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O Brasil é pobre porque exalta uma cultura de mediocridade. Aqui, inveja-se o talento e condena-se o sucesso vencedor. Com dolo silencioso, procura-se colocar todos numa redoma de vulgaridades para, assim, sermos iguais na infelicidade coletiva. Aqueles que ousam romper com os grilhões do sistema viram inimigos públicos e passam a ser socialmente detestados, pois não existe nada mais ofensivo à vaidade humana do que o vigor da diferenciação virtuosa.

Sim, em um jogo no qual muitos perdem, a vitória é para poucos. Para manter as rédeas de dominação, foi preciso que uma macroestrutura se impusesse sobre a individualidade criativa. Surgiu, então, aquilo que se chamou de “Estado”. Aliás, o estático não é dinâmico, ou seja, a natureza estatal é ser fonte de perpetuação de poder e, não, uma força de transformação social pela expansão da liberdade humana em suas múltiplas potencialidades de realização.

Dessa forma, não foi por acaso que Estado faliu em sua tarefa de bem educar as pessoas. A liberdade, antes de um direito, é uma consciência de ser livre. E tal nível de consciência só é expandido com o desenvolvimento de nossa formação cultural.

Ora, para vivermos a plenitude da existência, é preciso ver, compreender e atuar no mundo. Logo, o rebaixamento cultural vigente é uma deliberada medida de limitação da capacidade humana para que nos tornemos menos daquilo que podemos ser.

Felizmente, a opressão – seja ela qual for – não dura para sempre. A história ensina que, nas sinuosas equações do destino, há o surgir inesperadas forças independentes que não toleram o abuso arbitrário dos que almejam calar a razão pensante. É justamente a marcha do progresso civilizatório, entre seus fluxos e refluxos momentâneos, que nos traz a certeza de que o sistema de poder atual está em xeque, na beira de um precipício sem volta.

Já disse o poeta que “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Por imperativo lógico, também mudam-se os players do poder.

Objetivamente, estamos vendo a decadência dos Estados soberanos e o surgir de titãs empresariais globais. Somadas em seu potencial econômico, as “Big Five” (Apple, Amazon, Alphabet, Microsoft e Facebook) botam grande parte dos países no bolso. Além do poder financeiro, tais grupos empresariais possuem uma inimaginável influência social, criando uma impressionante capacidade de conexão humana de forma instantânea e socialmente segmentada. Em outras palavras, a tradicional capacidade de manipulação do Estado capitulou na era da informação. Sem cortinas, o capitalismo global – cansado com as ineficiências, corrupção e injustiças do sistema constituído – criou conglomerados pujantes, ubíquos e afirmativamente decididos a emparedar os insustentáveis anacronismos estatais.

O jogo está posto. Algumas mudanças já são perceptíveis. Basta lembrar a última eleição para constatarmos que o tempo de TV e as máquinas partidárias deixaram de ser critérios definidores do páreo. Ou seja, há um novo sistema em gestação. Naturalmente, ainda não se pode prever os grandes vencedores, pois o dinamismo frenético do presente indica uma lógica de poder aberta, multifacetada e em constante reorganização. Todavia, já se pode afirmar que a cultura da mediocridade é absolutamente incompatível com o transformacional padrão produtivo da economia tecnológica. Sem cortinas, a tecnologia não se permite dominar por medíocres, comodistas e seus soldados do mais do mesmo. 

Hora, portanto, de repensar a vida. Permanecer, como se está, é assinar um atestado de óbito. No final, de duas, uma: ou mudamos urgentemente o mindset brasileiro ou seremos um país muito mais pobre do que já somos.

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Sebastião Ventura

Advogado, especialista em Direito do Estado pela Universidade Federal do Rio Grande Sul. Ver perfil completo >>