Fim do dia, saio as ruas e vejo-as banhadas de um rosa lindo, levanto os olhos e vejo ao horizonte uma bola de fogo que banha as planícies asiáticas inundadas pela energia de uma cor vermelho alaranjada. Atendo a meus sentidos e me maravilho com umas das cenas mais admiráveis que os olhos poderiam presenciar, o famoso pôr do sol da China. Personagem de muitos poemas e pinturas ele nos transmite a energia e sua potência maior. Contemplo.
Dou atenção aos meus outros sentidos, que mais presencio neste momento, o que mais estou a viver e a aprender com o que me rodeia. E numa explosão frenética dos sentidos vejo o caos que me cerca, carros, buzinas, construções, gente correndo, gritando em uma pressa constante em busca de um futuro inexistente pois o único momento possível a ser vivido é o presente.
Em meio ao caos, foco nas pessoas e vejo-as plugadas em seus eletrônicos, em busca da comunicação hoje inexistente entre elas e da última informação que poderá ou não, mudar o futuro que talvez não venha a chegar por falta do momento presente perdido.
Lembro-me então de uma velha versão de mim mesma e de muitas pessoas que vivem em constante movimento na busca de uma felicidade externa. Observo-as, observo-me, sinto e vejo a gratidão, serenidade e alegria conquistadas por esta parada no tempo para olhar para dentro e passar a ser o observador de nossas próprias vidas de uma forma serena que hoje permite o testemunho desta cena magnífica, presente da natureza que, na maioria das vezes, não apreciamos e nem sequer as vemos pois nos passam desapercebidas. Felicidade que ilusoriamente acreditamos estar na fama conquistada, no consumismo desenfreado e nas soluções para os problemas que julgamos ter, sem a realização de que todas as respostas encontram-se dentro e não fora de nós mesmos.
Este pensamento remete a Pequim, Tóquio, Nova Deli, Nova York, e instantaneamente traço um paralelo de como estas cidades representam o frenesi da humanidade que vemos recolhidas dentro de seus eletrônicos sem observarem o acontece ao seu redor. A humanidade está perdendo o senso de coletividade e tornando-se cada vez mais individualista. Já não mais vemos um bom dia, um sorriso ou até mesmo um olhar reprovador, pois os olhos estão permanentes voltados as telas criando a abdução da alma e gerando a desconexão dos seres.
Vemos famílias se transformando em um desajustamento de seus princípios onde a depressão bate à porta gerando uma busca de soluções em antidepressivos, ansiolíticos e pílulas das mais diversas cores e formatos enquanto a solução está dentro e não fora. A felicidade vem nas pequenas ações do dia a dia, no prazer de sentir o sol acalentando a face, o vento a beijar nossos cabelos, o som suave da natureza, o sorriso de um desconhecido a caminho do trabalho, a companhia de alguém que amamos, na palavra amiga, na compaixão, na magnitude do prazer de haver estendido a mão em auxilio ao próximo, na noite bem dormida depois de um dia honesto e bem vivido na integridade máxima de ser, desfrutar e viver o momento presente dando o melhor de si sem nada esperar mas, pelo puro prazer de viver.