Vivemos, como bem sentimos todos, em um mundo que passa por um contexto de transformações sem precedentes em nossa história.
A cultura, a forma de ser e agir, os hábitos, as interconexões, etc tem sido alteradas de forma drástica e abrupta em função de inovação, internet, redes sociais, os avanços tecnológicos, a globalização, a hiper conexão em que vivemos, o aumento da expectativa de vida, entre outros contextos que abalam e modificam as lógicas até então estabelecidas.
Como soe acontecer em tudo que muda, algumas coisas são ótimas, outras nos fazem perder e/ou necessitam de uma análise mais apurada para entendermos como lidar e avançar.
De fato, tudo isto, estes avanços, deveriam de per si nos levar a melhores condições, mais tranquilidade, saúde longeva, mais tempo para aqueles que amamos, desenvolvimento de projetos, e principalmente seria uma oportunidade ímpar para fortalecermos nossa identidade e a forma com que construímos e nos relacionamos com o mundo a nossa volta. No entanto, o que vemos em muitos casos é o contrário. Os problemas e entropias parecem estar aumentando.
Ansiedade, dificuldade de lidar com o novo, pouco ou nenhum sentido de pertencimento, doenças em grande avanço como a depressão, abuso de sintéticos, bebidas e fármacos, entre outros, são sintomas complexos deste mundo que procura ainda respostas para perguntas que são feitas já há um bom tempo.
Cada vez mais se ouve o “no meu tempo”, como sinal de que aqui e agora a coisa não está equilibrada como deveria estar. E que as pessoas, em grande parte, se sentem excluídas de algo que nem mesmo quem está dentro, tem certeza disto e de onde quer e vai chegar.
Palavras como propósito, jornada, caminho, entre outras tem crescido de relevância em múltiplas esferas e, em geral, procuram dar um sentido, uma significância para os desafios e dificuldades nas quais o humano hoje vive e enfrenta.
Outra fenomenologia crescente nesta linha e que permite materializar bem isto, é o incrível avanço dos coachings, mentoring’s e outras técnicas que procuram ajudar o indivíduo, através de um olhar para si, para tentar aprender a lidar com todo este contexto.
Este situacional e as novas lógicas em constante dinâmica tem estabelecido importante mudanças no comportamento humano, que tem tido dificuldade em se adaptar a isto tudo.
Neste sentido, uma das mais chocantes e preocupantes manifestações desta nova realidade é o egocentrismo.
Não é que isto seja propriamente novo ou inédito. Mas, é avassalador e brutal o quanto as lógicas individuais têm criado pessoas que vivem apenas superficialmente para si usando, por exemplo, a tecnologia como instrumento de mediação entre a sua existência e as esferas que o circundam. Este perfil de pessoa vive quase que exclusivamente para si, demonstra pouco ou nenhum interesse nos outros, não pratica solidariedade, não faz dialética, não se permite outras possibilidades e, quando o faz, age apenas com escopo egoísta.
Para além da liberdade de cada um de ser e agir, e do velho e bom egoísmo sadio, o problema com o individualismo exacerbado, é que estas pessoas têm se aproveitado destas mudanças e lógicas para usar e abusar de todos de forma a realizarem única e exclusivamente o seu caminho individual.
Mais do que pensar em si, falamos aqui da lógica inclusive de abusar psicologicamente dos outros. A loucura aqui é tão grande, que inclusive praticam o politicamente correto para embalar suas próprias necessidades, em geral nada propositivas ao todo.
E isto vai e vem como ondas no mar, mas, não entrega, não gera resultados e, sistemicamente, gera inquietude e desconforto.
Você já viu alguém infeliz no Instagram? Ou alguém fazendo alguma coisa que não seja maravilhosa? Até os comentários são para retroalimentar sua própria individualidade.
E tudo é efêmero, tem vida curta e significado passageiro.
Os avanços que estamos tendo deveriam gerar um protagonismo e uma sanidade cada vez maior no humano.
Deveríamos reduzir esquizofrenias, doenças, depressão, etc mas, as estamos aumentando.
De fato, cada um de nós acaba por aumentar o problema cotidianamente ao sermos propagadores de “fake news”, disseminadores de realidades fantasiosas nas redes e de comportamentos não compatíveis com quem realmente somos.
Se vive para ser o que os outros supostamente são. E por óbvio, ao não atingirmos isto, aumenta-se todos os sintomas e disseminam-se os problemas. E como fazem, para resolver e jogar este jogo? Tentam impostar um eu que na verdade é um avatar, um ficcional, uma ficção “far away” de quem se é.
A beleza da vida está em ser, em fazer, em viver e construir a cada dia um pouco de si mesmo para si e para o todo. Não é altruísmo, é essência para ser, é oxigênio para si e nutrição para todos.
Homens e mulheres, protagonistas, saudáveis, são possíveis e necessários.
Dependem de autoconhecimento, “lifetime learning”, bons amigos e amigas, ótimos parceiros e parceiras, tirocínio constante frente ao novo, adaptabilidade, dinamicidade, Mindset plural, realizar a si mesmo para junto realizar a todos que puder em sua esfera de atuação.
Viver para ser, ser para viver!