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Ser um apaixonado por Xadrez me ensinou muitas coisas durante a vida, são tantas analogias e ensinamentos que se aplicam a outras perspectivas que se tornaram até um clichê, com numerosos textos com a analogia do peão que pode virar a peça mais poderosa (a dama) se “não desistir”. Meu texto hoje também pega carona no Xadrez mas em um conceito muito menos conhecido: o pensamento Profilático.

A palavra Profilaxia tem sua origem no grego prophýlaxis, que significa “cautela”. É um termo bem comum na medicina e na odontologia e tem seu foco na prevenção/precaução de doenças, porém no Xadrez (conceito atribuído a   Nimzowitsch em seu livro “My System” de 1925) ele é muito usado como uma estratégia onde você tenta prevenir ameaças do adversário antecipando possíveis planos em um movimento pró-ativo, defensivo sim, mas que faz toda a diferença para não cair em posições indesejadas, manter a estabilidade e pôr em prática seus planos de ataque.

Este conceito é tão poderoso e bonito ao mesmo tempo que é facilmente transportado para a filosofia, Nietzsche, por exemplo, defendia o silêncio e a solidão como comportamento profilático contra a anulação de si criados em multidões e retomada do foco na grande virtude de cultivar a si mesmo.

Deixando de lado a história e os conceitos, observo que, nos turbilhões do dia a dia, as pessoas cada vez menos pensam sobre suas ações e se rendem aos impulsos irracionais, ao movimento que tira da inércia somente como reação a algo que já aconteceu e que, por si só, já está em atraso. A prática de minimizar os riscos, minimizar as chances para o azar, principalmente a longo prazo, é  transformadora.

Deixo abaixo uma reflexão sobre como alcançar uma postura profilática aplicada à busca da plenitude da vida e desenvolvimento do potencial.

Leitura da realidade

No xadrez, para realizar bons lances profiláticos é necessário estudo/avaliação da posição. É necessário pensar nas milhões de possibilidades, é necessário tentar se colocar no lugar de seu adversário, é necessário priorizar suas ações (pois você só tem um lance antes de ser a vez do adversário), enfim, é necessário que você pense.

Na realidade é a mesma coisa. Enquanto você estiver vivendo no automático, no pavoroso “deixe a vida me levar” você está a mercê de casualidades. Você se surpreenderia em quanta diferença faz quando você para, pensa e analisa antes de tomar alguma ação. Quando você se foca em perceber as nuances e detalhes que a realidade lhe brinda. Exige esforço, gasta energia, porém é extremamente efetivo.

Este é um assunto que sempre aparece em meus textos pois acho que é extremamente negligenciado. Aprender e treinar (sim, exige prática/estudo) a ler melhor a sua realidade pode ser o detalhe que falta para o seu próximo passo.

Quando eu falo de leitura de realidade eu estou falando de:

  • Prestar atenção nas causas e efeitos ao seu redor. Normalmente só focamos nas consequências e perdemos todo o aprendizado que cada reação nos ensina. Às vezes, conscientemente escolhemos fechar os olhos para a relação causa/efeito, quer exemplos:
  • Toda vez que você gasta mais do que ganha por exageros consumistas e depois reclama por não ter dinheiro.
    • Toda vez que você decide beber todas e reclama da ressaca.
    • Toda vez que escolhe o caminho mais curto para voltar para casa, porém é o mais escuro e perigoso e reclama quando é assaltado.

Deu para entender né? E não estou nem criticando as causas supracitadas, estou criticando a incrível falta de leitura da realidade de pessoas que não conseguem ligar os pontos entre causa e efeito.

Quer praticar?

Comece a prestar atenção em cada situação em que você se encontrar:

  • O que está acontecendo neste momento?
  • Quais são as pessoas envolvidas? Quais os objetivos de cada pessoa?
  • Quais as causas da situação? E as possíveis consequências?

Use filmes e livros também para esse exercício, aos poucos você vai notar que seu “cálculo de variantes” está mais rápido e preciso.

É óbvio que não conseguimos encontrar a total ordem neste universo caótico, mas se você pensar que a grande maioria das pessoas não está nem aí, você verá o quanto isso pode fazer a diferença em suas ações e resultados.

Postura pró-ativa

O pensamento profilático pode por muitas vezes dar a falsa impressão de uma postura passiva frente a vida, de ficar só se antecipando aos fatos e deixar de viver o inesperado, de ficar se preocupando com coisas que não aconteceram ainda ou nem vão acontecer. Eu chamo de “síndrome do Minority Report” (se você viu o filme você vai entender). Porém a vida é feita de escolhas e eu sempre prefiro ter escolhas do que ser levado a chutes pelos imprevistos da vida. Há poucas coisas mais tristes na vida do que não ter escolha. Sendo assim você terá uma maior gama de possibilidades para escolher o que faz e o que não faz.

Como já comentei, uma visão profilática da vida exige muita pró-atividade, exige coragem e dedicação. É você movimentando as peças do universo para alcançar seus objetivos. No xadrez o movimento pode parecer um movimento estranho, pois ele não é um lance de ataque direto. Também não é um lance que defenda uma ameaça existente. É um lance que desarma os planos adversários mesmo antes deles acontecerem.

Na prática exige que você tome a frente das suas ações e não espere acontecer.

“If you choose not to decide
You still have made a choice”
FreeWill – Rush

O que você pode fazer agora para evitar os resultados negativos que pretende evitar?

O que você pode fazer agora para construir as pontes que te levarão do seu estado atual para o seu estado desejado?

Se a resposta para as perguntas acima for: não vou fazer nada, vou ficar aqui sentado esperando minha vez chegar…. meu amigo, tenho más notícias para você.

O Grande Mestre de Xadrez Rafael Leitão sugere alguns caminhos para o pensamento profilático:

  • Tente ver as diretrizes básicas de qual seria seu plano ou se você tem um lance muito natural ou tentador. Caso necessário, calcule algumas variantes rápidas;
  • Tente ver qual seria o plano do seu adversário ou se ele teria (se fosse lance dele) um lance muito natural ou tentador;
  • Pense se há alguma forma de evitar a ideia do seu adversário. Dê preferência para uma jogada que evite o plano do seu adversário e ajude o seu plano ao mesmo tempo;
  • Calcule algumas variantes para verificar sua ideia.

São passos precisos e de fácil entendimento no contexto “do xadrez para a vida”.

A profilaxia por si só não resolve nada. Mas ela torna tudo mais fácil, ela minimiza os imprevistos e te coloca no controle de uma “posição estável” para traçar e executar um plano de evolução. Ao ficarmos menos descuidados e ao mesmo tempo tomarmos ações que limitam as possibilidades do adversário (como adversário leia: adversidades da vida) podemos utilizar outras estratégias e táticas em um mix de ferramentas em sua jornada de transformação.

Este texto poderia ser substituído por “prevenir é melhor que remediar?” sim. Mas daí você não teria refletido (espero eu) por ao menos alguns minutos em como você pode tomar o controle de sua vida se antecipando às causas que levam aos resultados que você deseja evitar e maximizando as chances de que seu futuro seja ainda melhor do que você imagina. Você vai conviver com você mesmo durante toda sua vida, não custa tentar.

Mas Felipe, esse negócio dá certo mesmo ou é papo de coach?

Olha.. eu só posso falar com base na minha experiência e tentar transmitir o que deu certo para mim. Nesse sentido eu posso afirmar que coloco em prática e que sinto muito resultado. A minha vida inteira eu ouvi as pessoas falando que eu tenho muita sorte, como eu sou sortudo e etc e realmente os resultados positivos superam em muito os resultados negativos em minha vida. Mas atribuo isso a sorte? Nem um pouco.

Vai lá e tenta, bota em prática por par de meses e depois vem me contar se deu certo. Eu aposto minhas fichas que, no mínimo, você terá considerado uma experiência válida e de muito aprendizado sobre você mesmo.

Os autores dos artigos, vídeos e podcasts assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo de sua autoria. A opinião destes não necessariamente expressa a linha editorial e a visão do Instituto Dynamic Mindset.

Felipe Neto

Apaixonado por Inovação, Música e filosofia sou um entusiasta de ideias inspiradoras e reflexões que levem ao desenvolvimento do indivíduo e sociedade. Formado em Administração e pós graduado em Gestão de Negócios, atuo com Tecnologia e Inovação desde 2011 como Consultor de soluções.

2 Comentários

  • Eduardo Schmitt disse:

    Ótimo texto e ainda com citação de Rush. Nota 10

  • Helena Fraga da Silva disse:

    Excelente! O artigo ressoou muito para mim. “Nao escolher tambem e uma escolha” e um frase que eu repito com certa frequencia. Adorei o texto.

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