Do clássico para lidar com o caos: dançando no ritmo do Efeito Lindy

Quando penso em escrever sobre um assunto, me envolvo profundamente com as ideias e sentimentos que ele evoca. Uma profusão de conteúdos e insights começam a formar um mosaico na minha mente e coração, competindo pela minha atenção. Eu menciono a mente e o coração, pois para mim, é essencial que o tema ressoe emocionalmente para que eu possa compartilhá-lo de maneira genuína.

Tentei escrever artigos com o chatGPT e bard, foram ótimos ajudantes, otimizaram o meu tempo de pesquisa e revisão, mas não conseguiram, ainda, expressar a minha alma.

Desde que comecei a pensar no que gostaria de escrever aqui para o Dynamic Mindset um termo vinha em minha mente: “Efeito Lindy”.

Vamos ao mosaico que criou dentro de mim:

O Efeito Lindy, mencionado por Nassin N. Taleb em ‘Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos’, propõe que devemos distinguir entre “o perecível (humanos, itens únicos) do não perecível, o potencialmente eterno. O não perecível é tudo aquilo que não apresenta uma inevitável data de expiração orgânica. O perecível é um objeto, o não perecível tem uma natureza informativa em si mesmo.”

A expectativa de vida de certas coisas, como ideias, tecnologias ou práticas, é proporcional ao tempo de vida que já tiveram. Em outras palavras, quanto mais tempo algo existe, maior é a probabilidade de que continue existindo no futuro. Por isso, quando estamos incertos sobre o futuro, revisitar os clássicos pode nos ajudar a adquirir as habilidades que serão indispensáveis. Parece um paradoxo, mas a busca por valores perenes é justamente uma forma de enfrentarmos as aparentes contradições e lidarmos com o caos.

Os clássicos (livros, filmes, pensamentos profundos) nos ajudam a resgatar os conceitos e valores humanos. O estudo da filosofia, por exemplo, pode ser um convite a esse retorno.

Quero lhe propor a olhar com atenção o conceito grego de “ousia”, articulado há mais de dois mil anos e citado por Aristóteles em sua filosofia, mas tão necessário quando se pensa no desenvolvimento do ser humano na atualidade. “Ousia”, que pode ser entendido como a essência ou substância de algo. “Ousia” é a ideia de que cada ser tem uma natureza fundamental que o define e o torna o que ele é. Nesse sentido, a “ousia” é o núcleo, o cerne de cada existência.

Alguns estudiosos da filosofia grega relatam que o termo “ousia” era como o camponês grego se referia ao seu pedacinho de terra. Aquela terra que ele tinha que cuidar, estar atento às intempéries climáticas, as estações do ano, em síntese, era o local onde a vida acontecia e tomava forma.

Convido você a refletir: como você está cuidando do “seu pedacinho de terra”?

E nesse dançar pelo mosaico criado pelo efeito Lindy, um outro clássico, agora da língua portuguesa, o poeta Luís de Camões, veio à mente com o poema: “transforma-se o amador na ‘cousa’ amada”. Nesse pequeno grande poema Camões descreve o processo em que o amador se transforma na “cousa” amada através do poder da imaginação. O amador deseja tanto a parte desejada que, ao imaginá-la intensamente, sua alma se transforma nela. Essa transformação é tão profunda que o corpo já não deseja mais alcançar nada além da alma transformada.

O que temos amado tão profundamente que tem o poder de transformar as nossas almas atualmente? O que tem esse poder em sua vida?

A conexão entre esse poema de Camões e o conceito de “ousia” nos remete à ideia de que a verdadeira transformação ocorre quando mergulhamos na essência das coisas, quando buscamos compreender sua natureza intrínseca e permanente. É por meio desse encontro com a essência que alcançamos um descanso efetivo, pois nos ligamos àquilo que é verdadeiro e imutável.

Não é surpresa que a ansiedade e o cansaço estejam cada vez mais presentes, pois cotidianamente andamos no sentido oposto.

Se não nos aprofundarmos em nossa natureza humana, em nosso “pedacinho de terra”, não estaremos preparados para utilizar da melhor maneira as diversas ferramentas e inteligências que estão à nossa disposição. Corremos o risco de cair no outro conceito citado por Taleb em seu “Antifrágil”: o intervencionismo ingênuo.

O intervencionismo ingênuo nos leva a acreditar que podemos planejar e controlar tudo em nossas vidas, o que pode nos deixar vulneráveis diante dos solavancos da vida, choques e fracassos. Em vez disso, devemos adotar uma mentalidade de adaptabilidade, aprendizado contínuo e resiliência, reconhecendo que o mundo é complexo e imprevisível.

Por fim, convido você a conhecer e aplicar sem medo ou moderação o efeito Lindy em sua vida. Revisite os clássicos sem receio de ser considerado “demodê”. Mergulhe em conhecimentos de filosofias milenares para amar a “cousa” certa e não se apegar a coisas externas. Esteja aberto às experiencias e novidades, aceitando a realidade tal como ela é, sabendo que podemos carregar dentro de nós e diante de qualquer circunstância a sabedoria e a virtude para alcançar a serenidade.

Muito grata por seu tempo e sua leitura!