Bem-vindo a Startuplândia — esse universo mágico onde os valuations sobem mais rápido que a inflação do café e onde sonhos e expectativas escalam com mais velocidade que produtos/softwares. Um mundo encantado, habitado por criaturas exóticas como empreendedores seriais (só não sabemos em quê), mentores de LinkedIn e investidores… bem, esses são quase lendas urbanas. Este breve artigo surgiu em minha passagem pelo evento Gramado Summit 2025. Cabe dizer que Gramado é linda, limpa e cheia de opções o que torna o lugar um atrativo até mesmo para eventos internacionais de “gamão”, ou seja, qualquer evento que façam lá terá público. Pena que os “startupeiros” necessitem buscar lugares para comer ou se alojar com custos aderentes a sua realidade, pois não conseguem usufruir do ambiente requintado e de alto custo que a cidade proporciona.
Mas não quero fugir de nosso tema. Em primeiro lugar quero voltar a falar de valuation (valor do “buteco” ou da “empresa”). Aquela palavrinha sexy que, de tão usada, já devia estar no dicionário da moda ao lado de “pivotar” e “disruptivo”. Na Startuplândia, uma ideia com um pitch bonito, três postagens bem ensaiadas no Instagram e um MVP capenga já pode valer seus R$ 10 milhões — na rodada pre-semente, é claro. Afinal, se o mercado total endereçável é de R$ 1 bilhão, por que não? Eu nunca entendi bem esta lógica. Se meu pai coloca um investimento em meu negócio de R$1.000.000,00 por 20% e eu não vendi nada, ainda assim valho R$5.000.000,00?
Mas calma, não se trata de megalomania. E nada gera mais buzz do que uma startup com um nome em inglês e uma missão grandiosa: “revolucionar o mercado de… qualquer coisa”. Eu fiquei muito impressionado com o volume de startups da área de saúde. Realmente nesta área existem muitas dores (umas reais e importantes e outras menos relevantes). Super bacana a troca entre o técnico da área médica e o pessoal de tecnologia. Porém, vender para este segmento não é trivial. Lembrem: o mais importante é o paciente (ou deveria ser), tudo a mais é menos. Não vamos nos iludir.
Se você já entrou nos últimos anos em um evento de startups, sabe do que estou falando. Você tropeça em mentores. Eles estão em todo lugar, prontos para te contar como seria se eles tivessem feito. O curioso é que, quanto mais vago o currículo, mais inspiracional o discurso. “Mindset”, “resiliência” e “foco no cliente” são os mantras. Resultado? Muito coaching e pouca capitalização. To falando pois já fui mentor. Decidi parar de exercer esta atividade para realmente focar no que importa. Me iludi e achei que realmente eu poderia ser o “cara”. Ai vem a maturidade e junto com ela o foco.
Hoje, parece que mentor virou estágio obrigatório antes de virar investidor-anjo. Só esqueceram de avisar que, para investir, precisa ter dinheiro — e apetite por risco real, não só por painel em evento.
Todo mundo é empreendedor. É bonito, é chique, dá like. Na prática, temos um oceano de pessoas tentando vender para outras pessoas que também estão tentando vender. No meio disso tudo, a receita é opcional. O burn rate? Altíssimo. Mas calma, está tudo no pitch deck: break-even em 18 meses (spoiler: nunca chega).
Sabe qual é a tese mais segura? Apostar em quem já fez. Simples assim. Alguém que já vendeu empresa, já teve êxit, já construiu algo palpável. Não que os novatos não tenham chance, mas quando a farra do capital termina, só sobrevive quem sabe dançar conforme o caixa.
Claro que todo mundo adora a história do underdog, do gênio da garagem. Mas vamos ser honestos: na hora de tirar o dinheiro do bolso, até o investidor mais “visionário” prefere um histórico comprovado a um pitch bonito.
No fim das contas…
Startuplândia é divertida, colorida e cheia de promessas. Mas quando a bolha estoura (e ela sempre estoura), sobra uma multidão de ex-empreendedores, ex-mentores e ex-startups com apresentações incríveis… e poucos resultados de verdade.
A boa notícia? Quem sobrevive ao hype geralmente constrói algo sólido. A má notícia? Até lá, muita fumaça ainda vai ser vendida como foguete.
Muito bom o choque de realidade e a reflexão Tiago.