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A vida adulta é, muitas vezes, uma sucessão de compromissos, metas e resultados. A pressão cresce, os prazos apertam e, sem perceber, a criança que éramos — cheia de imaginação, coragem e uma vontade sem fim de explorar o mundo — vai ficando para trás. Mas, se a gente parar para pensar, há algo de essencial que se perde nesse processo: a leveza e a criatividade com as quais encarávamos tudo quando éramos pequenos.

Lembra das tardes de verão? Daquelas tardes intermináveis de calor, brincadeiras e risadas com os amigos? Aqueles momentos eram mágicos, porque pareciam não ter fim. O tempo parecia parar, e a vida era uma grande aventura, cheia de possibilidades. Era como se estivéssemos no meio de um filme, onde tudo acontecia de forma intensa, mas sem pressa.

A infância, com seu ritmo desacelerado e despreocupado, contrastava com a vida adulta, que começava a se desenhar à medida que crescíamos. Quando pequenos, um simples dia de férias parecia uma eternidade de diversão, sem preocupações, sem prazos, sem as angústias que vamos aprendendo a carregar ao longo do caminho. Lembro-me de como a gente se perdia nas tardes de calor, correndo pelas ruas ou inventando mil histórias com os amigos. E nada parecia mais importante do que aquele momento, do que aquela sensação de estar vivo e imerso no que estava acontecendo ao nosso redor. Nada era mais importante do que estar ali, no agora.

E o que a vida adulta faz é justamente tirar esse “agora” de nós, ou pelo menos nos forçar a esquecer dele, fazendo-nos olhar constantemente para o futuro, a nos preocupar com o amanhã. Isso acaba consumindo o que temos de mais precioso: o presente.

Lembro-me de alguns filmes especiais da minha infância que nos mostravam esse lado mágico da vida, como Os Goonies, Clube dos Cinco ou Conta Comigo. São filmes que, além de proporcionarem grandes aventuras, ensinam algo muito simples, mas vital: a força da amizade, da colaboração, da imaginação e da coragem diante do desconhecido. Não é à toa que essas histórias se tornaram um marco, com seus personagens cativantes e situações que, mesmo quando desafiadoras, eram encaradas com o espírito de aventura. Essas histórias nos mostraram que, por mais difícil que seja o caminho, o importante é o quanto podemos aprender e crescer ao longo dele. E esse aprendizado não vem só da solução dos problemas, mas de como encaramos cada um deles.

Em Os Goonies, por exemplo, o grupo de amigos não encontra o tesouro sozinho. Eles precisam uns dos outros — cada um com suas habilidades e suas diferenças, mas todos com o mesmo objetivo. E é isso que falta, muitas vezes, na vida adulta. No ambiente de trabalho, a ideia de que precisamos fazer tudo sozinhos, de que o sucesso depende exclusivamente do nosso esforço individual, nos empurra para a sobrecarga, para o estresse e, muitas vezes, para o esgotamento. Mas a verdadeira chave do sucesso está na colaboração, no espírito de equipe, na capacidade de se unir para enfrentar os desafios. No fundo, somos todos como os Goonies: cada um com algo único a oferecer, mas todos juntos em busca do mesmo objetivo. É como se nossa vida profissional fosse uma jornada em que todos são importantes e têm algo a contribuir.

Já em Clube dos Cinco, vejo a magia da amizade surgir nas situações mais inesperadas. São cinco jovens de mundos diferentes, mas que, ao longo de um sábado de detenção, vão se conhecendo, se ajudando e descobrindo que, no fundo, todos têm mais em comum do que imaginavam. A história nos faz pensar sobre as várias formas de nos relacionarmos com os outros e como a empatia e o entendimento mútuo podem transformar uma situação aparentemente negativa em uma oportunidade de crescimento.

Isso é algo muito poderoso: a ideia de que, mesmo nas situações mais desconfortáveis ou difíceis, sempre há algo a aprender e alguém a quem se pode contar. É esse o espírito que falta, às vezes, nas nossas carreiras. Precisamos lembrar que, por mais desafiadora que seja a jornada profissional, as trocas, as parcerias e a colaboração podem transformar o ambiente de trabalho. E, em vez de ser apenas um lugar de pressão, o trabalho pode se tornar uma verdadeira troca de experiências, de aprendizados e até de momentos de leveza.

Em Conta Comigo, o que me toca é a mensagem de que, ao longo da vida, não conseguimos controlar todos os aspectos da nossa jornada. Mas o importante não é o fim da caminhada, e sim o que levamos de cada passo. Mesmo que a estrada seja difícil, que as pedras no caminho sejam muitas, o aprendizado, as amizades e as histórias que criamos ao longo do percurso são o que, no final, nos define. O filme retrata a vida como um processo de descoberta, e esse processo é o que realmente importa.

No trabalho, isso se aplica da mesma forma. Pode parecer que estamos sempre correndo atrás de um objetivo inalcançável, mas é preciso entender que o verdadeiro valor está nas experiências, nas pequenas vitórias diárias e, principalmente, no aprendizado que cada desafio traz.

Mas o que isso tudo tem a ver com o amadurecimento profissional? A resposta está na conexão entre nossa criança interior e o profissional que nos tornamos. Na correria do dia a dia, muitas vezes nos esquecemos de que podemos trazer para o trabalho um pouco daquela energia, da criatividade e da coragem das tardes de verão.

Não brincamos mais de esconde-esconde no quintal, mas, no fundo, as dificuldades que enfrentamos no trabalho são semelhantes aos obstáculos que superávamos na infância. O segredo é não perder a nossa essência. Como profissional, isso significa encontrar soluções criativas para problemas complexos, colaborar com os outros de forma genuína e, principalmente, não deixar a pressão sufocar nossa capacidade de olhar para o trabalho com um certo encanto, como fazíamos com as brincadeiras.

Não importa se o projeto é desafiador ou se o cliente está exigente; o importante é manter a energia de quem encara um novo desafio com entusiasmo e curiosidade.

Em nossas carreiras, muitas vezes nos tornamos tão focados nas metas e resultados que esquecemos de ser criativos, de olhar para o trabalho com os olhos de uma criança. No fim das contas, o que precisamos entender é que a jornada profissional não precisa ser uma corrida solitária e sem fim. Podemos, sim, viver essa jornada de forma mais leve, como uma aventura.

Se resgatarmos aquele espírito de criança, conseguimos enxergar os desafios como oportunidades de aprendizado e crescimento. Podemos ser ousados e criativos, colaborativos e confiantes. A vida adulta não precisa ser uma prisão de tarefas e obrigações, nem o trabalho, uma constante batalha contra o relógio. Podemos, sim, manter viva a essência das tardes de verão, mesmo em meio ao caos da vida adulta. A chave está em nunca perder a curiosidade, a coragem de se arriscar e a vontade de viver cada momento com intensidade.

Pense por um momento: o que você faria hoje se fosse capaz de sentir novamente aquela sensação de liberdade, de confiança e de prazer em viver que tínhamos na infância? Como isso poderia impactar sua maneira de trabalhar, de se relacionar com as pessoas ao seu redor, de enfrentar os desafios diários?

Talvez o segredo para viver uma vida profissional mais plena seja simplesmente se lembrar de que o trabalho é uma extensão da nossa jornada. Assim como nas tardes de verão, o importante não é só chegar ao final, mas sim aproveitar cada etapa do caminho.

O mais importante, talvez, seja entender que o tempo não volta, mas podemos, sim, resgatar o espírito de cada verão que vivemos. Não para fugir da realidade, mas para viver de uma forma mais plena e autêntica.

No fim, a verdadeira conquista na vida profissional não está no que alcançamos ao final de uma jornada, mas na forma como vivemos cada passo.

2 Comentários

  • Dionatan Netto disse:

    Carlos,
    Mais um belo artigo escrito por ti, que suscita uma excelente reflexão. Eu diria que a frase de fechamento vale para todos os âmbitos de nossa vida!
    Um abraço

  • Ana Mairesse disse:

    Carlos, sensacional tua reflexão!!! É um exercício constante este olhar para a essência da vida: nas conexões, na jornada em si, nas construções e nos aprendizados, mas principalmente no viver plenamente o hoje!

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Carlos Oliveira

Profissional de Tecnologia de Informação há mais de 20 anos, tendo atuado como Consultor e Gestor em projetos, inteligência de dados e soluções Saas. Leitor voraz, apaixonado pela construção de novas perspectivas, inovação e cooperação, Administrador e Estudante de Direito. Sigo acreditando na capacidade da sociedade, da civilização. Na reinvenção, na soma de qualidades e características únicas que nos torna humanos.