Na busca de si, não raro nos afastamos do que somos. Às vezes, vamos tão longe que fica difícil voltar. É como sair a nadar em mar aberto e, entre silenciosas correntezas, ser levado a profundezas irretornáveis. Uma hora a consciência bate e o desespero se apresenta. Nas turvas águas da realidade, somos brindados ao medo, ansiedades e dúvidas. Alguns navegam com autocontrole e, a muito custo e esforço pessoal, vencem o redemoinho das adversidades; outros desistem ou impiedosamente naufragam. Por sua vez, muitos, na beira da praia, ficam vendo a vida passar, despidos da coragem de tentar.
Na trajetória dos acontecimentos, chegar – a si ou lá – é ir além do primeiro passo. Sim, romper a inércia é fundamental, mas a persistência de seguir em frente, na fechada escuridão da noite, é o que garante o brilho do nascer do sol. Nem sempre conseguimos enxergar com clareza categórica; as situações ganham complexidade, os problemas de avultam, os riscos vão às alturas. Apesar de tudo, há uma voz secreta que jamais nos falta nos momentos decisivos. Segui-la, é realizar-se; traí-la, é fulminar-se.
Veja que não se trata do conceito de felicidade, prazer ou sucesso; apenas da paz consigo próprio. Pois, uma vez em paz, é possível ir à prosperidade, viver dias felizes e, mesmo nos tristes momentos de despedida, manter a serenidade tranquila de que foi vivido.
Em seu andar natural, a vida passa, se renova e vai. Nesse ballet das circunstâncias, nossa capacidade de controle é mínima, sendo, no mais das vezes, uma ilusão de ótica de uma racionalidade prepotente. Todavia, com humildade intelectual, é possível se reconhecer um grão no infinito do universo. Um grão que existe, vive e respira. E, sendo o que é, se torna capaz de ser mais.
Tudo, portanto, começa em si. Uma vez conscientes desse pressuposto básico, passamos a ser diretamente responsáveis por nossas escolhas. Algumas serão boas; outras, ruins. Exatamente como vida é, mas com uma diferença monumental: a responsabilidade é a porta de entrada para uma vida autenticamente “minha”, “tua” ou “nossa”. Abro, então, a janela e vejo uma legião perdida na infantilidade adulta, na falta de compromisso sério, inebriada no teatro das aparências, culpando a todos, criticando a tudo e mudando, com convicção, o nada.
Definitivamente, uma sociedade que vive o outro e esqueceu a si.