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Um dileto amigo há anos me cobra uma definição pronta e acabada de o que é “ser de esquerda” e “ser de direita”. Temos voltado a este assunto seguidamente e nele incorporado a opinião de outros tantos amigos, e, inclusive – na certeza de que os livros ensinam, sim –, a de variados pensadores políticos e sociais.

                               Não há – como tantos já anotaram – um pensamento unívoco sobre o significado de tais expressões. Hoje, verifica-se a tendência de colocar à esquerda todas as manifestações de insatisfação em relação às estruturas que estão postas na sociedade, pelo que todas as lutas, enquanto expressões de grupos, por reconhecimento e ascensão social (inclusive as batalhas contra preconceitos) corresponderiam a posicionamentos esquerdizantes.

                               De minha parte, porém, com a carga, ainda, dos conflitos ideológicos das décadas de sessenta, setenta e oitenta (de que participei com bastante intensidade), tenho preferido entender que esquerda e direita são designações atribuídas a políticas econômicas que propugnam, respectivamente, uma e outra, por maior ou menor intervenção estatal na economia.

                               Assim, o espectro de esquerda vai desde a tributação de recursos privados para usos com finalidade pública até a expropriação de patrimônio particular (estatização) para a gestão governamental direta da economia. Já, em sentido contrário, o espectro das políticas de direita parte da atribuição do mínimo papel ao estado na economia até, no máximo, ao desenvolvimento de programas de seguro social (mais ou menos amplos, dependendo das forças econômicas do mercado) de amparo aos imprevidentes e aos menos aquinhoados.

                               Com tais pressupostos, indo procurar exemplos nas políticas aplicadas à economia dos últimos governos brasileiros, achei possível atribuir a José Sarney e a Fernando Collor de Mello a condição de os presidentes mais esquerdistas de nosso país. Que outros governos – senão os deles – intervieram com tamanho impacto e profundidade nas economias dos particulares? O Plano Cruzado de Sarney, intervindo na formação do preço das mercadorias (mecânica própria do mercado) através do congelamento, de tão radical que era, foi enaltecido pela economista Maria da Conceição Tavares (confessadamente de corte teórico marxista) através de pranto vivamente emocionado na televisão (quem não se sensibilizou?)! A intervenção do Plano Collor em todos os ativos financeiros dos brasileiros recebeu de Mercadante (o economista que acompanhava Lula, o candidato adversário do presidente então eleito) o acatamento teórico, quando ele, questionado sobre as falas atrapalhadas da ministra, disse que “é isto, mais ou menos, o que faríamos se tivéssemos sido eleitos!…”

                               De outra parte, de políticas econômicas que merecessem ser qualificadas como de direita – aquelas de favorecimento ao capital e aos ativos financeiros privados – encontrei excelentes exemplos nos governos petistas:

  1. O amparo ao crescimento de megas empreiteiras, alimentadas por desvios de recursos públicos, inclusive para atuarem “abroad”;
  2. O financiamento, com recursos de bancos públicos, de projetos de expansão empresarial em nível mundial, de empresas voltadas ao monopólio de setores ligados à alimentação;
  3. A desoneração fiscal da indústria automobilística;
  4. A concessão da exploração de portos e aeroportos à iniciativa privada;
  5. A outorga da implantação de programas habitacionais sustentados com recursos públicos a particulares;
  6. A manutenção, com inegáveis proveitos, das privatizações efetuadas pelo governo anterior, tão criticadas em momentos eleitorais etc.

                               Resistindo, para que os exemplos colhidos não viessem, por fim, a tornar estéril o tão surrado debate acerca de “quem é, afinal, de esquerda e quem é de direita (?)”, e, também, pelo simples gosto pela permanência da discussão, resolvi, então, construir uma nova conceituação: “de esquerda são aqueles que se dizem de esquerda; já, de direita, são aqueles que os de esquerda dizem que são de direita”.

                               Propus a meu amigo, enfim, a paz! Espero que ele a aceite, como sinal de sua sempre louvada boa vontade!

P.S.: Em nome da paz buscada, deixei de agregar ao texto o exame das políticas bolsonaristas.

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José Luís Marasco

Advogado, Escritor, Professor, Especialização em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade de Manitoba - Canadá