Ao buscar um trabalho, as instituições costumam focar no conhecimento sobre a área específica e no currículo do postulante, em geral, focam nas competências visíveis e palpáveis do interessado. Existe uma máxima: “contrata-se pelo conhecimento técnico e despede-se pelo relacionamento/emocional”.
Costumo afirmar que o sucesso e a satisfação de nossas vidas estão calcados em dois pilares. O emocional e o intelectual! O latim diz que intelecto significa ler por dentro, seria uma potência cognitiva do humano. Neste texto vou usar esta parte cognitiva do significado. O intelectual comporta vários ativos, como inteligência, raciocínio, formação acadêmica, narrativa, habilidades técnicas etc. Aqui, para os quem têm ferramentas para buscar este investimento, as fundações são mais fáceis de serem implantadas. Curso superior, PHD, mestrado, doutorado, falar vários idiomas, experiência no exterior, são alguns passos que levam a pessoas a se diferenciarem e, possivelmente, se darem bem, ganhar dinheiro, ter reconhecimento e poder.
Intelecto significa entendimento, raciocínio, reflexão. Intelecto vem do latim e significa ler por dentro, é uma potência cognitiva da alma humana, através da qual ela conhece algo de si, algo que lhe rodeia e algo que a transcende. O intelecto é uma faculdade um ato, que é exercitado através da inteligência. Aquele que faz uso do intelecto se denomina inteligente.
Os inteligentes e com boa diferenciação acadêmica, podem se tornar seres imbatíveis na contestação, defesa de posição, retórica e narrativa. Se usarem estas competências para submeterem os que pensam diferentemente, seria uma grave distorção. Evidentemente, não estou desqualificando os que desenvolveram estas capacidades com muito esforço e dedicação.
O outro pilar dito emocional, psicológico ou inconsciente é por onde transita nosso imaginário. Através de nossas percepções, reflexões, sentimentos, afetos, amores, insights, inseguranças, temores, incertezas. Costumamos ter pouca intimidade com estes labirintos subterrâneos que alimentam e compõe nossa psique ou alma.
Trago um exemplo para ilustrar o poder do emocional para comprometer nossas vidas e o desempenho. Algumas pessoas perderam a chave para poder adentrar e investigar seu próprio imaginário, são as ditas obsessivas. São competitivas, disciplinadas, programadas, organizadas, competentes nas suas atividades, mas acabam não entregando o que poderiam entregar, pois ficaram presas nestas armadilhas emocionais. Ou seja, o intelectual, a razão, o cognitivo as paralisou. Faltou a elas o tempero ou destempero do imaginário. A ousadia de abrirem as comportas do psicológico, onde as fronteiras são muito flexíveis ou, às vezes, não sabemos onde começam e onde terminam. Talvez a palavra transgredir seria saudável para os obsessivos. Ficaram aprisionadas no racional e só enxergam o concreto, o palpável.
O emocional pode vir parcialmente comprometido por fatores genéticos, experiências nocivas na infância e na família e que podemos nem perceber estes comprometimentos. A seguir, para facilitar o entendimento do leitor farei uma pequena explanação sobre os caminhos do adoecimento emocional.
Podemos ter limitações e comprometimentos psicológicos em decorrência de fatores genéticos/bioquímicos, como alterações de neurotransmissores, acarretando problemas que vão necessitar uso de medicações. O outro grupo de limitações de nossa psique são os ditos transtornos de personalidade, como: paranoides, borderlines, explosivos, depressivos, histriônicos, fóbicos, obsessivos, passivo-dependentes e outros. Também preciso destacar que experiências existenciais traumáticas podem nos adoecer emocionalmente. Estes dois últimos as psicoterapias são mais indicadas.
Voltamos a pergunta do título. O que pesa mais em nossas vidas? Claro que tenho e não tenho esta resposta para oferecer, mas parece que o intelectual está mais na nossa mão, no sentido de podermos desenvolvê-lo, quando percebemos sua falta.
A falta de recursos psíquicos, costuma não ser reconhecida por muitos. O comprometimento da psique pode acarretar ansiedade, abatimento, tristeza, irritação, insônia, lacunas existenciais, dificuldades de desenvolvermos relações afetivas, amorosas, em suma, impedir que a vida seja mais interessante e prazerosa. Este comprometimento psicológico, pode carregar uma sensação de vazio, de falta, mesmo naqueles que conseguem sucesso profissional, reconhecimento, dinheiro e poder. Se me fosse imposta uma escolha sobre onde investir mais, qual pilar reforçar e tendo só uma opção, preferiria engrossar o pilar emocional em detrimento do intelectual.
Uma boa maneira de fortalecer a nossa base psíquica pode se dar através de relações transparentes, verdadeiras, com intimidade, perceber o outro e suas diferenças, tolerar que não concordem com nossas ideias, poder ser claro em nossas narrativas, não se submeter com a fantasia que seremos cuidados e amados. A presença de interlocutores atentos e perceptivos é uma boa maneira de buscarmos nos conhecer. Procurar ajuda de um profissional da área da saúde mental poderá fazer toda a diferença no curso de nossas vidas. Não tenham preconceito com os sofrimentos mentais e com pessoas que estão sendo acompanhadas por psicólogos ou psiquiatras.
Devido à grande subjetividade destes tratamentos, fiquem atentos! Caso não se sintam entendidos em alguns encontros pensem na ideia de buscar uma segunda opinião, outro terapeuta. Como se fizéssemos um “teste drive” com veículos e depois escolhêssemos o melhor. Muitos acham uma bobagem necessitar alguém para ajudar a nos entendermos, como se indicasse uma fragilidade ou fracasso diante da vida.
Imaginem a presença de um psiquiatra acompanhando políticos de um escalão mais representativo? O político só poderia se manifestar depois de uma breve conversa diária com o terapeuta, para depois largar o verbo! Poderia fazer uma grande diferença nos caminhos de algumas nações.