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O Ano é 2043, os primeiros alunos da geração Beta estão ingressando na Universidade em alguma profissão que talvez ainda nem tenha sido criada nesses idos de 2025. Talvez nesse 2043 eles já estejam cursando uma pós-graduação, ou talvez todo o sistema educacional já tenha sido resetado e estaremos diante de uma nova estrutura de ensino autogerenciável, autodidática totalmente virtual e conduzida por uma Inteligência Artificial altamente preparada, titulada e qualificada para a função.

Como professora do ensino superior na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, não posso deixar de pensar no futuro do ensino acadêmico e dos procedimentos convencionais que começam a sofrer os primeiros impactos do uso da I.A. Generativa de forma muito impactante e irreversível. A pressão dos alunos por provas virtuais chega a ser constrangedora.

Faz sentido seguir aplicando provas presenciais, escritas à mão e corrigidas uma a uma de forma artesanal pelo docente quando no dia a dia das empresas estamos rotineiramente diante de uma tela de computador, digitando, consultando e buscando instantaneamente as informações necessárias para qualquer demanda a ser solucionada? Seja via Google, Copilot, ChatGPT (GPT-4), DALL-E, Runway ML, DeepArt, Jukedeck.

Não há um único dia que eu adentre uma sala de aula presencial e não me questione sobre o futuro das interações interpessoais, ou imagine um futuro em que estaremos convivendo de forma híbrida com alunos humanos e robôs, professor robô e alunos humanos, ou outras combinações que a ficção científica seja capaz de idealizar e a mão humana produzir. Com tantos prognósticos e estudos sendo divulgados diariamente, não consigo parar de imaginar como será o futuro da Geração Beta que passa a ser integrada por todos os nascidos a partir desse ano de 2025 e que serão a primeira geração que será criada e educada dentro dos novos paradigmas da I.A.

Segundo o pesquisador australiano Mark McCrindle, a geração Beta é o grupo etário nascido a partir de 2025 até 2039 e com a inteligência artificial incorporada à vida cotidiana, representará cerca de 16% da população global em 2035 e muitos viverão a transição para o Século 22.

 “A Geração Beta segue a Geração Alfa (nascidos de 2010 a 2024). Nós os chamamos de Alpha e Beta para significar não apenas novas gerações, mas as primeiras gerações que serão moldadas por um mundo totalmente diferente.” (2)

Enquanto a geração Beta vai nascendo, sendo estudada e projetada, muitos desafios das várias gerações que se misturam no atual momento da sociedade começam a apresentar os primeiros sinais do colapso provocado por tantas interações virtuais, midiáticas, tecnológicas e geracionais num verdadeiro mosaico global pós pandêmico e com nítidos sinais de comprometimento na saúde mental e convívio social entre pessoas. Já sabíamos que precisaríamos lidar com as consequências dos dois anos de confinamento a que fomos submetidos e que acelerou a necessidade de avançarmos no uso de tecnologias, plataformas virtuais para trabalhar, se divertir, namorar e sobreviver num mundo sob ameaça. A conta chegou e essa equação não foi estudada nas aulas de álgebra e aritmética.

A vantagem de atuar no ambiente educacional é que temos a oportunidade de vivenciar essas mudanças de forma instantânea e acompanhar a mutação acontecendo diante dos nossos olhos em tempo real. É exatamente nessa curva que surge o principal dilema: seguir o modelo tradicional com algumas adaptações ou mudar radicalmente a forma e obter resultados inéditos, escaláveis e disruptivos?

Esse salto no escuro talvez seja o mais difícil de ser dado. A ciência não tem como pesquisar algo que nunca aconteceu, no máximo, fazer projeções futurísticas no mais perfeito exercício de futurologia, pois os algoritmos estão a nossa disposição para serem manuseados e estão sendo.

É o algoritmo que decide quem irá receber a sua postagem da rede social, que conteúdo será ofertado no seu streaming de filmes, seu próximo destino de férias, sua próxima hospedagem, restaurantes, estilo de roupa, cabelo, maquiagem e até quem você vai paquerar, ou melhor, dar match. Estamos vivenciando a falsa ilusão de que tomamos nossas próprias decisões, mas como podemos decidir, se as opções estão sendo limitadas por um algoritmo que insiste em nos manter dentro de uma bolha?

A Inteligência Artificial está nos confinando a uma burrice consensual ou chatice natural disfarçada de opção. “Estamos aceitando ter nosso poder de escolha limitado. É confortável! É cômodo! É seguro!”

Diante dessa realidade, quase não ousamos, duvidamos da nossa capacidade de criar textos próprios, pois acreditamos no poder superior de uma inteligência suprema criada artificialmente e com capacidade de processamento de dados infinitamente absurda, mas que erra se não for bem prototipada. Não tem como competir, precisamos nos aliar e potencializar nossos resultados de forma estratégica, mas sem ilusão. Esse caminho não tem volta.

Segundo Martha Gabriel “Uma pessoa mediana empoderada com tecnologia torna-se melhor do que o maior expert humano trabalhando sem tecnologia.” (3)

Não há que se discutir o ganho de performance promovido pelo uso eficiente das ferramentas de I.A. Generativa, no entanto, a falta de cuidado e a preguiça estão promovendo os primeiros estragos. Recentemente, um veículo de comunicação impressa, divulgou uma matéria na qual o editor esqueceu de revisar o texto e este foi publicado com o prompt do ChatGPT, promovendo uma verdadeira “pérola” de “memes”. A notícia começava com o seguinte parágrafo: “Eu quero que você aja como um jornalista com mais de 20 anos de experiência. Eu vou te dar um texto e você vai criar uma reportagem jornalística, em português, para um jornal impresso no Brasil, de forma isenta, sem emitir opiniões e sem adjetivação:” (4)

Já nesse ano de 2025, minha primeira atividade de correção de trabalhos de alunos de um programa de MBA de uma Universidade do interior do Rio Grande do Sul, me revelaram a triste realidade dos textos produzidos por inteligência artificial. O conteúdo, aparentemente adequado, mas sem a curadoria necessária do signatário, revela a face obscura dos problemas que estaremos enfrentando em breve. Abordagens repetitivas, sem criatividade textual e, o que é pior, se o comando não for cuidadosamente preparado, pode produzir textos irretocáveis sob o aspecto linguístico, redacional, mas com conteúdo inadequado. Eis que uma aluna caiu na cilada de entregar o trabalho sem a devida revisão e este não apresentava as informações solicitadas. Ficou incompleto e não obteve a nota mínima para aprovação. Uma leitura atenta ao que a I.A. produziu teria sido suficiente para salvar a nota, mas esse cuidado básico não estava no protocolo da estudante, aspirante ao diploma de Pós-Graduação.

Ao acompanhar as primeiras informações sobre o nascimento dos novos Bebês Beta, me projeto no tempo para entender se terei condições de ser a Professora deles e a única conclusão que chego é que preciso criar logo meu avatar, animá-lo com o máximo possível de informações a meu respeito, meus artigos, minhas pesquisas, meu estilo de linguagem e torcer para que o algoritmo trabalhe a meu favor na busca do máximo de informações que complementem  fielmente o que minhas pernas e minha mente não puderam alcançar nesse plano limitado da inteligência natural. Tenho certeza de que animada por inteligência artificial sou infinitamente mais performática do que a Mestre que ministra suas disciplinas numa sala de aula convencional e com recursos limitados. No cenário virtual o chat GPT já me fez Doutora, pesquisadora renomada e influenciadora de milhões, só desafio essa inteligência a reproduzir meu carisma e simpatia, isso creio que ainda é uma vantagem competitiva reservada aos que tem o privilégio de conviver comigo no ambiente presencial da vida real.

Referências:

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Ana Tércia L. Rodrigues

# Contadora, # Mestre em Administração e Negócios (PUCRS) # Professora Universitária (UFRGS) # Presidente do CRCRS # Membro da Academia de Ciências Contábeis do RS # Conselheira Fiscal da ONG Parceiros Voluntários # Mentora, Palestrante, Escritora