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As organizações que incluem ativamente as mulheres se beneficiam de uma maior inovação e melhores resultados. Tanto nas áreas técnicas como de gestão, elas trazem uma perspectiva global para os projetos e são motivadas por ajudar e ter um impacto na vida das pessoas – aliás, algo que nós, como consumidores, cada vez mais esperamos hoje em dia das marcas com as quais nos relacionamos. Os dados são do Anita Borg Institute, instituição com sede em Palo Alto, na Califórnia (EUA) que trabalha em mais de 50 países para estimular a inserção das representantes do sexo feminino no setor de tecnologia e inovação.

Então, se a participação das mulheres nas posições de gestão faz tão bem para os negócios e ainda traz o conceito moderno de inclusão para as empresas, porque ainda é tão difícil vermos representantes do gênero feminino à frente de grandes negócios?

Esse cenário, comum a todos os segmentos de mercado, ganha uma dimensão ainda maior se tivermos um olhar para os ambientes de inovação globais e para os players de tecnologia, que são a base para a criação dos empreendedores do futuro. Esse foi um dos assuntos muito discutidos na edição 2018 do Web Summit Lisboa, um dos mais importantes eventos de tecnologia e empreendedorismo do mundo, que reuniu 10 mil pessoas.

Diversos painéis com gigantes de tecnologia e starups disruptivas abordaram esse tema; sem falar nos esforços da organização do evento para estimular a participação feminina (algumas tiveram um bônus de 95% na compra do ticket). O resultado foi uma presença impressionante (em se tratando de um evento de tecnologia), de mulheres.

Uma pesquisa feita lá mesmo com as palestrantes, investidoras, fundadoras, participantes e membros da comunidade de tecnologia mostrou que, segundo elas, as relações de gênero na tecnologia se tornaram mais equilibradas nos últimos meses. Mas, por outro lado, ainda é evidente que há um forte desequilíbrio quando se trata de liderança – apenas 17% concordaram que viram uma melhora no último ano.

Para a CEO do Booking.com, Gillian Tans, políticas públicas, educação e iniciativas das empresas na direção de aumentar a igualdade de gênero são fundamentais para seguirmos evoluindo. Na companhia, um dos maiores de e-commerce de viagens do mundo, além da líder mulher, mais de 50% dos seus 17 mil funcionários são do sexo feminino.

Estamos vivendo um bom momento, com várias ações impulsionando essa virada de mindset. Porém, embora o caminho hoje seja muito mais promissor do que há alguns anos, os avanços não podem parar.

Antes do desafio de termos mais mulheres em cargos de liderança nas áreas que envolvem tecnologia, engenharia e ciências, é preciso aumentar a participação delas nestas profissões.

E aí é fundamental começar derrubando a barreira da identificação desses setores com o gênero masculino, e entender que existe uma divisão de profissões ditas femininas ou masculinas ainda muito presente na nossa cultura. Isso fica claro quando, muitas meninas enfrentam resistência quando decidem atuar nas áreas de engenharia ou outras profissões consideradas hard sciences. Na escola, também isso se reflete nos materiais didáticos, que geralmente utilizam imagens de meninos para ilustrar teorias da física enquanto as ciências humanas são associadas à figura da menina.

Uma das formas de questionar essa divisão entre os gêneros, e tornar a sociedade mais igualitária, é colocar o tema em debate. A troca de experiências é fundamental para a conscientização sobre o papel que as mulheres podem começar a ocupar em mercados ditos mais masculinos. Além disso, é importante que elas tenham modelos femininos de sucesso a serem seguidos, ou seja, quanto mais líderes mulheres maiores as chances dessa realidade ser replicada.

Levantamento feito pela Harvard Business Review sobre a presença das mulheres nas áreas de ciência, tecnologia e engenharia mostra que a escassez de modelos femininos deixa muitas delas em dúvida sobre o que é preciso para crescer: 44% das norte-americanas e 57% das chinesas sentem que, para progredir, precisam se comportar como um homem.

A percepção que elas têm da sua capacidade para atuar nessas profissões também precisa ser mudada. Mais da metade das mulheres ouvidas pela Harvard Business Review acredita que os homens têm uma vantagem genética nas áreas das ciências, engenharia e tecnologia.

Outro ponto importante é evitar que, depois que elas vençam essas barreiras iniciais e ingressem nas faculdades e no mercado de trabalho, acabem saindo. E isso é bem comum.

No Brasil, por exemplo, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE mostram que 79% das mulheres que entram nas faculdades da área abandonam o curso no primeiro ano.

Nos Estados Unidos, 45% das profissionais que trabalham nessas áreas são mais propensas do que os homens a deixar a indústria. Uma das explicações para isso é o ambiente hostil às mulheres, o que inclui, por exemplo, a criação de uma espécie de fraternidade masculina nas áreas técnicas.

Estudo mais recente, realizado pelo Booking.com, mostra que há uma evolução acontecendo – o que já pode ser celebrado. Quatro a cada cinco mulheres que atuam na área de tech globalmente querem ficar na área pelos próximos cinco a dez anos. Esse compromisso de permanecer é compartilhado por mulheres em diferentes fases de suas carreiras, ou seja, profissionais em início de carreira com um a cinco anos de experiência (80%), com mais de 10 anos de experiência (83%) e reentrantes para a tecnologia – que retornaram à indústria depois de fazer uma pausa na carreira.

As mulheres querem atuar nesta área, mas é preciso criar um ambiente propício para isso. Os desafios começam na inserção delas nas áreas ligadas à tecnologia e na permanência nesse mercado. As que vencem essas barreiras, muitas vezes se candidatam a lutar por cargos de liderança. E aí vem mais um degrau a ser superado. Estudos mostram que, nos cargos de gestão, elas se sentem obrigadas a comprovar constantemente a sua competência, e também enfrentam preconceitos. Um deles é o de que as mulheres que demonstram habilidades de liderança são menos simpáticas. Isso torna mais difícil para elas avançarem, pois sentem que, se demonstrarem as habilidades necessárias para isso, serão vistas como agressivas ou insistentes.

Tem muita coisa a ser superada ainda. O futuro parece um pouco opaco, mas o que se vê, e daí que penso que podemos ser otimistas, é cada vez mais pessoas cientes de que um cenário que não seja plural, é incompatível com a sociedade do futuro, onde a riqueza de ideias construídas em conjunto, com valores, ética e múltiplas habilidades se tornam cada vez mais decisivas para a transformação das empresas, das instituições e das cidades.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Patricia Knebel

Com mais de 15 anos de experiência no mercado de Comunicação, Patricia Knebel é repórter e colunista de Tecnologia e Inovação do Jornal do Comércio (RS) desde 2000 e idealizadora e responsável pelo blog Mercado Digital. Ver perfil completo >>

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