Eu pretendia utilizar esse espaço para falar sobre sororidade e o quanto as mulheres têm evoluído na prática do empoderamento e fortalecimento mútuo.
Não podemos confundir sororidade com cumplicidade irresponsável, o que pode trazer péssimas consequências para a almejada equidade que vem sendo construída com muitas iniciativas incríveis, redes de apoio, grupos de mentoria, treinamentos, capacitações, sessões de coaching, autoajuda, terapias e toda sorte de informações disponíveis para elevar e qualificar cada vez mais nossa presença em espaços de liderança e poder, muitos ainda sendo ocupados com ineditismo no ambiente corporativo e em Instituições da nossa sociedade. O tão almejado Protagonismo Feminino avança e os resultados já são perceptíveis.
O ponto central da minha reflexão nesse Dia Internacional da Mulher, no entanto, é sobre nossas atitudes mentais, emocionais e racionais, entendendo que, na nossa integralidade humana, se uma está prejudicada, todas as outras restam comprometidas.
A forma como estamos lidando com nossas frustrações, muitas delas decorrentes de uma maior exposição aos riscos, pois nosso crescimento não vem de graça e há muito tempo o romantismo deixou de ser uma opção para mulheres que atuam num nível de alta performance sendo cobradas por prazos, entregas, resultados, onde o espaço para errar é mínimo e o abismo das críticas é gigantesco. Como estamos nos equilibrando nesses espaços? Com quem estamos podendo contar para desabafar, pedir conselhos, corrigir a rota das decisões, fazer nossas escolhas?
Com que responsabilidade estamos reportando feedbacks, elogios, críticas, comentários e julgamentos? Estamos sabendo o momento certo de manifestar opiniões? Estamos utilizando as ferramentas adequadas para tal? Qual energia e sentimentos estão permeando nossas ações (amor, cooperação, raiva, inveja)?
Fato recorrente aconteceu comigo recentemente em situações totalmente independentes, inesperadas, de forma incômoda e constrangedora, agravada pelo fato de ter partido de duas mulheres que nem se conhecem, mas que se dirigiram a mim, em diferentes circunstâncias, com críticas espontâneas (leia-se: não solicitadas) que eu considerei pouco construtivas.
A primeira, me abordou num espaço público para criticar uma apresentação que eu havia realizado no dia anterior que ela julgou inconveniente, descontextualizada, que fugiu ao propósito do momento e que eu estava querendo me sobressair às demais pessoas envolvidas no contexto. Por ser portadora clássica da Síndrome da Impostora, costumo ter uma autocrítica bastante exacerbada e nesse dia eu sabia que minha apresentação tinha sido boa. Portanto, a abordagem não me desestabilizou.
A segunda, me abordou numa ocasião social, alçando-se a um nível de intimidade que nunca houve entre nós, aproveitou a primeira oportunidade de estabelecer um diálogo descontraído, despretensioso para me dizer que estava preocupada comigo, pois eu estava me afastando da minha essência. Numa tentativa clara de me desconstruir num dos meus valores mais preciosos. Minha essência é minha alma, um valor fundamental, um pilar da minha existência e, certamente, se um dia eu me perder dela, não será difícil perceber, eu estarei em depressão profunda. Num mundo que passa por transformações tão acentuadas estamos constantemente expostas e sujeitas a crises de solidão, baixa autoestima, desesperança, pânico, falta de amor próprio. Não estamos blindadas a esses episódios fortuitos e penso que uma das maiores causas de doenças mentais na sociedade contemporânea se deve a vivências medíocres, desumanizadas e desconectadas dos valores que dão sentido à existência. Isso pra mim é fundo do poço, onde algumas pessoas caem e emergem mais fortes, mais conscientes, mais resilientes.
Nas minhas reflexões percebi que o peso dessas duas situações fala mais sobre as pessoas que se acham no direito de me julgar do que sobre mim mesma. Cada um mede o outro com o tamanho da própria régua. A minha jornada é única, construída com múltiplos esforços, com minhas dores, meus defeitos e qualidades. Respeito é o mínimo que eu espero. O máximo é que sejamos genuinamente mulheres que impulsionam outras mulheres.
Espero que nenhuma de nós precise chegar ao fundo do poço para descobrir suas potencialidades, mas se isso acontecer, que possamos ser a mola que projeta pra cima e faz emergir desse poço uma mulher auto suficiente, consciente do seu potencial, que não precise diminuir ninguém para se sentir vitoriosa.
E pra não ficarmos só com exemplos negativos eu quero falar da verdadeira sororidade, praticada na forma de um vestido branco, longo, lindo e cheio de brilho que uma amiga me emprestou para que eu pudesse brilhar no carnaval de Porto Alegre atendendo ao chamado de outra mulher incrível, Presidente da minha Escola de Samba do coração que me fez o convite para desfilar como destaque no carro que homenageava a força da ancestralidade.
Desejo que esse 8 de março nos torne mais preparadas a conviver com os múltiplos talentos que nos cercam, suportar o sucesso alheio, aceitar a inteligência, a timidez, a beleza, a breguice, menos a grosseria e a indelicadeza travestidas de sinceridade. Precisamos aprender a conviver com as imperfeições, vibrar com as conquistas umas das outras e impulsionar mais mulheres para o topo das suas próprias jornadas que são únicas.
FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
