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Ao contrário da pesquisadora e autora Elizabeth Kubler-Ross (1926-2004) que estudou obsessivamente o impacto da morte no ser humano, criando a teoria dos 5 estágios do luto, eu venho, através deste artigo, buscar passar, sem aprofundamentos científicos, um pouco de minha visão sobre o luto empresarial. 

Na minha visão nosso comportamento, diante de um eminente processo falimentar ou ainda de redução das viabilidades de negócios, passam por fases similares ao que ocorre no momento de luto humano.

Porém, diferente das etapas propostas pela autora, na minha percepção há um momento preliminar, onde as mesmas crenças, que levam o empreendedor a um sucesso circunstancial (ou ilusório),  tornam-se gatilhos para bloquear o novo. Geralmente olhamos para momentos vividos anteriormente e trazemos à nossa memória atitudes, decisões e formatos que nos fizeram crescer até o presente momento. Dificilmente conseguimos julgar tais decisões ou atitudes comparando ao cenário externo. Fazemos sempre uma análise egoísta, centrada em ego próprio, sem a capacidade de uma visão sistêmica. Por isto que, geralmente, a maioria dos empresários demora muito para momentos de virada, acabam analisando apenas o íntimo e não o mercado no presente, além de não conseguirem projetar o futuro. O Envisionamento (tentar projetar o futuro) acaba sendo perda de tempo, ou visto como um chute. Em determinado ponto de vista concordo. Pois muitas vezes não existe uma rotina, método, processo e dados que ajudem a tornar este processo vencedor. Pois bem, dito isto, quando um setor começa sentir os impactos da disrupção, o empreendedor ancorado no passado começa a etapa de negação. Aqui conecto com a teoria da “Beth” sobre os 5 estágios de luto. A negação faz com que a pessoa não acredite, achando que possa haver enganos, não aceita ajuda, não acredita em visões externas. Esta fase está sujeita a ser vista como forma de defesa de algo improvável e pode durar meses ou até mesmo anos. É o momento que pode ser visto como fator crítico de sair ou não de uma situação complexa. Quanto mais demorarmos negando a iminência de um processo de mudanças, menos chances teremos de alterar a situação. 

O Segundo momento é oriundo da falta de consciência sobre esta situação. Geralmente a mudança de fase ocorre de forma natural. Uma mutação não perceptível nos sentimentos do empreendedor. Quase como em um toque de mágica o empreendedor passa da negação para a fase de raiva. Este estado é de muito medo, arrependimento por não ter conseguido mudar, baixa capacidade de acreditar em si mesmo, dificuldade de tomar decisões. Despende-se muito tempo com pensamentos de raiva frente aos concorrentes que conseguiram se readequar, ou ainda de pessoas que tentaram alertar e até mesmo, observando o sucesso de pessoas de nossas relações. Como uma estrada que muda de piso (do asfalto para o chão batido), inicia-se a terceira etapa deste processo. Surge a etapa de negociação ou barganha. A revolta anterior não trouxe alívio, aí surgem os pensamentos sobre fazer algo para reverter o acontecido.

O empreendedor em iminência de morte  pensa em fazer promessas, pacto com Deus, receber uma graça ou milagre. Todos que podem vir a ajudar serão vistos como salvadores da pátria, porém geralmente neste momento não há milagres, o tempo perdido fez com que a parte financeira não seja suficiente, a força psicológica esteja esgotada e que as pessoas que geralmente colaboravam no momento positivo, não estejam com energia ou desejos de ajudar.

Aqui geralmente ocorre a fase de decisão de “fechar ou não a torneira”. Entendo que mais importante do que seguir em frente e tentar a fórceps mudar, o empreendedor tem que ter a capacidade de saber se terá condições de mudar. Jogar a toalha também pode ser uma estratégia. Por vezes, fazer isto de forma ágil pode ser visto como inteligência. 

A etapa de depressão é conseqüência da análise da incapacidade de mudança. Os aspectos necessários para a virada de chave são tão evidentes que comparado com as possibilidades de movimentação por parte do empreendedor dão a certeza de missão impossível. O insucesso anterior gera esta fase de grande sofrimento e a maior colaboração de quem está ao lado pode ser o papel de ouvinte paciencioso gerando conforto e acolhimento. O empreendedor chora, se isola, repensa sobre a vida, tenta tirar o nariz para fora da água para respirar. Expectativas podem ser um processo perigoso, mas para sair do buraco as pessoas precisam criar cenários de saída para que novas expectativas possam movimentar para um lugar fora do Estado de depressão empresarial.

Por fim, com o sofrimento um pouco mais suavizado por novas expectativas que pareçam viáveis, o empreendedor faz reflexões e tem percepções mais congruentes sobre a situação, consegue ter “tranquilas expectativas”, facilitando a aceitação do ocorrido e possibilidades de reação, percebendo que nem tudo em sua vida está acabado e perdido. Mesmo com dificuldades e limitações tem possibilidades de se reestruturar sem a empresa perdida. No fim, mesmo mantendo o mesmo CNPJ vivo, a empresa do passado tem que ser perdida!

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Tiago Lemos

Economista, com pós em Economia empresarial e Engenharia de Produção, consultor especialista em inovação, investidor anjo e empresário.