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É absolutamente frustrante olhar o insucesso brasileiro: um rico país continental derrotado pela incompetência política institucionalizada. Naturalmente, culpar apenas a política é um tanto injusto; nosso insistente fracasso tem uma parcela de culpa em nós mesmos, seja como sociedade apática ou pela indiferença egoísta. Gostamos de exclamar cidadania nas rodas retóricas, mas, no fim do dia, somos cidadãos de veraneio. Lutamos pouco por um país que precisa muito de nós. Feito o registro de autoconsciência, o fato é que a responsabilidade – ou irresponsabilidade – da classe política é majoritária e deve ser categoricamente apontada para maior nitidez do acidentado processo histórico brasileiro.

Veja-se a pobreza da situação institucional em curso: a esquerda, encabeçada pelo PT, só tem Lula, um político ultrapassado em ideias, métodos e procedimentos. Aliás, o atual governo está conseguindo a proeza de repetir os piores erros de Dilma: joga o país no calabouço do gasto público irrefreado, implode as contas públicas e, com isso, o próprio futuro das próximas gerações. Do outro lado, uma direita em gestação, sem projeto claro e definido, fica enredada nas idas e vindas do ex-presidente Bolsonaro, incapaz de unir o país em um projeto vencedor de capitalismo de mercado, melhora do ambiente de negócios, atração de investimentos e ampliação das oportunidades de trabalho e renda a todos os brasileiros.

No desvão político, o país virou um grande litígio. O problema é que impasses políticos não se resolvem por sentenças judiciais. O Supremo Tribunal pode até querer, mas jamais conseguirá resolver os fundos problemas nacionais. Ora, é afirmativo que a civilização exige um sistema de justiça independente, sério e imparcial, à luz de primados de devido processo legal e do constitucionalismo justo. Todavia, sem boa política, inexiste democracia saudável. Não há atalhos, mandados de segurança ou ações diretas de inconstitucionalidade para corrigir aquilo só – e somente só – a vontade legítima e soberana do povo é capaz de deliberar.

Aqui, chegamos ao redemoinho brasileiro: votar em candidatos ruins é como acender uma vela sem pavio à espera de milagres. Nossos partidos viraram uma usina de nulidades em desfavor da democracia política. Além do ocaso partidário, nossa elite (econômica, intelectual e cívica) é tímida na assunção de sua responsabilidade histórica com o futuro do país. Dessa forma, permanecemos em insistente infância democrática, brincando com assuntos seríssimos e de alto impacto social. Em outras palavras, a miséria de milhões de brasileiros, antes de acaso, é consequência direta de decisões burras, tomadas por políticos tacanhos, sob o beneplácito de uma sociedade civil sem projeto nem liderança de nação.    

Nesse contexto desencontrado, seguimos irrelevantes e perdidos no mundo. Há, segundo informações do mercado, aproximadamente US$ 50 trilhões disponíveis a investimentos em países com investment grade. Em momento de realocação de ativos, entre incertezas geopolíticas entre EUA e China, além de riscos bélicos em ascensão, o Brasil poderia servir de plataforma para investimentos de crescimento acelerado e de renovação da infraestrutura. Infelizmente, além do investment grade que se foi,também não temos segurança jurídica, nos falta capital humano de alta produtividade e, de brinde, ainda ofertamos insana burocracia pública em um sanatório tributário.    

Então, não é de surpreender que fiquemos na redoma do atraso, a discutir Lula e Bolsonaro. A comédia trágica, no entanto, não deixa de ser uma grande distração ao povo. Entre fantoches e carros de som, nossa luz vai se apagando em um horizonte político sombrio. Antes da noite, cumpre indagar: até quando a irresponsabilidade com o país levará o Brasil do nada a lugar nenhum?

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo, edição do dia 23 de junho de 2025

Um comentário

  • Cristian Cavalheiro disse:

    Se fosse elencar algumas ações emergenciais para os primeiros 100 dias seriam:
    1. Estabilização Fiscal e Econômica com Reforma Tributária de Emergência
    • Apresentar um pacote de responsabilidade fiscal com cortes de gastos improdutivos, metas críveis e transparência.
    • Aprovar uma minirreforma tributária emergencial com foco na simplificação (unificação de tributos e redução do manicômio fiscal).
    • Sinal claro ao mercado e à sociedade de que o populismo está fora de cena.

    ✅ Resultado esperado: Restaura a confiança, freia a fuga de capitais, reduz inflação e acena aos investidores com previsibilidade.

    2. Choque de Gestão e Governança no Estado (Reforma Administrativa inicial)
    • Revisão imediata de cargos comissionados, estatais ineficientes e penduricalhos.
    • Criação de um gabinete de transição técnica e ética, com metas públicas e indicadores mensais.
    • Início do plano de digitalização total dos serviços federais.

    ✅ Resultado esperado: Demonstração de seriedade na condução do Estado, combate ao clientelismo e valorização do mérito.

    3. Lançamento de um Plano Nacional de Educação Básica e Técnica com metas de 20 anos
    • Criação de um Programa Nacional de Excelência Escolar: foco em alfabetização, matemática e ciência.
    • Parceria com setor privado e institutos para expandir escolas técnicas regionais.
    • Lançamento de um ranking público das escolas e incentivo à formação docente de alto nível.

    ✅ Resultado esperado: Sinal ao país de que a reconstrução começa pelas bases; cria esperança, mobiliza a sociedade e corrige desigualdades de longo prazo.

    Por que essas 3?
    • Uma arruma as finanças (sem isso, não há governo);
    • Outra reorganiza o Estado (sem isso, tudo escorre);
    • E a terceira planta o futuro (sem isso, repetiremos o passado).

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Sebastião Ventura

Advogado, especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande Sul. Ver perfil completo >>