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Começou um movimento em que as empresas parecem se preocupar com a saúde mental de seus colaboradores. A Ambev criou a diretoria de Saúde Mental! Imagino que Jesus já enfrentava problemas, tipo burnout com os apóstolos e outros seguidores.  Em outras palavras, os problemas emocionais sempre estiveram presentes em nossas vidas, mas hibernavam no depósito das organizações.  

Mas por que surgiu agora esta preocupação com a mente dos indivíduos?

Evidentemente a pandemia e todas suas consequências nos deixaram desnudos, quebrando a carapaça onipotente que muitos usam para se protegerem dos infortúnios e limitações da vida. Os telhados de vidros foram quebrados, nos expondo e nos despindo. A mídia ajudou a escancarar nossa negação diante da morte, mostrando toda nossa fragilidade e finitude. 

Ficar confinados em casa, cercados pelos ditos “entes queridos” também não tem sido uma tarefa fácil para muitos. Aumentaram as separações, conflitos familiares, desemprego, tudo precipitado pela pandemia. O trabalho online é interessante e saudável para algumas pessoas, outros sentem-se desamparados e sem bússolas para se orientarem. 

Bem, voltamos para a saúde mental. Não ter doença mental, tipo: depressão, ansiedade, burnout, fobia, etc., não significa que temos saúde mental.

Saúde mental é algo mais sutil e sofisticado e ao mesmo tempo simples.  Olhar, ouvir, dar atenção, acolher, não julgar, poder discordar, respeitar, ser verdadeiro e mostrar genuíno interesse pelo outro, é sinal evidente de boa saúde mental. Querer efetivamente abrir espaço para que as pessoas possam falar de si, sem temores de julgamentos e represálias.  

Formação acadêmica diferenciada, nível cultural elevado, bom nível socioeconômico, beleza, não significa mais saúde mental, apenas a possibilidade de sermos mais olhados e aplaudidos quando transitamos pelas ruelas da vida. 

Trabalhar com este tema é algo muito novo e sem rumos já desenhados ou definidos. Acho simples introduzir está pauta no cotidiano das empresas. É importante colocar estas temáticas para discussão, ofertando aos colaboradores espaços para ventilar-se temas ligados ao imaginário, entender as características de personalidade de cada um, fazer uma imersão aos porões do inconsciente para que possamos entender e decifrar as mensagens veladas oriundas dos que nos cercam e também a que emitimos. Editar filmes, teatralização ou pequenos vídeos podem ser usados para dar corpo e forma aos aspectos subjetivos das relações. Falar sobre nossas emoções, da subjetividade das relações, criará um colchão de proteção contra ansiedades, irritações, depressões, absenteísmo e presenteísmo. 

Todas estas abordagens transferem conhecimento e este sempre é redentor. A expulsão de Adão e Eva do paraíso, foi redentora para os humanos, pois generosamente Deus nos brindou com o conhecimento, através do ato de comer a maçã. Paraíso, significa em Persa antigo, jardim cercado por muros. É interessante pularmos alguns muros que nos colocamos ou que a vida nos oferta! 

Feito isto, quebramos com o maior entrave ao acesso à saúde mental. O PRECONCEITO!             

O preconceito por si só, nos emburrece e nos adoece.

Nossa mente precisa viajar, transitar, se permitir divagar, como se fosse o equivalente a um aquário que recebe oxigênio para manter vida neste meio aquoso. Na medida que não falamos sobre nossas angústias, temores, receios, raivas, chateações, frustrações ou sobre nossos afetos, vamos nos intoxicando e adoecendo emocionalmente. 

Bem-vindos a “ERA da Saúde Mental”! Esse negócio vai trazer grandes benefícios às empresas. As pessoas serão mais plenas, intensas e, provavelmente, mais felizes. Vale a pena investir em saúde mental.

Legal será o dia em que as pessoas possam dizer que fazem psicoterapia ou que vão a um psiquiatra e que tomam medicação, sem medo de serem apedrejadas ou execradas. 

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Nelio Tombini

Médico psiquiatra, CRM/RS 5440, psicoterapeuta, palestrante e autor do livro A Arte de Ser Infeliz - Desarmando as armadilhas emocionais.