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Será que a conectividade instantânea das redes sociais está nos fazendo humanamente melhores? Estaremos adquirindo maior capacidade de ouvir uns aos outros, compreendendo diferenças, expondo opiniões pessoais com cordialidade e, fundamentalmente, criando um ambiente saudável para o entendimento e consensos civilizatórios mínimos? Ou será que a conectividade nos tem tornado impacientes, agressivos, intolerantes e autoritários? Serão as redes nominalmente “sociais”, mas materialmente “antissociais”? Aliás, será tudo culpa da tecnologia ou de uma humanidade que está deixando o seu humanismo morrer?

Ora, problemas complexos não derivam de causa isoladas, sendo justamente o somatório de causas e concausas que atribuem complexidade à questão. Quanto ao ponto, não há dúvida de que a conectividade tecnológica é uma das marcas de relevo da contemporaneidade. E é também inegável que a facilidade de conexões digitais transformou o sistema de comunicação humana, tanto para fins pessoais como negociais. Objetivamente, o processo de globalização econômica – que gerou prosperidade e avanços científicos sem precedentes à humanidade – precisava de um fluxo informacional universal, sem atrasos nem fusos horários, que estivesse online 24 horas, nos 7 dias da semana. Sim, chegamos lá. Mas a que custo?

Pois bem, o custo parece estar sendo humanamente demasiado. Não digo impagável porque sempre temos a possibilidade de reescrever enredos para melhores fins. Sabidamente, o progresso é uma possibilidade inata do humanismo virtuoso, sendo o retrocesso a circunstância danosa de quando abandonamos a nós mesmos. Na insuperável expressão de Byron, a humanidade é “o pêndulo que oscila entre o riso e a lágrima”. Na ambivalência do possível, a vida acontece entre rotas sinuosas.

Em abril de 2012, logo após publicar seu excelente “Alone Together”, Sherry Turkle escreveu marcante artigo no New York Times sobre a crescente substituição de conversas reais e pessoais por meras conexões tecnológicas; afirmou que “em nossa pressa de nos conectar, fugimos da solidão, da nossa capacidade de nos separar e nos reunir”, realçando ainda que “se não formos capazes de ficar sozinhos, é muito mais provável que nos sintamos solitários”; ao final, bem expôs que “podemos demonstrar o valor da conversa aos nossos filhos. E podemos fazer a mesma coisa no trabalho”, afinal, “precisamos nos lembrar — entre textos, e-mails e postagens no Facebook — de ouvir uns aos outros, mesmo as partes chatas, porque é geralmente em momentos não editados, momentos em que hesitamos, gaguejamos e silenciamos, que revelamos nós mesmos uns aos outros”.

O fato é que não basta digitar “eu te amo”, é preciso olhar nos olhos, tocar, guardar o semblante e falar com a voz do sentimento. Não basta mandar uma mensagem de “bom jogo de futebol” ou “boa apresentação de ballet”; é preciso estar lá e viver conjuntamente tais momentos com nossos filhos e filhas. Na verdade, é preciso construir a eternidade de memórias vivas ao invés de meras fotos sequenciais não reveladas. Ou seja, a tecnologia é complementar e, não, substitutiva ao humanismo afetivo, virtuoso e pulsante.

Em época de tanta confusão e conflitos, talvez o reencontro esteja no resgate de velhos hábitos que nos fazem humanos: a boa conversa feita com pessoalidade e respeito, o cultivo de amizades sinceras, o sorrir diante das alegrias, as lágrimas nos momentos de despedida, a capacidade de amar e ser amado. Tudo muito simples e acessível. Está em nós, logo ali na primeira esquina do que realmente somos.

Um comentário

  • Fabiana disse:

    Para não se perder a freguesia, a esquina do encontro será no metaverso. Avatares sentirão nossos sentimentos humanos, será?

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Sebastião Ventura

Advogado, especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande Sul. Ver perfil completo >>