A história do voluntariado no Brasil se confunde com a própria história de nosso país. Desde 1543, com a instalação da Santa Casa de Misericórdia, na então Vila Santos, hoje cidade de Santos, já se praticava o voluntariado. Talvez, esteja aí uma evidência dessa nossa vocação.
Tal qual como a água de uma nascente de rio, de forma silenciosa, o voluntariado permeou a sociedade, acolheu, amparou e transformou vidas dos que mais precisavam e, ao mesmo tempo, iluminou a alma daqueles que disponibilizaram sua energia, seu tempo, seus talentos e sua boa vontade pelo ser humano à sua frente.
Chegamos em fevereiro de 1998, já na sociedade moderna, quando o Brasil promulgou a sua Lei do Voluntariado, com a qual tivemos o reconhecimento institucional dessa prática tão disseminada, porém, ainda informal. Sete anos pós essa promulgação, foi criado o Dia Nacional do Voluntariado, comemorado dia 28 de agosto, e, a partir de então, paramos para celebrar e refletir sobre a relevância do Trabalho Voluntário em nossas vidas.
Nessas reflexões, nós, dentro da ONG Parceiros Voluntários (que tenho a honra de presidir no momento) sempre voltamos às nossas origens, quando estabelecemos em nossas crenças e valores conceitos como, “toda pessoa é solidária e um voluntário em potencial”, pois, acreditamos que cada indivíduo traz em si a capacidade de fazer parte de algo maior do que ele próprio. Que, sim, todos nós possuímos os recursos necessários para praticar a solidariedade já instalados em nossa essência.
Desde o princípio, tínhamos em nosso credo a certeza de que a prática do voluntariado seria um instrumento basilar para identificarmos e aprimorarmos a cidadania brasileira. O conceito de cidadania perpassa por reflexões filosóficas, mas, que em princípio se direciona a direitos e deveres para compartilhar de uma comunidade, de uma sociedade. Há várias formas de desenvolver a cidadania, entretanto, a prática do voluntariado incorpora no indivíduo os conceitos, os limites e possibilidades de ser cidadão, não somente pelo intelecto, mas pela emoção e vivência dos problemas e soluções do seu entorno.
Como se não fosse suficientemente desafiador, o caminho do voluntariado encontrou a pandemia. A maior parte das atividades humanas sempre foi feita presencialmente e, de repente, o mundo parou. E agora? Nos perguntamos: “O Voluntariado irá parar também?”
Para nossa satisfação, percebemos que nossas crenças originais estavam corretas, pois, vimos emergir com muita força uma disposição ímpar das pessoas se envolverem em causas além das suas próprias. Desde voluntários em hospitais – verdadeiros heróis de guerra – até vizinhos que se disponibilizaram para fazer compras para os mais vulneráveis. O brasileiro buscou dentro de si o que havia de melhor.
Os jovens, nativos digitais, nos mostraram o caminho do voluntariado digital. Nos ensinaram como era possível modificarmos o programa Tribos nas Trilhas da Cidadania para um Tribos Digital. As nossas Unidades se conectaram com suas comunidades e, cada uma, articulou redes de voluntários para as causas mais prementes e geraram vínculos de cuidado, despertando em todos uma conexão coletiva, cidadã.
Neste dia de celebração e reflexão, só temos a agradecer a cada indivíduo, a cada organização – pública, privada e irmã do terceiro setor – por acreditar no nosso sonho. O sonho de potencializar cada vez mais a causa do voluntariado e fazer a mobilização e a prática verdadeiros exercícios de cidadania.