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Tecnologia não é sinônimo de magia. Precisamos de cautela e objetividade para não sermos seduzidos por promessas revolucionárias que nos deslumbrem a ponto de perdermos nossa capacidade de discernimento.

Seguindo a sequência dos crimes motivados pelos 7 pecados capitais do assassino do filme Seven, chegamos agora à Luxúria.

Luxúria(Dicionário de sinônimos: devassidão, desonestidade, indecência, volúpia, obscenidade, imoralidade)

A busca por prazer não ocorre apenas na esfera pessoal. No universo corporativo, existem diversos casos de empresas cuja força motriz parece ser uma busca tão intensa pelo sucesso a ponto de não se importarem com os riscos decorrentes. Ao contrário, parece que o prazer está vinculado a este risco e, muitas vezes associado ao (à) principal executivo (a) da companhia. A satisfação em estar no topo, ser admirada e bajulada é tamanha, que a empresa não se constrange em manipular e enganar de forma inescrupulosa a opinião pública.

Um caso notório é o da Theranos. Em 2003, nos EUA, uma jovem empreendedora de apenas 19 anos prometia, com sua startup, revolucionar o mercado de exames de diagnóstico. Elizabeth Holmes afirmava que sua tecnologia permitiria que, com a coleta indolor de apenas algumas gotas de sangue, seria capaz de realizar entre 120 e 250 testes, incluindo diabetes, colesterol e câncer. Tudo isso em apenas poucas horas e com baixíssimo custo.

Com esta proposta inovadora, a Theranos obteve crescimento vertiginoso. Recebeu ao longo de sua trajetória cerca de US$ 700 milhões e chegou a ser avaliada em U$ 9 bilhões. Assinou um contrato com a Walgreens oferecendo exames à população americana nas lojas da grande rede varejista de farmácias. Sua fundadora foi destaque da Forbes como uma das mulheres mais ricas do mundo, sendo comparada a Steve Jobs, e angariou nomes respeitados para sua diretoria, como Henry Kissinger e George Schultz.

A empresa seguiu atuando por mais de 10 anos como um exemplo de êxito na nova economia. Estaria tudo ótimo se não fosse uma grande farsa. A tecnologia jamais funcionou. Foi mantida em segredo sob alegação de segurança corporativa. As denúncias começaram a surgir por suspeitas de alguns colaboradores internos que foram inicialmente desacreditados. A maioria dos exames que chegaram a ser feitos, eram realizados por máquinas convencionais e não pelos dispositivos da empresa. A Theranos faliu e atualmente Holmes responde por processo nos EUA.

A volúpia na busca do sucesso cobra um alto preço. O intrigante é como tanta gente experiente se deixou enganar por tanto tempo. Uma hipótese é que, em um mundo em transformação, nossa expectativa por novas experiências é tão intensa que nos deixa suscetíveis a acreditar facilmente em falsas promessas. A fundadora da Theranos sabia disso e se fez valer desta percepção de forma imoral. Para quem deseja saber mais, recomendo o documentário “À procura de sangue no Vale do Silício” no HBO Max. Mais recentemente a história foi contada em uma série premiada chamada “The Dropout”.

Foto: Divulgação HBO Max

Conhecer esse case é muito relevante para o nosso atual momento de transformações e incertezas. O universo das startups é revestido de uma aura de glamour. Há uma grande valorização do modelo de empresas nascentes de tecnologia que muitas vezes mascara o real valor do negócio. Existem obviamente inúmeras startups com grande potencial de crescimento, mas é necessário bem mais do que um empreendedor ambicioso e bem articulado para tal. Tecnologia não é magia. A sedução de promessas revolucionárias é uma faceta da luxúria que nos deslumbra a ponto de comprometer nosso discernimento. A lição que fica é que devemos avaliar todo e qualquer negócio com parcimônia, de forma objetiva e pragmática.

Os empreendedores que não medem esforços para atingir as suas metas agem de forma desonesta por terem a convicção de que seguirão impunes. Provavelmente acreditam que nada irá atingi-los, que seguirão ilesos, conquistando mercado com um misto de arrogância e soberba. Mas esse já é outro pecado cujo crime está prestes a ser cometido. Tentaremos ser mais cautelosos e diligentes para impedi-lo.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Polydoro

Diretora da Hypervisual Design de Interação, possui formação em Publicidade e MBA em Marketing pela FGV. Consultora do SEBRAE-RS, integrou a primeira diretoria da APDesign/RS, foi idealizadora do Grupo de Usuários em UI/UX da SUCESU-RS (GUIX) onde atualmente é Diretora de Grupos de Negócios. É também Vice-Presidente de Comunicação da Assespro-RS e articulista do Portal da Revista Amanhã — veículo especializado em economia e negócios da região sul.

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