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No artigo “Educando o futuro” em 24/03/2021, apresentamos algumas questões relacionadas a importância da educação para um futuro sustentável e sobre a Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030.

Para entendermos melhor este contexto e as conexões que isto gera no dia a dia, abordaremos neste artigo uma conversa que tivemos com jovens cidadãos do mundo de várias origens e de diferentes escolas internacionais, de forma a termos um painel plural desta realidade a partir do que se estabelece numa das economias mais pulsantes do mundo hoje – a Grande China.

Em Dongguan, um dos maiores polos industriais do sul da China, há uma grande concentração de famílias expatriadas.  Aqui se encontram as produções de grandes marcas como Nike, adidas, Mercedes, Samsung, Apple entre outras.

A cidade possui em torno de 7.300 milhões de habitantes e é considerada ‘pequena’ e provinciana para os padrões da China.

Para acomodar a demanda de estrangeiros a cidade possui muitas escolas internacionais com diversos currículos e propostas, assim como shopping centers, cinemas e restaurantes de cozinha internacional. 

Devido a sua proximidade com Guangzhou, Hong Kong e Macau, recebe muitos alunos destas cidades que vem em busca de uma educação internacional em um ambiente menos competitivo, com turmas menores, que propiciam melhor suporte acadêmico. Desta forma, em Dongguan encontram-se jovens do mundo todo que ficam aqui por dez, quatro ou dois anos.

A isto soma-se a enorme demanda de escolas internacionais estabelecida pelas famílias Chinesas, que buscam dar a seus filhos a oportunidade de estudar um curriculum internacional, preparando melhor seus filhos para a vida universitária fora do país

Com isto, há uma grande diversidade cultural em meios aos jovens da região num mix de valores e perspectivas, onde há um convívio amigável e entre eles a palavra ‘laowai’ deixou de ter a conotação pejorativa e passou a ser entendida como coleguismo, da mesma turma, ou seja, ‘geração que se entende’.

Quando me foi sugerida a ideia de escrever sobre os jovens na China, havia pensado em fazê-lo sob a perspectiva de um educador, porém, achei que ninguém melhor que os próprios cidadãos do mundo que aqui estão, para nos dar uma ideia de como veem a vida sob esta perspectiva.

Ao serem perguntados sobre como crescer na China difere de seu país em termos de língua, diversidade cultural, falta de conexão com o país de origem e viver imerso em um ambiente multicultural obtivemos os seguintes depoimentos:

“Meus amigos aqui quase sempre foram estrangeiros ou nativos que falam inglês fluente. Busco estas conexões pelo meio onde vivo e porque é a língua mais fácil de pensar. Mesmo assim nos últimos 3 anos comecei a fazer mais amigos de diferentes culturas, e ao sair com eles a vida passou a ser mais divertida do que apenas a competição acadêmica, que é extremamente comum neste país. Existe um ditado Chinês que diz ‘Highschool is hell and university is heaven’, devido ao alto índice de competição para entrar na universidade nem todos tem a oportunidade, o que torna a vida escolar extremamente sacrificante! “

A diferença entre Dongguan e outros países como Estados Unidos, Brasil, e Coréia é um ‘cutural shock’ maior devido ao idioma extremamente difícil de aprender e os hábitos diferentes entre os jovens, principalmente quando se reúnem, e cada um fica no seu celular por horas ‘reunidos’ na mesa de um ‘cat café’.”

‘As a Hong Kong student, I am blessed to be able to go to an international school as it allows me to interact and become friends with foreigners. This helps me as I get to know and understand foreign cultures and traditions. This can include food culture and how different countries have completely different diets. As well as lifestyles, how foreigners spend their day different comparing to Hong Kong people. Interacting with foreigners also helped me with my English as I get to communicate with foreigners that are fluent in their language.’

Nos depoimentos que recebi, em comum, todos os jovens estrangeiros comentarem que independente da barreira idiomática, foram bem recebidos, e que usando a linguagem corporal começaram a fazer seus primeiros amigos entre os colegas de aula. Já os jovens chineses declararam que sempre procuram interagir quando conhecem alguém de fora e são extremamente curiosos para aprender sobre outras culturas e países.

Outro depoimento comum entre as nacionalidades foi sobre o isolamento causado pela pandemia, onde muitos ficaram deprimidos e buscaram auxílio em jogos interativos e até mesmo nas aulas online onde podiam viver virtualmente novas experiências e trocas culturais.

De fato, há alguns meses, uma pesquisa foi publicada pelo The South China Morning Post (Hong Kong), falando que os jovens estavam optando pelo isolamento social depois de aliviada a quarentena, pois tinham uma dificuldade extrema de voltar a interagir socialmente relacionando-se melhor em plataformas digitais.

Preocupado com esta crise social entre a juventude, em um lugar onde o índice de suicídio nesta faixa etária é um dos mais altos do mundo o governo local lançou mão de diversos programas de auxílio a estes jovens, promovendo diversas oportunidades de socialização com cautela e incentivo a uma vida saudável e outdoor sports.

Mesmo enfrentando estas situações inusitadas que o mundo atravessa, 130 jovens estudantes do Internacional Baccalaureate obtiveram a nota máxima nos exames finais, corroborando com sua capacidade de adaptação frente aos novos desafios e realidade estabelecida

E o que tem em comum estes alunos do mundo inteiro que vivem na China e os jovens Hong Kongoneses e Chineses em geral?

Todos entrevistados estão contentes em viver na China ou em Hong Kong. Nenhum pensa em ir estudar em outro país que não ofereça um ensino a distância pois, sentem-se seguros e preferem estar perto da família enquanto a pandemia segue ainda ativa

Em nenhum dos depoimentos ou conversas informais que tivemos durante as entrevistas ninguém mencionou sentir-se excluído como expatriado ou ter sofrido preconceito racial.

Suas preocupações vão além de picuinhas sociopolíticas e culturais. De fato, trazem uma preocupação inspiradora com a saúde mundial e uma tenacidade avassaladora para influenciar mudanças positivas em seu contexto e, quiçá, mundialmente.

Com isso, volto a refletir em como posso contribuir para que esta garra e gana mantenham acesas a chama existente em mim enquanto estou no papel de educadora do futuro que está sendo construído aqui e agora.

Lembrando o mencionado no artigo anterior, ao criar e educar cidadãos do mundo, com visões multiculturais, pensamento crítico e grande capacidade de adaptação, nos abre um leque incrível de satisfação ao percebermos o quanto estamos contribuindo para um desenvolvimento sustentável de um planeta melhor e mais humano, diverso, inclusivo e social e culturalmente abrangente.

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Andrea Coutinho Bozzetti

Apaixonada pela pedagogia e pela formação de cidadãos neste mundo globalizado, com mais de 20 anos de experiência na área do ensino de línguas, acredito numa educação orgânica em constante evolução, assim como todos os seres humanos, desenvolvendo habilidades necessárias para o crescimento do indivíduo como um todo, criando uma consciência global, pois, somente através da cooperação e da educação será possível mudar a humanidade para que tenhamos um futuro de sucesso ao dividirmos um planeta saudável, de forma sustentável e impactando positivamente tudo e todos a nossa volta. Graduada em Administração de Empresas com especialização em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica de Pelotas, UCPEL, e especialização em “Business Administration Leadership” pela Bradford Woods University, Indiana, EUA, Pós graduada e com Mestrado em Educação Internacional pela University of Sunderland – UK, Mestrado em Inglês como Segundo Idioma e atualmente acadêmica do Curso de PhD na área de Educação Internacional na mesma Universidade. International Baccalaureate Expert, consultora e colaboradora de escolas IB ao redor do mundo e especialização na formação de professores em “O Inglês Como Segundo Idioma” TESMC – Lexis Education – Australia. “I profoundly believe that all of us are lifelong learners, therefore I encourage my students to be inquirers and open-minded with the ultimate goal of becoming the best version of themselves. I believe every human being can learn granted the appropriate tools and with scaffolding support. Additionally, I promote opportunities to my students for self-management developing independent learners who recognize their strengths and needs through reflection. Lastly, critical thinking is indispensable to facilitate learning and expand individuals’ perspective as global citizens with the intention of strengthening their links towards their socio-economic responsibilities.” Atualmente mora em Cantão - China