Ah, essas duras realidades sociais, políticas e econômicas! É dureza ser uma sociedade esmurrada pelos fatos como acontece no Brasil. Estevão Pinheiro, com seu humor ácido, construiu uma frase aplicável à nossa situação: “Depois de as coisas irem de mal a pior, começa o ciclo de novo”. Ponderemos objetivamente a situação.
Pergunto: nosso panorama social é desolador porque as pessoas não querem viver em melhores condições, ganhar mais, trabalhar mais, cuidarem melhor de si mesmas, dependerem menos do Estado? Socorre-nos, aqui, o humor do argentino Quino e sua personagem Susanita, nas tirinhas da Mafalda, quando diz algo mais ou menos assim: “Não sei o que passa na cabeça dos pobres. Como se não bastasse ganharem pouco, ainda consomem artigos de má qualidade”.
Susanita está errada, claro. Os pobres se dariam melhor na vida se a economia tivesse um crescimento mais acelerado, com maior geração de postos de trabalho. Esse é o melhor programa social do mundo, segundo Ronald Reagan. E eu concordo.
Então, cabe a pergunta: a economia anda lentamente porque falta gente para trabalhar, por que os empresários não têm vontade de ganhar dinheiro, porque o mercado não quer comprar o que produzimos? Claro que não. A economia vai mal por causa da política que temos, com sua sequela de males: instabilidade, décadas de gasto público constantemente superior às receitas inconstantes (atenção à imprudente criação de despesas permanentes e aos direitos adquiridos!). Vai mal porque a Constituição de 1988 pretendeu criar num país pobre, por força de lei, um Estado de bem estar social. Vai mal por causa do gigantismo do aparelho estatal. Vai mal por falta de sintonia entre os objetivos que mobilizam os poderes de Estado e os de seu soberano – o povo brasileiro.
O fato que me traz a este artigo é a súbita percepção de que o aparelho estatal como um todo, os poderes e a administração pública nos três níveis da Federação colonizaram o povo brasileiro. Subsistem do extrativismo que exercem sobre os recursos que a sociedade produz. Esse monstro tem vida própria e subordina a sociedade ao seu querer.
Então, na minha perspectiva, se a causa de nossos problemas tem nome e endereço conhecidos, é para ali que devem convergir as ações corretivas. Não faltam obstáculos a essa tarefa. Os mecanismos que mais influenciam as opiniões e as condutas sociais são os que atuam no plano da cultura, dos meios de comunicação, da religião e das escolas em todos os níveis de ensino. São esses espaços que devem ser sensibilizados por nossas lideranças e é nessa direção que deve ser mobilizada a opinião pública.
De nada valerá qualquer ação que chegue ao endereço errado. Preservar o modelo institucional e a regra do jogo político significa manter o colonialismo do Estado sobre os cidadãos e seus bens e… aguardar um novo ciclo negativo. O Estado não é a solução; ele é o problema. E deve se tornar parte da solução.