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Em um ambiente em que as relações baseiam-se no mundo virtual, tanto no que tange a busca por conhecimento como nos processos de colaboração e relações humanas, a sociedade está utilizando mecanismos de busca para adaptar-se nesse novo universo de interesses. Para Ruiz (2010, p.16), “somos desafiados a selecionar e atribuir significação àquilo que identificamos como pertinente a nosso universo de interesses”. O objetivo deste artigo é explicar o funcionamento do conceito Filtro Invisível no buscador Google e na rede social Facebook, ou seja, até onde estamos submetidos a concordar com as formas de funcionamento dos buscadores e redes sociais que utilizamos. O Filtro Invisível foi um conceito originado no TED por Eli Pariser. O TED (acrônimo de Technology, Entretainment, Design; em português: Tecnologia, Entretenimento, Design) traz uma série de conferências realizadas na Europa, na Ásia e nas Américas destinadas à disseminação de ideias. Suas apresentações são limitadas a dezesseis minutos, e os vídeos são divulgados na internet. Eli Pariser trouxe uma reflexão a respeito da forma que os algoritmos criados pelos buscadores e redes sociais retornam registros. Para ele, o processo de personalizar o indivíduo, gerado por esses mecanismos de busca faz com que as pessoas não tenham ciência do que não está retornado, e sim, acreditam que tudo que está visível é o que existe.

Todos os dias passamos várias horas conectados na internet através dos nossos dispositivos móveis ou mesmo em frente ao computador, e muitas dessas horas certamente estamos utilizando ou consumindo alguns serviços como buscadores, e-mail, vídeos, redes sociais, comunicadores, notícias, entre outros. Esses serviços são fornecidos por empresas da área de tecnologia da informação e comunicação. Atualmente, quando queremos realizar uma consulta na internet, provavelmente iremos utilizar o buscador Google, pois ele consegue a partir de palavras-chaves buscar conteúdos em páginas da internet e retorná-las para que possamos selecionar qual queremos visualizar. E quando o Google consegue trazer o conteúdo na qual estávamos buscando em primeiro lugar, temos a ciência que estamos com sorte ou que o buscador já está entendendo o que estamos pensando e o que queremos encontrar. Como isso é possível? Para Vise e Malseed (2007), A busca por informação imediata sobre toda e qualquer coisa é associada através de um computador ou de um telefone celular, em que, homens, mulheres e crianças passaram a confiar tanto no Google que hoje não conseguem imaginar como era o mundo antes dele.

E quando acessamos uma rede social, como por exemplo o Facebook, podemos navegar entre as postagens das pessoas na qual estão conectadas a nós, utilizando uma relação digital denominado como “amigo”. Isto parece bem interessante, pois o sentimento de estarmos sendo conectados e tudo que está postado lá é o que está acontecendo neste exato minuto, trazendo um sentimento de que tudo é em tempo real, ou melhor, online. E será que isso é verdade? Todos os nossos amigos que possuímos na rede social que postam conteúdos aparecem na nossa linha do tempo? Realmente é muito interessante, pois tenho mais de 2 mil amigos e minha linha do tempo tem postagens em média de 100 a 200 amigos. Será que os demais amigos não postam nada? Não! Se buscarmos pelo buscador da rede social um amigo que não está na nossa linha do tempo, veremos que ele tem postagens. Então, como isso acontece? De acordo com Pariser (2012), o Facebook verifica quais publicações são clicadas mais vezes, e oculta as publicações de pessoas nas quais você menos visualiza e clica.

A partir desse ponto podemos pensar em várias coisas, como por exemplo que os buscadores e as redes sociais estão entendendo quem somos, o que fazemos, o que gostamos, onde estamos neste momento, entre outros aspectos pertinentes ao conceito de estarmos classificados neste mundo digital. Sabemos que a internet se consolidou como uma rede descentralizada, em que ativistas e cidadãos poderiam organizar-se de maneira livre e escapar consequentemente do domínio de corporações e governos. Sabemos que esses programas denominados algoritmos¹ que personalizam as buscas efetuadas são criados pelas próprias empresas. Mas, então, como o Google e o Facebook conseguem controlar as informações de nossas vidas? Quais são os verdadeiros objetivos dessas empresas? O que elas querem de nós? Nós podemos dar o que elas querem? Como isso é possível?

Em “O Filtro Invisível”, Pariser (2012) mostra que não temos tanta autonomia quanto pensamos em nossas navegações pela internet. O autor destaca que os filtros criados pelas empresas impedem que se tenha acesso ao conteúdo total da rede digital, mostrando apenas aquilo que elas acham que desejamos que seja exibido. Para corroborar com isso, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, descreve que: “[…] a morte de um esquilo, na frente de sua casa, pode ser mais importante para você do que pessoas morrendo na África. ” (PARISER, 2012, p.7).

Houve uma vez que a internet era um meio anônimo em que qualquer pessoa poderia ser o que quisesse. Um local onde poderíamos navegar sem sermos monitorados a todo tempo e em todo o lugar. Atualmente, ela está dedicada a solicitar dados e analisar contextos pessoais, ou seja, nós! Segundo um estudo do Wall Street Journal, dentre os cinquenta sites mais visitados na internet, sejam eles CNN, Yahoo, Google, Facebook, etc, todos estes instalam cada um em média 65 cookies² repletos de dados de rastreamento pessoal. Segundo Pariser (2012, p.11), “Se buscarmos uma palavra como “depressão” no Dictionary.com, o site instalará 233 cookies de rastreamento em nosso computador para que outros sites possam nos apresentar anúncios de antidepressivos. ”

Com isso, podemos ter a noção clara de que os nossos dados estão sendo comercializados gratuitamente.  Como explicou Chris Palmer (apud PARISER, 2012, p.12), da Eletronic Frontier Foundation: “Recebemos serviços gratuitos, e o custo disto são informações sobre nós mesmos”. Se analisarmos sob o enfoque de produtos, por exemplo um tênis, as empresas buscam entender o comportamento do consumidor, saber as cores que gosta, número, estilo, entre outros, para viabilizarem seus interesses.

Samara e Morsch (2005) descrevem o consumidor como sendo toda entidade compradora que possui necessidades e desejos e que busca satisfazê-las. Conhecer as pessoas, seus desejos, necessidades e hábitos de compra fazem parte dos preceitos da administração mercadológica, que busca compreender o comportamento do consumidor para analisar se os produtos ou serviços oferecidos pela empresa estão efetivamente contribuindo para satisfazer a necessidade e desejos dos consumidores, afirmam os autores.

Sendo assim o comportamento do consumidor pode ser entendido como os pensamentos e sentimentos que as pessoas possuem e que influenciam as mesmas nos processos de consumo (PETER; OLSON, 2010). Em outras palavras, Kotler e Keller (2012, p.164) definem o comportamento do consumidor como sendo “o estudo de como indivíduos, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam bens, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos”.

Retornando para o mundo digital, o nosso comportamento é dado pelo nosso uso, ou seja, por sinalizadores que realizamos em todas as nossas ações na internet. Agora, talvez, possamos entender por que a Google é uma das maiores empresas do mundo. De acordo com Ocaña (2013), se achamos que a Google é somente um buscador da internet, estamos totalmente enganados. O Google é na realidade uma das empresas mais ambiciosas, enormes e poderosas do mundo. Fazendo uma analogia é um “[…] gigante descontrolado, que não só domina a seu bel-prazer a rede das redes, como também tem interesse em muitos outros setores.” (OCAÑA, 2013, p.10)

Para corroborar com isso, a Revista Time classificou o Google como a empresa mais inteligente do ano de 2006, e os fundadores Larry Page e Sergey Brin receberam o título de “Thomas Edisons da Internet” (OCAÑA, 2013).

De fato os buscadores mudaram a forma como a internet funciona hoje, segundo Pariser, Sheryl Sandberg (diretora de operações do Facebook à época ) e Tapan Bhat (vice-presidente do Yahoo) posicionam que “o futuro da internet é a personalização”. A partir de agora a rede irá girar em torno do “eu”, criando uma forma de entrelaçar-se de forma inteligente e cada vez mais personalizada para o usuário. Eric Schmidt, presidente da Google, identifica que o produto que eles querem apresentar  tem como objetivo adivinhar o que iremos escrever, e após isso, o Google irá dizer o que deverá ser feito em um único conteúdo retornado (PARISER, 2012).  Para Lowe (2009, p.86), o Google é um “canivete suíço para a informação”. Ele serve de assistente de pesquisa para respostas rápidas. Segundo pesquisa realizada pela Serasa Experian³ no ano de 2015, o Google lidera o ranking com 94,3% no quesito buscadores mais utilizados no Brasil.

Fazendo a leitura sobre as dez filosofias4 da empresa Google, podemos destacar a número 1, onde descreve que “concentre-se no usuário e tudo mais virá”. Assim, podemos iniciar nossa análise buscando compreender discursivamente o significado de personalização de conteúdo por parte do buscador para com seus usuários. De acordo com a Biografia do Google escrita por Steven Levy, os fundadores sempre tiveram a pretensão de “criar uma ferramenta de busca que fosse tão inteligente quanto você […] você deve conseguir uma resposta assim que pensar nela.” 5(p.51). Tudo isso também nos faz refletir sobre os desdobramentos da internet, onde podemos entender que a tecnologia é o meio ambiente, e a noção de lugar, corpo e encontro se entrelaçam (PELBART, 2000).

Para verificar a existência dessa personalização, utilizamos o buscador Google para realizar uma busca utilizando palavra-chave “hotel”, com o mesmo computador, no entanto em locais diferentes. No primeiro exemplo estávamos situados na cidade de Florianópolis, Santa Catarina e no segundo exemplo localizados na cidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.

Figura 1: Página do Google em Florianópolis – SC

A figura 1 ilustra o retorno do buscador Google quando utilizou-se a palavra-chave “hotel”. O processo de busca ocorreu na cidade de Florianópolis, dentro da Instituição de Ensino Unisul. Notamos que além dos links patrocinados, o buscador já identificou a localização e mostrou os hotéis com seus respectivos preços das cidades próximas a Florianópolis.

Figura 2: Página do Google em Caxias do Sul – RS

Na figura 2 é possível visualizar as diferenças que o buscador Google retornou. A primeira trazendo hotéis próximos a Florianópolis e a segunda com hotéis próximos a Caxias do Sul.  Neste sentido, e utilizando-se das próprias expressões do Google, cada vez mais estamos assujeitados por esses mecanismos. A partir de Foucault (1983) que estabelece modos de subjetivação baseados na constituição do sujeito-usuário, podemos pensar o internauta ou usuários da internet como sujeito-usuário desta tecnologia. Para o autor, o sujeito não é uma substância, mas sim uma forma na qual se estabelece e se posiciona de formas diferentes dos demais. Os “jogos de poder”, como o próprio autor classifica, relacionam-se em como o sujeito constitui-se na sua sexualidade, desejo e assujeitado ao que seria a verdade do seu ser.  Neste contexto, o sujeito é interpelado ou assujeitado pela ideologia. Trazendo Althusser: “só há prática através de e sob uma ideologia; só há ideologia pelo sujeito e para sujeitos” (p. 149)

Segundo Brandão (p. 38):

Essa interpelação ideológica consiste em fazer com que cada indivíduo (sem que ele tome consciência disso, mas, ao contrário, tenha a impressão de que é senhor de sua própria vontade) seja levado a ocupar seu lugar em um dos grupos ou classes de uma determinada formação social.

Ainda com base em Foucault (1984), os “jogos de poder” estão implícitos nas “relações de poder” onde há um processo de dominação. Podemos, neste momento, trazer o conceito de Estado com o intuito de designar a maneira como os indivíduos podem ser individualizados. As formas identitárias e de subjetivação materializam-se pela formação social correspondente que individualiza a forma sujeito-histórica, assim produzindo processos de identificação. Voltando para Pêcheux, “o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia”, onde podemos ler também como individualização do sujeito a produção dos seus sentidos, portanto, o sujeito é um resultado de um processo do Estado.

Buscando Althusser, em Aparelhos Ideológicos do Estado, temos a ideia que o Estado concebe-se como aparelho repressivo que permite às classes dominantes assegurarem sua dominação sobre a classe operária, ou seja, o Estado só faz sentido em função do poder de Estado. Como exemplos de aparelhos ideológicos de Estado podemos citar as Escolas, Imprensa, Igreja, entre outros. No mundo digital seria a Internet e consequentemente as empresas detentoras das redes sociais e buscadores (Facebook e Google, neste). A característica adotada como organização centralizada e unificada, nos remete a um processo de controle, poder e personalização do uso dessas ferramentas que utilizamos no nosso dia a dia.

De acordo com Orlandi (2012, p.228), “as formas de individu(aliz)ação do sujeito, pelo Estado, estabelecidas pelas instituições e discursividades, resultam, assim, em um indivíduo ao mesmo tempo responsável e dono de sua vontade, com direitos e deveres e direito de ir e vir.” É nesta fase que se busca estabelecer uma relação de identificação com uma ou outra formação discursiva, podendo ser caracterizada como “um pré-requisito nos processos de identificação do sujeito”. (ORLANDI, 2014, p.8)

Mas como tudo isso é possível se entendermos que esses mecanismos de personalização da internet criam um universo de informações exclusivas para cada um de nós? Esse processo, Pariser (2012) denominou de bolha dos filtros, onde altera o modo como nos deparamos com ideias e informações. O autor ainda destaca que essa bolha do filtro possui três dinâmicas – na primeira estamos sozinhos na bolha na segunda que a bolha dos filtros é invisível e por fim que não optamos por entrar nela, isso é automático, ou seja, não temos escolha.

Se não temos escolhas, onde está o tratamento ou o acordo de ser dono de nossa vontade com direitos de ir e vir? Analisando esta pergunta, Orlandi nos faz refletir sobre essa vontade de ir e vir que está apagando o assujeitamento, seja pela interferência do estado ou da internet. O processo é apagado, e temos ideia de que somos a origem de tudo, mas na verdade isso não é real. Os custos dessa personalização ao qual estamos submetidos podem ser pessoais como culturais, ou seja, traz consequências diretas para nós que estamos utilizando tudo isso. Onde está nossa capacidade de decidir como queremos viver? Segundo Pariser (2012), quando entramos numa bolha de filtros, permitimos que as empresas que a desenvolveram escolham as opções das quais estaremos cientes, e talvez pensemos ser donos do nosso próprio destino, no entanto, com essa personalização podemos ser levados a uma espécie de determinismo informativo, “na qual aquilo em que clicamos no passado determina o que veremos a seguir.” (p.20).

Posto tudo isto, precisamos entender que a nossa história está sendo armazenada e que tudo isso está criando um processo de personalização constituindo um sujeito individualizado. Na AD podemos relacionar a forma-sujeito-histórica que antigamente era medieval, hoje em uma movência para o espaço digital. Podemos entender o sujeito que ao mesmo tempo é livre, é submisso como um efeito individualizado. A individuação pelo Estado conforme proposto por Orlandi(2012), que traz como um processo de identificação de um sujeito individuado com uma formação discursiva. Baseando-se na conjuntura histórica do neocapitalismo e sob a ideologia contemporânea de mundialização, devemos entender a forma como este sujeito se relaciona com a sociedade, este sendo individuado pelo Estado.

No modo como consideramos o indivíduo sociopolítico, não é a sociedade em si que é individualista; o individualismo resulta da ideologia própria a certos modos de individuação do sujeito capitalista pelo Estado, que assim se identifica com uma, e não outra, formação discursiva, no caso, a do individualismo. O que temos são posições-sujeitos individualistas que, certamente, produzem seus efeitos de sentidos na sociedade em que vivem, e que a sociedade sistematiza (ORLANDI, 2012, p. 234).

Estamos vivendo em um ciclo de identidade na internet, um pré-condicionamento de como somos moldados, pois somos inclinados a acreditar no que já ouvimos ou vimos antes. Os filtros, segundo Pariser (2012) cria uma mídia compulsiva para fazer com que cliquemos mais e mais. Ou seja, quando mais rápido o sistema te entende, mais provável é que você fique aprisionado neste ciclo.

Se você é um usuário do Facebook, provavelmente já se deparou com este problema. Você checou a página de uma antiga colega de faculdade chamada Sally, levemente curioso em sabe o que ela anda fazendo depois de tantos anos. O Facebook interpreta isso como um sinal de que você se interessa pela vida de Sally, e de repente Sally passa a aparecer repetidamente no seu feed de notícias. Você continua levemente curioso, por isso clica em algumas das novas fotos que ela postou com seus filhos, marido e cachorros, confirmando o palpite do Facebook. Da perspectiva do Facebook, você aparentemente tem uma relação com essa pessoa, mesmo que vocês não tenham se comunicado nos últimos anos. (PARISER, 2012, p. 114).

Notemos assim, um efeito de retroalimentação, onde tudo que realizamos na internet é armazenado constantemente, sem limites. Esses repositórios de conteúdo são denominados banco de dados6. Tratando desse assunto, ou seja, especificadamente o de acúmulo desses dados armazenados nesses repositórios de conteúdos, trazemos o conceito de  memória metálica, na qual classifica-se como fundamental para a compreensão do funcionamento discursivo da tecnologia da informação na constituição do sujeito e do mundo moderno (ORLANDI, 1998). Ainda segundo Orlandi (2006), o efeito de completude fica visível nesse processo de relação em que sujeito estabelece com a memória. Essa memória acumula sem parar, e estoca e encontra a informação que desejar (algoritmos). Esta ilusão de que tudo que precisamos saber ou ver está disponível neste efeito de completude, fora isso, não tem nada a observar. Notemos que existe um recorte do que é necessário, e isso realizado, neste caso, pelas bolhas do filtro.

Se por um lado a memória discursiva7 constitui-se pelo esquecimento e pela memória de arquivo do processo de significação, por outro lado, a memória metálica constitui-se pelo excesso e pela quantidade (ORLANDI, 2006). Portanto, podemos concluir que a memória discursiva materializa-se em diferentes ordens discursivas. Já a memória metálica organiza-se segundo parâmetros não materiais (NECKEL E GALLO, 2012). Esses parâmetros não materiais baseiam-se em formas formais e estruturadas, que podemos citar como exemplo os bancos de dados e os algoritmos, na qual são codificados e programados para realizar buscas e consultas com o intuito de retornar conteúdo para as bolhas do filtro.

Quando registramos a palavra banco de dados, devemos evocar a noção de arquivo para a Análise do Discurso. De acordo com Pêcheux (2010, p.51), arquivo é “[…] entendido, no sentido amplo, de campo de documentos pertinentes e disponíveis sobre uma questão”. Assim, arquivo pode ser descrito como um grupo de documentos que está relacionado a um determinado tema, e este, organizado por uma leitura. Como tudo que fizemos na internet é armazenado, mobilizamos a palavra arquivo para descrever todo esse conteúdo armazenado nos computadores e na internet.

O Google e o Facebook baseiam-se nessa enorme quantidade de dados pessoais que foram compilados. Segundo Ocaña (2013), a fonte de riqueza, dentro do âmbito empresarial, está nas informações indexadas e organizadas. Estamos segundo ele em uma mudança de paradigma, “da internet das páginas à internet das pessoas”. Na briga pela informação, temos uma visão em que o Facebook está pela primeira vez na frente do Google, pois tem por meio de seus cliques saber identificar,  por exemplo,  tipos de filmes ou produtos que preferimos, ou seja, ele conhece melhor os usuários (OCAÑA, 2013).

Sempre tivemos a ideia de que a tecnologia ia nos dar mais liberdade e controle sobre o mundo, com mecanismos e equipamentos que permitissem focar nossa atenção apenas no que nos interessa de modo que tivéssemos menos trabalho. No entanto a ironia apresenta-se agora… dando a liberdade de nos fornecer um controle remoto cheio de botões que nos impede de fazer algo básico como trocar de canais, entre outras coisas. E, para piorar, esse controle remoto controla nossas vidas.

E, claro, todo este contexto de Facebook aqui definido vale também para o Instagrm e o WhatsApp e , mais ainda , quando pensamos em Meta, a junção das bases de todos estes por uma única empresa.

Sabendo da importância que a internet tem nos dias de hoje, contendo tudo que se passa cotidianamente, e, principalmente, o que acontece nas nossas vidas através de postagens em redes sociais e consultas em buscadores, a personalização de conteúdo é uma realidade. Esta personalização é movida pelo mercado e por interesses. Desta forma. estamos cada vez mais identificando sinais sobre nosso comportamento e nos tornando conteúdo a ser analisado. 

Através dos exemplos criados, foi possível identificar essas personalizações. No processo descrito, o buscador Google utilizou-se do filtro por localização. Para a Análise do Discurso, conseguimos mobilizar preliminarmente como dispositivo teórico as noções de formação discursiva, memória discursiva e metálica e a individuação. A relação entre arquivo e banco de dados constituiu uma forma de analisar a busca de conteúdo personalizados movimentados pela memória metálica.

Com o conceito de Filtro Invisível, onde estamos em uma bolha personalizada na qual temos a ciência que acessamos tudo, mas ao mesmo tempo não acessamos é possível mobilizar o conceito de individuação de Orlandi. Neste caso não pela individuação pelo Estado, mas sim, pelo mundo contemporâneo que vivemos hoje na internet, mais especificadamente pela rede social Facebook e o buscador Google. A partir daí, entendemos que o mundo contemporâneo, mais especificadamente o mundo digital, remete o processo de identificação dos usuários na internet para a personalização de conteúdo que é retornado a esses internautas.

Este artigo limitou-se a rede social Facebook e ao buscador Google, no entanto, pode ser aplicada em demais redes sociais e buscadores que possuam utilizar-se do processo de personalização.


¹Arquivos de textos que possuem como principal função armazenar as preferências dos usuários sobre um determinado site na internet.
²Conjunto de regras para executar uma tarefa ou resolver um problema.
³Serasa Experian 2015. Ranking dos buscadores no Brasil Disponível em: http://olhardigital.uol.com.br/noticia/ranking-dos-buscadores-no-brasil/46539. Acesso em: 09 out. 2015.
4Google Inc. Disponível em: https://www.google.com.br/intl/pt-BR/about/company/philosophy/ Acesso em: 09 out. 2015. [1]
5Grifos do autor.
6Software que possui recursos capazes de manipular as informações do banco de dados e interagir com o usuário.
7“A memória discursiva seria aquilo que, em face de um texto que surge como acontecimento a ler, vem restabelecer os ‘implícitos’ (quer dizer, mais tecnicamente, os pré-construídos, elementos citados e relatados, discursos transversos, etc.) de que sua leitura necessita: a condição do legível em relação ao próprio legível.” (PÊCHEUX, 1999, p. 52)


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Pedro Bocchese

Head de Inovação das Empresas Processor. Possui Pós-Doutorado em Administração de Empresas com pesquisas na área da Teoria Ator Rede. Doutor em Ciências da Linguagem pela UNISUL realizando pesquisa na área de algoritmos do buscador Hummingbird do Google e seu processo de personalização através do conceito The Filter Bubble. Mestre em Gestão de Políticas Públicas pela Univali onde apresentou como defesa de sua dissertação um modelo de Conversão de Metodologias de Cálculo de Valores Venais para municípios. Pós graduado em Engenharia de Software, MBA em Sistemas de Informação e Maçonologia: História e Filosofia; Pós graduando em Data Analytics; MBA em Master Digital & Metaverso. Graduado em Administração de Empresas e Análise/Desenvolvimento de Sistemas; Possui mais de 25 anos de experiência na área de desenvolvimento de software e análise de dados e mais de 20 anos em docência para cursos de graduação e pós-graduação.