Semana passada apareceu na minha frente uma frase que sempre me incomodou profundamente:
“Nós sempre fizemos assim.”
Normalmente dita com boas intenções, já que faz referência a mais uma frase semelhante:
“Se não está quebrado, não conserte”.
Quando nosso cérebro capta uma imagem ou informação que nos chama a atenção por algum motivo, inúmeras imagens, objetos ou o que for deste assunto, começam a se apresentar inesperadamente. Nossos sentidos coletam 11 milhões de bits de informação por segundo, porém a mente consciente processa 50 bits por segundo. O sistema de ativação reticular (RAS das siglas em inglês) é o responsável pelo filtro, ativado pelas perguntas ou situações que são trazidas a nossa consciência. Um pouco como os algoritmos das mídias sociais que determinam quais são os assuntos do nosso interesse.
Voltando a nossa frase perturbadora, “Sempre fizemos assim“, o meu RAS resolveu me apresentar com todo tipo de de pontos de vista em relação aos efeitos positivos e negativos de manter o Status Quo de seja o que for.
A revista Forbes considera a nossa frase como a mais perigosa nos negócios. Há aqueles que vão além, e consideram a frase como “a mais prejudicial do idioma“. Sabemos muito bem que quem quiser se adaptar e evoluir nos dias de hoje, têm de obrigatoriamente estudar, se atualizar, mudar, INOVAR.
Só que na prática, observamos uma gigantesca resistência a mudar… Vocês sabem bem do que falo!
Passaram os dias e minha rejeição a manter o Status Quo, só cresceu. Até hoje, o dia em que meu RAS resolveu me apresentar um ponto de vista diferente: a valorização do antigo e o que se perde, descaracterizando o feito no passado.
O questionamento veio do montanhista brasileiro Eliseu Frechou, no artigo “Intervenções e o futuro da escalada“. Resumindo, o montanhista traz a questão da modificação das rotas de escalada, que de alguma maneira são obras de arte esculpidas nas rochas pelos seus conquistadores, e o auto-adquirido direito de alguns escaladores modernos, que consideram que têm que ser adaptadas aos tempos de hoje.
Da escalada fui para a arte plástica, e os restauradores com posturas intervencionistas. Da arte plástica, passei para a arte literária, e a postura dos tradutores intervencionistas, também.
“Que difícil!”, falei para Eliseu. “Mudar, aprender, evoluir… e o custo? Qual é a medida certa?” E mais, qual é a linha que divide aprender do passado, de ficar no passado?
Não há receita de bolo para nos preparar para as mudanças, podemos, simplesmente, estar constantemente estudando e aprendendo o que achamos pode vir a ser útil. Porém, o fato é, meus caros, que as mudanças e a impermanência das coisas existem e acontecem com ou sem a nossa resistência, aceitação ou licença.
Devemos traçar a linha entre o medo de deixar o passado no passado, aprender do passado, valorizar o passado e entender que:
“Estamos sempre em transição. Se você puder apenas relaxar com isso, não terá nenhum problema.”,( Chögyam Trungpa.)