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Muito se escreve e se fala sobre as agruras de trabalhar e empreender no Brasil. De certa forma, é lógico esse destaque, já que comparativamente temos obstáculos demasiados para poder prosperar num país tão desafiador como o nosso. Há mesmo inúmeras fricções nos locais de trabalho, em especial, em ambientes de hiper competição.

Aqui não se trata de “dourar a pílula” ou de ingenuidade, entretanto quero refletir sobre o realizar e sobre realizar-se ao fazê-lo. No ano 2003, quando fazíamos o Planejamento Estratégico da empresa – planejamento esse que, por necessidade e desejo, buscava um daqueles ciclos de revisão profunda da organização, um verdadeiro redirecionamento estratégico – compreendemos que era essencial termos novamente o que nosso consultor a época chamou de “business fun”.

A alegria em atender cada cliente que entrasse em nossos estabelecimentos, tanto quanto àqueles que comprassem nossos produtos em algum supermercado. Isso serviria também para as relações internas, fosse na negociação com nossos fornecedores ou com os colaboradores. A consciência de que as trocas não precisariam ser densas, pesadas, mas, com o senso de buscar o melhor bem-estar possível e desejável para todos os envolvidos. Isso, sem dúvida, valia, igualmente, para a reunião de sócios e diretores. Percebemos em nós mesmos que, quanto melhores as interações, mais ganhávamos em bem-estar e realização emocional, social e material.

Assim, por que não desenvolver uma cultura de busca por trocas benéficas para todos os envolvidos? É claro que o ambiente de negócios é árduo, mas, nossa própria atitude não deveria fazer parte dessa espiral corrosiva de nossos próprios ânimos e engajamentos. Poderíamos desenvolver mecanismos para identificar e modificar pensamentos e comportamentos destrutivos.

Naquela época, há 20 anos, não se falava em soft skills ou, evitando os anglicismos muito utilizados nos ambientes corporativos, competências sociocomportamentais. Entretanto, era isso que estávamos aprendendo. Dificuldades e desafios existiam, existem e, provavelmente, seguirão perdurando. Entretanto, o que nos define não é o tamanho ou a frequência dos problemas com os quais lidamos e sim, a forma como optamos por fazê-lo.

Essa busca nos direcionou a revisar os elementos chave de nossa cultura organizacional. E, nesse intuito, revisitamos os nossos princípios e valores. Investigamos quais eram os comportamentos desejados que gostaríamos de estabelecer e disseminar entre nós. E, foi assim que nasceu o princípio: “Rigidez com os fatos e Cordialidade com as Pessoas”. Tendo isso claro para todos nós, foi impressionante perceber o quanto melhoramos as relações e as ações quando diferenciamos a discordância de uma ideia, da pessoa detentora da ideia.

À medida que implementamos essa concepção, abrimos espaço para o diálogo e passamos a perceber que a divergência, e as naturais fricções existentes nos ambientes de trabalho, poderiam nos fazer exercitar o respeito e a empatia, o que não significava concordância. Podíamos, sem ter que renunciar a nossa ideia (inicial) ao avaliar os fatos em si, construir uma nova percepção enriquecida pela abertura às diferentes perspectivas.

Para nós, brasileiros, latinos, esse processo de diferenciar a mensagem do mensageiro é particularmente desafiador. Somos bastante emocionais. Muitas vezes confundimos agressividade com a pessoa com discordância com a ideia. Também, tendemos a ser menos rígidos com os fatos. Nesse sentido, busco alertar que tão grave quanto ser rígido ou mesmo agressivo com as pessoas, é sermos elásticos, permissivos com os fatos.

Por fim, vale a pena ter presente que, conceitos como estes de cordialidade com as pessoas e rigidez com os fatos, são simples de compreender, mas, extremamente desafiadores de aplicar no dia a dia. Por isso, precisam ser exercitados com consciência e disciplina nas organizações.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Daniel Santoro

O empresário Daniel Santoro é voluntário com mais de 20 anos de dedicação à ONG Parceiros Voluntários e desde abril de 2020 ocupa o cargo de Presidente do Conselho de Administração da entidade. Natural de Montevidéu, no Uruguai, Santoro se mudou para o Brasil junto de sua família aos nove anos de idade. Formado em Engenharia Agrícola e Pós-graduação em Marketing, pela ESPM , em Business Administration na Universidade de Berkeley, na Califórnia e Corporate Director Certification, em Harvard.

3 Comentários

  • Luís Luzardo disse:

    Excelente Daniel ! Este trecho do teu artigo “Para nós, brasileiros, latinos, esse processo de diferenciar a mensagem do mensageiro é particularmente desafiador. Somos bastante emocionais. Muitas vezes confundimos agressividade com a pessoa com discordância com a ideia. Também, tendemos a ser menos rígidos com os fatos” ainda esta consolidado na maior parte dos ambientes organizacionais. Apenas com
    Lideranças experientes e maduras é possível estimular a criatividade e as trocas necessárias entre gerações com diferentes pontos de vista sobre os problemas e soluções. Chegaremos lá !

  • Janaina Zago Medeiros disse:

    Excelente reflexão, Daniel!
    Coincidentemente, em uma recente reunião com a equipe, discutíamos sobre um desafio que estávamos enfrentando e eu ressaltei a importância de não “matar o mensageiro”. Como você cita no texto, são conceitos simples, porém desafiadores de aplicar no dia a dia. Parabéns pelo artigo!

  • Leandro Pires disse:

    Ótima reflexão, Daniel! A tua experiência de liderança de um negócio de sucesso onde a experiência das relações humanas é fundamental para os colaboradores, fornecedores e clientes demonstram como o rigor com os fatos e cordialidade fazem a diferença. Parabéns!

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