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Refletir sobre o seu modelo de negócios através de um paralelo com os sete pecados capitais pode ser um exercício transformador

Cinema é uma grande paixão que compartilho com toda a família. Semanalmente vejo mais filmes do que a maioria e menos do que gostaria. “Seven” é uma produção de suspense muito elogiada do ano de 1995 que há muito estava na minha lista de filmes para assistir, mas que relutei em ver por conta da violência da trama. Me rendi à insistência de meu filho, resolvi assistir e não me arrependi. Apesar das cenas realmente violentas, a história é fascinante e o final surpreendente. Um resumo da sinopse: Morgan Freeman e Brad Pitt — no seu auge — investigam em uma caótica metrópole americana um serial killer cujo modus operandi é cometer seus crimes segundo os sete pecados capitais, na seguinte ordem: gula, avareza, preguiça, luxúria, soberba, inveja e ira.

Não pretendo dar spoilers do filme e sim ênfase ao tema: os sete pecados capitais. Segundo a Bíblia, a civilização iniciou pecando. Ao comer a maçã, Eva deu origem a todos nós. Portanto, humanidade e pecado andam juntos. Com ou sem intenção, pecamos diariamente. Sem a carga da culpa religiosa, gostaria de me ater às consequências destes pecados em nossa vida corporativa, e no caso deste artigo, no setor de varejo. Vou seguir a trilha de nosso serial killer mencionado, e iniciarei falando sobre a Gula.

A Gula

Dicionário de sinônimos: avidez, apetite, esganação, fome, voracidade, ansiedade, olho grande

É do senso comum entender que, para que um estabelecimento varejista se justifique, ele precisa ter uma demanda mínima constante de consumo. O desafio é manter e, principalmente, ampliar essa demanda nos tempos atuais. Em um mundo em transformação tecnológica e comportamental este desafio é ainda maior. Aumentar o número de pontos de vendas, diversificar mix, contratar publicidade, investir em e-commerce, remodelar lojas, criar novas experiências para o consumidor, são apenas alguns exemplos de possíveis estratégias para o varejo. O problema está em confiar demais em seus instintos e não em análise de fatos.

Um exemplo recente do que podemos enquadrar no pecado da Gula é o case da Forever 21. A famosa rede americana entrou com pedido de recuperação judicial no final de 2019 nos EUA. Das aproximadamente 800 lojas que possuía mundialmente, encerrou cerca de 350 operações em 2020. Em 2022 fechou sua operação no Brasil. Números significativos para quem até pouco tempo era referência de vanguarda em moda jovem. Muitas são as especulações sobre os motivos dessa derrocada. Mas o que chama a atenção foi o grande investimento em aumento de número de lojas, todas ocupando extensas áreas, em espaços caros de shopping centers. O gerenciamento desta mega estrutura exige grande esforço e investimento. O Diretor de Estudos de Varejo da Columbia University (EUA) Mark A. Cohen acredita que “lojas demais, em tantos shoppings em declínio, foram expandidas além do que a Forever 21 pode gerenciar de forma produtiva“. Paralelamente a esse movimento de expansão física, a adesão dos consumidores às compras online aumentou significativamente, e a Forever 21 não se preparou para essa mudança de comportamento. Pela voracidade com que a rede desejou crescer, aparentemente não realizou uma avaliação adequada de cenários para definição das melhores estratégias. Para a Forever 21, portanto, a Gula foi um pecado mortal.

Vivemos em uma era de transformação rápida em que o velho e o novo, o tradicional e o disruptivo, o reacionário e o progressista estão em conflito acirrado. A revolução digital é um fato que foi acelerado ainda mais pela pandemia. Gostemos ou não, nosso mundo nunca mais será como antes. Por conta deste cenário, devemos ressignificar nossos negócios sob pena de ficarmos associados à era bíblica, lembrando dos bons tempos com saudade, tendo sido exterminados por um dilúvio repentino. A boa notícia é que estamos justamente naquela etapa da revolução chamada “durante”, com a oportunidade de construir o nosso futuro para quando chegar o “depois”. Nosso resultado dependerá dos movimentos estratégicos que faremos agora. Uma fórmula promissora de construirmos essa ressignificação é avaliarmos o nosso modelo de negócio atual escrutinando justamente as nossas falhas. Por conta disso, estudar os sete pecados capitais pode ser um bom exercício. Começamos pela Gula. Convido você a seguir as pistas do nosso assassino de “Seven” antes que ele cometa o próximo pecado: a Avareza.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Letícia Polydoro

Diretora da Hypervisual Design de Interação, possui formação em Publicidade e MBA em Marketing pela FGV. Consultora do SEBRAE-RS, integrou a primeira diretoria da APDesign/RS, foi idealizadora do Grupo de Usuários em UI/UX da SUCESU-RS (GUIX) onde atualmente é Diretora de Grupos de Negócios. É também Vice-Presidente de Comunicação da Assespro-RS e articulista do Portal da Revista Amanhã — veículo especializado em economia e negócios da região sul.

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