Em 2020, eu produzi uma apresentação, a partir de conhecimentos e reflexões acumulados nos últimos anos com um grupo de amigos e profissionais de negócios, cujo objetivo era mostrar prováveis tendências para um futuro pós pandemia, e ela recebeu o título de Breakthrough. Recentemente, parei para fazer um balanço deste conteúdo, e verifiquei que acertamos praticamente todas as previsões. Por outro lado, o que mais me intrigou é que as ações que mitigariam os problemas ou abririam novas fronteiras foram pouco implementadas. E isso é um problema!
Insights
Previmos que o Mundo passaria por uma transformação geopolítica, e isso provocaria grandes atritos, quebras na cadeia de abastecimento (supply chain), volatilidade nas moedas, dentre outros fatores. E como elemento de mitigação identificamos a necessidade de uma nova industrialização para o Brasil e outros países, além de uma renovação das parcerias internacionais visto a reconfiguração do tabuleiro global. Mas também debatemos sobre novos hábitos que formam nos consumidores e na sociedade em geral, e muito mais.
E o Brasil, um país neutro como sempre foi, é uma alternativa poderosíssima na necessária recomposição geopolítica mundial, pois sempre conseguimos estar muito bem com todo o mundo, pelos mais diversos ângulos, e somos produtores e exportadores de importantes commodities ligadas ao agronegócio e mineração, dentre tantas outras.
E o que está acontecendo neste momento, dois anos depois daquelas previsões, que foram acertadas?
Com a guerra na Ucrânia, estamos discutindo o abastecimento de fertilizantes para o mercado interno, visto uma dependência de 80% do fornecimento pela Rússia. A questão geopolítica trouxe uma fragilidade, por não nos termos preparado com antecedência. Faltam navios e contêineres, temos atrasos no fornecimento de insumos para as indústrias farmacêutica e química e a nossa industrialização não caminhou.
Os problemas que estamos discutindo hoje no Brasil são de certa maneira aqueles previstos em 2020 – aumento da inflação, aumento da taxa de juros, polarização política, por exemplo –, mas tomamos poucas medidas para revertê-las. Por que? É muito natural para o ser humano ter um insight e dizer: Achei o caminho! Mas no dia seguinte somos atropelados pela rotina, pela urgência. E então aquele insight poderoso se torna uma oportunidade perdida pois se falhou na execução.
Por tudo isso, o fato é que planejamento é imprescindível. Esse é o meu lado preferido como estrategista, e sou apaixonado por isso. Quem tem uma visão, tem de transformá-la num mapa estratégico e, em seguida, partir para a implementação.
Do insight à ação e geração de valor
O grande aprendizado nesses últimos dois anos é que nós brasileiros temos uma tendência de sentir muito, analisar pouco, planejar praticamente nada e partir para a execução. E toda vez que fazemos isso temos uma carga de perda de produtividade gigantesca, sem um caminho estratégico. Então, vamos tentando, tentando, com gasto de mais tempo, recursos, e de forma errática. Por isto é crucial termos diretrizes nas organizações e também na própria carreira profissional, como preparação para a auto-jornada.
Em algumas organizações em que trabalho de perto, seja como conselheiro ou em alguma outra função, nós conseguimos implementar muita coisa planejada nesses últimos dois anos. E elas mudaram de patamar.
Uma delas, na qual sou um dos fundadores, a Deep Seed Solutions, seguimos criteriosamente a nossa cartilha estratégica e muitos dos insights debatidos em nossos encontros New Directions e na palestra Breakthrough e o saldo foi que em 2022 abrimos um escritório em Houston, nos EUA, e estamos expatriando profissionais do Brasil para lá. No Brasil focaremos pesquisa, desenvolvimento e engenharia de petróleo. Nos USA, comercial, marketing e engenharia aplicada. Quem imaginaria uma empresa brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 2016 transformar-se em importante fornecedora de sistemas de inteligência em planejamento para projetos de exploração off-shore de forma integrada a projetos de ESG para companhias como Exxon, Repsol e Shell, globalmente? Esse é um exemplo.
Um outro exemplo: em uma indústria de bens de consumo, no segmento de higiene e beleza, tradicional, familiar, mineira de Divinópolis trabalhamos desde março de 2020, a um ritmo forte no sentido de navegar nestes mares desconhecidos, gerar valor para o consumidor, e a transformação foi tão grande que ela mudou seu faturamento de patamar, mesmo em meio à maior crise que já vivemos, e recentemente foi vendida com sucesso para um fundo de investimentos. Tudo isso porque houve uma disciplina rigorosa de capturar insights, planejar e executar, o tempo inteiro.
Insights => Sonho Grande => Plano => Pessoas => Execução
Observem que são dois cases brasileiros, de quem fez a diferença, gerou e capturou muito valor. Todos eles comprovam que apenas o planejamento não leva ao sucesso. Porque a execução do que é planejado ocorre por meio das pessoas. Neste ponto não posso deixar de resgatar a frase maravilhosa “A cultura come a estratégia no café da manhã”, do Peter Drucker. Ou seja, temos de sincronizar duas coisas ao mesmo tempo. Um plano poderoso mais o envolvimento das pessoas que vão executá-lo. E ambos têm de caminhar no mesmo ritmo, e assim consegue-se chegar lá na frente ao objetivo desejado.
A gestão da mudança deveria fazer parte do vocabulário de toda empresa brasileira hoje. Porque se depois da tempestade, vem a bonança, como costumamos dizer no Brasil, temos de levar em consideração que a frequência e velocidade com que as tempestades nos afligem tem sido cada vez mais rápida, pois tudo está acontecendo numa velocidade tremenda. Aquilo que era teoria hoje se confirma. Nós nem tivemos tempo de respirarmos aliviados quanto a Covid, e já vem a guerra na Ucrânia, e novas variantes da mesma pandemia começam a impactar Ásia e Europa. Moral da história: temos de nos preparar e a nossos times para saber lidar com mudanças, constantemente, sem parar, o tempo inteiro. E isso requer a busca de competências novas.
Muitas das pessoas que estão no mercado, necessitam se “reconfigurar”, e elas têm de se motivar a fazer isso. Porque as competências, para fazer esse movimento, são outras. Mas isso é assunto para ser aprofundado em outro artigo.
Em síntese:
1 – Esteja aberto a perceber riscos e oportunidades;
2 – Transforme esta percepção em insights;
3 – Transforme estes insights em um sonho grande;
4 – Planeje sobre como executar e conquistar este sonho grande;
5 – Execute obstinadamente, mudando seu plano sempre que o cenário exigir, mas jamais perdendo de vista onde se quer chegar: o seu Sonho Grande.
Excelente conteúdo !
Palavras de ouro: preparação / conhecimento / criatividade / estratégia / Ação.
Felipe, Muito obrigado! Sucesso!
Os problemas que estamos enfrentando hoje, mas tomamos poucas medidas para revertê-las. Por que? É muito natural para o ser humano ter um insight e dizer: Achei o caminho! Mas no dia seguinte somos atropelados pela rotina, pela urgência. E então aquele insight poderoso se torna uma oportunidade perdida pois se falhou na execução. Isso, exatamente, a velocidade das demandas de informaçôes e as necessidades são crescentes. Acredito que a gestão da mudança deveria fazer parte do vocabulário de toda empresa brasileira hoje, neste sentido.
Giovanni, Muito obrigado por trazer esta contribuição. Acrescentaria que a “gestão de mudança”é um termo / disciplina uq e também pode, para falar a verdade deve, fazer parte da vida de cada um de nós indivíduos também. Se conecta auto-desenvolvimento, up-skilling, ownership, auto-gestão, etc. Um abs,