fbpx Skip to main content

Dando sequência ao convite de acompanhar os passos do assassino do filme Seven, encontramos outra cena de crime. Chegamos tarde demais, nosso serial killer já agiu, desta vez sobre o pecado da avareza.

A Avareza

Dicionário de sinônimos: ambição, cobiça, ganância, mesquinhez, sordidez, sovinice, usura

Dos sete pecados, a avareza talvez seja aquele que mais tentamos ocultar. Temos constrangimento em admitir e expor nossa sovinice. Outros pecados pode-se ter até uma segunda leitura nobre: podemos interpretar inveja como admiração, luxúria como permitir-se buscar prazer ou preguiça como ousadia sadia de desacelerar em uma época de extrema pressão. Já a mesquinhez não, ela será sempre medíocre. Na área corporativa, no entanto, ela é muito comum. Nos deparamos com ela cotidianamente, desde casos como falta de investimentos e cuidados básicos com o próprio negócio até àqueles mais extremos de empresas que exploram mão de obra, proporcionando condições precárias de trabalho, com o intuito de ampliar a sua margem de lucro. Aí o pecado é ainda maior.

Mas pior do que represar investimentos, é enganar o consumidor. Um caso emblemático deste pecado foi o “Dieselgate“, fraude cometida pela Volkswagen. Na esteira da preocupação mundial com a preservação do meio ambiente, em 2009 a Volkswagen anunciou a venda de carros com o que chamou de diesel limpo. Ela teria criado um sistema antipoluente inovador, que dispensava o uso de ureia na mistura de gases e água (recurso adotado por outras montadoras) e, assim, amenizaria significativamente o efeito nocivo dos gases emitidos ao meio ambiente. Um destes veículos que utilizava o novo sistema foi o Jetta, que acabou se tornando um grande sucesso de vendas. Em 2014, motivado por uma maior transparência nos processos de controles, um órgão independente de regulação de transportes limpos norte-americano, iniciou testes em diversos veículos da empresa, dentre eles o Jetta. O resultado foi assustador. A emissão de poluentes superava 40 vezes o permitido nos EUA. A Volkswagen, que conhecia os parâmetros das agências oficiais de testagem, desenvolveu um dispositivo que detectava quando o veículo estava em teste e alterava os dados de desempenho via software para burlar os resultados. A consultoria independente trabalhava com parâmetros diferentes para os quais o dispositivo não foi preparado, e assim descobriu-se a fraude. Foi um escândalo internacional. Sabemos que a empresa não faliu, mas o episódio ainda vem causado grande repercussão negativa: trouxe um enorme prejuízo financeiro, o principal executivo renunciou e a Volkswagen está respondendo por processo criminal. Mas, pior que tudo, a marca teve o seu bem mais valioso comprometido: a sua reputação. Para quem quiser conhecer mais sobre este caso, recomendo assistir o primeiro episódio da série “Na Rota do Dinheiro Sujo” chamado “Emissões mortais” no Netflix.

Agora, imaginem o sentimento daquele consumidor que, motivado por princípios e ideais de sustentabilidade, confiou na marca e adquiriu o produto acreditando estar fazendo um bem para o meio ambiente, ao descobrir que foi totalmente manipulado e estava justamente fazendo o oposto, estava sendo um agente ainda mais poluidor que os demais. A Volkswagen traiu vergonhosamente a sua confiança para lucrar mais, cometendo, assim, um pecado imperdoável.

            Deveríamos todos agir sempre corretamente por princípio. Mas se este estiver em falta, que ao menos nos preocupemos com o olhar do mercado. Em tempos de redes sociais, ter a sua avareza exposta, é um pecado mortal. Transparência é a palavra do momento. É preciso ser muito verdadeiro na relação com o consumidor. Mentiras não perduram. Para prosperar de forma sustentável, pense nisso. Faça investimentos constantes, proporcione condições de trabalho dignas para toda a cadeia envolvida no negócio, construa um propósito, e, principalmente, respeite o seu consumidor.

            E por falar em propósito, nosso serial killer segue firme no seu. Estamos avançando, não podemos perder tempo, temos que ser mais ágeis do que a preguiça.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Polydoro

Diretora da Hypervisual Design de Interação, possui formação em Publicidade e MBA em Marketing pela FGV. Consultora do SEBRAE-RS, integrou a primeira diretoria da APDesign/RS, foi idealizadora do Grupo de Usuários em UI/UX da SUCESU-RS (GUIX) onde atualmente é Diretora de Grupos de Negócios. É também Vice-Presidente de Comunicação da Assespro-RS e articulista do Portal da Revista Amanhã — veículo especializado em economia e negócios da região sul.

Deixar um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.