter ouvidos não é o suficiente para escutar.

Uma das habilidades mais críticas, hoje, na comunicação entre seres humanos é a escuta ativa. Se desejamos construir novas conexões, negócios, resolver problemas, mudar processos e aprender novas competências precisamos compreender a mensagem que recebemos.

É preciso ficar em silêncio enquanto o pensamento do outro é construído e o nosso se coloca a disposição para recepcioná-lo.

Já imaginaram um advogado que precisa resolver a causa do cliente se este não o escutasse atentamente? Como isso seria possível se desconhece fatos e as motivações do problema? O que dizer dos resultados clínicos de um psicólogo e/ou do psiquiatra que não desse espaço de escuta aos seus pacientes?

São exemplos óbvios de construções comunicativas inerentes ao sucesso da própria profissão. Mas sabemos que, para a maioria das pessoas, a vida nos reserva poucos momentos para exercitarmos esta habilidade. Preponderantemente, gostamos de falar, mas não de ouvir.

Quantos ofertas de cursos de oratória já recebemos?

E quantos cursos de “escutatória” você já fez?  Provavelmente nunca ouviu falar de algum, pois fomos treinados e forjados, durante nossa existência, a desenvolver qualidades de fala, mas pouca de escuta.

Parece que a única habilidade que importa, dentro da arrogância inadequada do ser humano, é de se destacar, individualmente, tomando o tempo dos demais para si, recitando suas infinitas opiniões, pois, somos bem mais interessantes do que os outros, correto? É uma visão míope, mas comum.

Para tudo existe um tempo.

Existe o tempo de fala, mas existe, principalmente, o tempo de escuta.

Avaliem o mundo corporativo atual.

Quem nunca participou de uma reunião, que supostamente, era para alinhamento interno, convocado pelo chefe da área para resolver problemas em que este é o responsável direto por ajustá-los e onde somente este monopolizou a palavra? Como realizar ajustes importantes sem ouvir o que os seus liderados também tinham a dizer ou contribuir? É o líder que não quer consenso, mas quer impor atitudes através da sua particular visão.

E aquelas reuniões, em que alguns, para demonstrar que não tem propriedade sobre um tema tergiversam, insistentemente, usando a sua voz, sem parar, para garantir que não sejam questionados por algo que deixaram ou não sabiam como fazer? Ao falar insistentemente podemos esconder nossos defeitos ou incompetências, porque não desejamos ouvir um retorno sincero sobre nosso verdadeiro desempenho.

Já imaginaram um Conselho de Administração onde apenas o CEO e/ou os executivos falassem, sem que tivessem tempo de ouvir o que os conselheiros têm a dizer sobre os resultados e os indicadores que foram apresentados? Qual seria a importância e relevância de um Conselho onde os executivos que lideram e tocam o negócio não os ouvissem?

Quantos eventos ou palestras participamos em que o protagonista nunca consegue terminar a sua fala, dentro do tempo acordado e indicado desde o momento inicial? Para ele, falar é mais importante do que transmitir a essência do conteúdo para o qual foi convidado. Isso só revela sua ineficácia em gerir tempo, expectativa e alinhamento com o seu público. Ele mesmo se prejudica. Quem presta atenção, na fala, quando o palestrante lê os seus slides, com todas as suas linhas, até o final?

Em outros momentos, por exemplo, em reuniões de planejamento estratégico de organizações, quando um colega faz suas considerações, muitas vezes, iniciais, sempre tem alguém que não aguenta o que o outro tem a dizer, sem dar um palpite por algo que ele considera muito melhor, como se fosse um “engenheiro de obra feita”. Como se aquilo necessitasse, obrigatoriamente, ser complementado e dito naquele momento e que é muito melhor, do que o colega estava dizendo. Além de ser inapropriado este tipo de intervenção, para aquele momento, é totalmente desrespeitoso e inadequado. Infelizmente, só quem não percebeu isso é aquele que fez a interrupção.

Infelizmente, no mundo atual, mais digital do que nunca, não estamos melhorando, aparentemente, a nossa escuta. Basta alguém postar um conteúdo diferenciado, um artigo, por exemplo, em uma rede social, que já surgem comentários, interpretações e julgamentos sem que haja um nível de profundidade e interpretação no mesmo nível de dedicação daquele que o criou. Sim, a escuta, propriamente dita, também vale para conteúdo escrito. Quem consegue sintetizar, em até 1 minuto de fala, o último livro ou artigo que leu?

Escutar é uma arte e uma habilidade muito valiosa para um futuro cada vez mais automatizado.

No mundo dos vídeos e da própria educação online, um conteúdo com mais de 3 ou 4 minutos se torna desprezível pelo suposto ouvinte. Uma mensagem no whatsapp, de áudio, com mais de 1 minuto se torna quase descartável. O receptor não quer conteúdo, ele quer o resumo.

Dizem estes ouvintes que não há tempo a perder na vida e o próprio vídeo ou mensagem de voz então é acelerada. Alunos, cursando ensino a distância, já assistem aulas gravadas com velocidade duplicada.

Interessante é que o nosso cérebro não absorve conhecimento instantâneo. Não é como fazer um macarrão em 3 minutos. O processo de apropriação do conhecimento de um ser humano requer o silêncio e pausas, pois o cérebro precisa de um tempo para decifrar a mensagem, compreendê-la, fazer filtro e gerar o respectivo acúmulo e retenção para uso posterior.

Não é exatamente o que os novos tempos e novos hábitos de aprendizagem estão demonstrando. Muitos pesquisadores dizem que esta aceleração dos vídeos ou conteúdos gravados não compromete, significativamente, o processo de aprendizado. Sim, mas talvez, seja porque o conteúdo acelerado é tão irrelevante para aquela formação que o comprometimento não seja tão incisivo. Talvez, em breve, entendamos melhor estas consequências. Certamente, este novo aspecto comportamental e cognitivo muda a forma como a educação ou seus modelos de negócios derivados serão concebidos em um futuro imediato.

O mundo dos vídeos curtos está aí. A era dos livros parece fadada a um passado romântico.

Muitos diriam: “Eu não ajo assim. Sempre que alguém fala, eu espero a pessoa terminar para que eu fale”. Mas se você estiver pensando, enquanto o outro fala, no que vai dizer, isso também não é ouvir.

Escutar é silenciar e controlar o seu interior. É a capacidade de se concentrar completamente em um orador, entender sua mensagem, compreender as informações recebidas e responder com atenção o que o seu interlocutor espera. É exercitar empatia com o outro. Respeitar quem lhe confiou o seu tempo.

Ouvintes atentos usam técnicas que demonstram sua atenção ao falante. É o semblante do rosto, é o enquadramento do corpo, é o movimento da cabeça, é o movimento dos olhos que ajudam a garantir que você está engajado no que ouve, pois na sequência, você precisará usar palavras do orador para devolver o seu entendimento e ter o seu próprio espaço de fala.

Este momento de silêncio ajuda as pessoas a se sentirem à vontade para compartilhar informações. Quando demonstramos nossa capacidade de ouvir sinceramente o que os outros têm a dizer, as pessoas estarão sempre mais interessadas em se comunicar conosco regularmente.

Isso pode ajudar a abrir oportunidades para colaborar com outras pessoas, realizar um novo projeto rapidamente ou iniciar até mesmo um novo negócio. Tudo isso ajuda no sucesso de uma carreira profissional.

Ou adoramos aquele colega que monopoliza uma reunião e não deixa os outros expressarem suas ideias?

Aliás, o processo de construção de confiança, entre seres humanos, começa pelo processo de comunicação. Se os outros souberem que podem falar abertamente conosco sem interrupções, julgamentos indesejados, elas estarão mais propensas a confiar em nós. É especialmente útil ao encontrar um novo contato comercial com quem desejamos desenvolver um relacionamento de trabalho de médio e longo prazo.

É por isso que bons vendedores são ótimos ouvintes, pois o processo número 1 da venda é saber escutar qual é o problema de um cliente a ser resolvido. Nunca o contrário.

Em vários momentos o ato de silenciar, sem dizer absolutamente nada, pode ser muito mais poderoso do que um “sim” ou um “não”. Compartilhar o silêncio, em vários momentos, significa dizer que está com o outro, que o compreende e que existe uma unicidade sobre o que este acabou de expressar.

Sempre que estivermos em dúvida sobre o que dizer ou não dizer em algum momento, principalmente, em momentos cruciais, é recomendável o silêncio.

O silêncio é temido e por isso ele pode ser tão poderoso.

Escute mais, fale menos deveria ser um mantra de sucesso para os profissionais do futuro. Afinal, escutar mais nos leva a profundidade de algo. Em um mundo superficial, da informação e do conhecimento, talvez, conhecer mais possa nos levar a novos desafios, maiores e melhores.

Então, às vezes, o silêncio é a única coisa a dizer, já que termos ou palavras equivocadas podem abalar uma vida inteira, mas o silêncio adequado pode ser a verdadeira resposta para muitas perguntas.

O tempo de mudar está passando…

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Reges Bronzatti

Gerador de Valor para Negócios com Tecnologia. Apaixonado por Gestão, Inovação, Direito Digital, Privacidade e Empreendedorismo. Advogado. Mestre em Ciência da Computação. Conselheiro Empresarial.

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