Maria é uma linda criança que vive em uma região desfavorecida; frequenta escola pública; é filha de uma família modesta, com pais sem curso superior, porém estruturada em um lar de afeto e amor.
O pai trabalha como pedreiro em uma empreiteira local; levanta todos os dias às 5 horas da manhã, pois precisa pegar dois ônibus para chegar ao canteiro de obras; a mãe, diarista, faz limpeza em 5 casas diferentes; embora acorde cedo como o marido, somente sai de casa após ver que a filha comeu um pãozinho ou a fruta que coube no orçamento da semana. Tudo muito simples, mas com dignidade.
Apesar da desvantagem econômica, Maria está em melhores condições emocionais que muitas crianças brasileiras: não convive violência ou abandono parental, não sofre com o alcoolismo dos pais nem jamais foi abusada sexualmente. O desafio de Maria, portanto, é ser pobre em um país que perpetua desigualdades por força de um sistema educacional falido, caro e ineficaz.
Ou seja, caso tenha uma chance real em sua vida, Maria poderá dar vasão às potencialidades do seu ser, encontrar seu talento e, com trabalho sério, diário e dedicado, transcender economicamente em um ciclo virtuoso de ascensão social familiar. E o mais incrível: se tiver uma base matemática e um conhecimento intermediário de inglês, Maria estará apta a aprender as lógicas de programação e, assim, ainda muito jovem trabalhar no aquecido mercado global da tecnologia, se transformando na maior fonte de remuneração da casa.
Sim, vivemos um tempo de mudanças aceleradas e estruturalmente transformadoras. Precisamos, portanto, do urgente protagonismo daqueles que compreendem as dinâmicas da contemporaneidade e, com sensibilidade de mundo, são capazes de transcender as dificuldades postas em prol do bem das pessoas.
Chega de só reclamar sentado no sofá; críticas acesas incendeiam, mas fazem apenas buracos n´água. Nossas crianças merecem mais, pois almejam só, e somente só, a chance de uma vida melhor.
Na justa expectativa de sorrir amanhã, a Maria agradece, trazendo consigo o Felipe, a Ana, a Flávia, a Camila, o Fernando, o João e toda legião de crianças desfavorecidas que merecem ter a sorte de nascer no Brasil e, não, o azar de estarem condenadas à miséria permanente.