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Outro dia, uma pessoa muito próxima me fez uma pergunta que me pegou de surpresa: “Qual foi o dia mais feliz da sua vida?”

Confesso que minha mente foi muito longe para responder uma pergunta tão simples e tão íntima. Faça um teste e vai reparar como será imensamente difícil encontrar uma resposta imediata.

Mas, obviamente, a minha conclusão não se fixou no cotidiano profissional. Não remeteu a nenhum grande evento corporativo, nem ao maior contrato assinado, nem ao número de curtidas de um post ou algum case de sucesso. Parou em algo simples, fora da tela, com pessoas de verdade. Com conexão de verdade. Onde não havia sequer alguma tecnologia próxima. Mas tinha abraço, tinha cheiro e tinha tempo compartilhado!

Esse contraste ficou ainda mais forte quando, no mesmo dia, entrei em mais uma das tantas reuniões online que preenchem a minha agenda. Aquelas em que mais da metade das pessoas está com a câmera desligada, o microfone no mudo e a atenção em outra aba (ou outro universo talvez).

E a pergunta ficou martelando na minha cabeça: Por que estamos vivendo assim? Por que criamos um ambiente de trabalho em que a interação virou obrigação e o encontro virou um peso?

Não me entenda mal: sou entusiasta da tecnologia. Trabalho com ela. Negocio contratos complexos sobre TI, avalio riscos digitais, penso estratégias para empresas se protegerem em um mundo onde tudo virou dado e potencial para fraudes. E sei que a IA (inteligência artificial) será necessária para muitas coisas boas da vida humana.

Mas uma coisa é inegável: a tecnologia evoluiu. A produtividade aumentou. E a conexão humana — aquela genuína, que resolve, engaja, transforma — esmoreceu.

Hoje temos reuniões em série, onde poucos estão de fato presentes. As câmeras podem até estar ligadas, mas os pensamentos estão sempre na próxima pauta, na próxima urgência, no próximo problema. Ninguém mais resolve o aqui e agora — prefere-se abrir um novo “follow-up”, repassar a questão para outro time, ou simplesmente fingir que não é com você.

As conversas, na maior parte das vezes, não criam vínculo. As respostas são automáticas — anulam o pensamento crítico. E os rostos, quando visíveis, muitas vezes carregam um pedido silencioso: “Alguém me tire daqui.”

É como se estivéssemos todos cumprindo protocolos, mas sem alma. Como se o desconforto fosse normalizado. Como se ninguém pudesse mais dizer: “Vamos parar e resolver isso agora?”

E sabe qual é o problema? É que isso também tem custo.

Não estou falando só de produtividade. Estou falando de sentido. Porque se nenhum momento do teu dia te conecta com algo maior, te justifica o porquê está fazendo isso ou aquilo, com alguém de verdade, então nada daquilo vai direcionar uma resposta pessoal à pergunta inicial: “Qual foi o dia mais feliz da sua vida?”

Quando penso nas situações em que algo deu certo. Em que valeu a pena comemorar – um projeto difícil, uma negociação travada, uma decisão importante – quase sempre havia uma variável não tecnológica envolvida: confiança. Escuta. Presença real.

E isso não se constrói com câmera desligada. Não se conquista com mensagens automáticas. E definitivamente não se sustenta com gente que está em todos os lugares, menos no aqui e agora.

Sabemos onde os outros estão, mas esquecemos de perguntar como estão. Estamos ao lado, mas distraídos. Estamos juntos… mas cada um na sua tela.

Recentemente, fui palestrante em um evento corporativo. Ao final, vieram me cumprimentar. Entre eles, um grande amigo — daqueles de muitos anos, com quem vivi bons projetos em um passado recente. Me deu um abraço sincero, contou o que estava fazendo, perguntou como eu estava.

Sugeri o óbvio: “Vamos marcar um café pra continuar essa conversa?” Ele respondeu com um “Claro! A hora em que você quiser” cheio de entusiasmo.

Um dia depois, mandei mensagem para agendarmos. Queria trocar ideias, jogar conversa fora, relembrar a alegria das emoções e situações que vivemos juntos. Mais de um mês depois… ainda não recebi resposta. Provavelmente a agenda dele está muito ocupada. É um grande profissional.

Mas então me pergunto: O que vale a pena na vida, se não temos tempo para um café com velhos amigos?

Talvez a pergunta seja outra. Talvez a pergunta certa, para hoje, não seja apenas sobre o dia mais feliz da sua vida. Talvez seja: quantos dias da sua semana merecem estar na sua memória? Ou ainda: você está participando da sua vida ou só comparecendo?

Não se trata de abandonar a tecnologia e a forma como nos organizamos no trabalho. Ela é meio, não fim. Mas trata-se de lembrar que aquilo que nos toca, nos transforma e nos faz lembrar quase sempre acontece quando estamos verdadeiramente presentes (no presencial ou no online).

Como buscar momentos felizes se somos incapazes de criá-los, percebê-los ou simplesmente não dispensamos o tempo ou abertura para plantar esta pequena semente que poderia retroalimentar nossa alma?

Então, da próxima vez que entrar em uma reunião — física ou digital — experimente estar lá de fato. Com escuta, com interesse, com presença. Seja humano de verdade. Os demais irão perceber isso.

Tente lembrar de um dia feliz — de verdade. Talvez seja um almoço em família, um café com alguém que você ama, uma conversa que virou abraço. E esses momentos… não precisam de wi-fi.

A vida que vale a pena dificilmente está em uma notificação. Ela está em quem te escuta, em quem te espera, em quem te olha com verdade. Isso vale para a vida pessoal e para a profissional.

Porque talvez a memória mais feliz da sua vida ainda esteja por vir. E ela não será digital. Mas ela vai precisar que você esteja lá também. Senão a resposta ao questionamento não será possível (nem na vida pessoal e muito menos na profissional). E o pior? Você não vai conseguir encontrar o dia mais feliz da sua vida, pois você não percebeu quando ele aconteceu.

Bons Negócios a todos!

O tempo de mudar está passando…

5 Comentários

  • Cristian Cavalheiro disse:

    Perfeito amigo. O meu foi o nascimento do meu filho, há quase 32 anos.

    • Reges Bronzatti disse:

      É um dos momentos mais mágicos que um ser humano pode vivenciar Cristian! Parabéns e obrigado pela leitura!

  • Ana disse:

    Adorei a reflexão Reges!!! És sempre preciso e me toca. Obrigada por compartilhar e nos fazer parar e refletir! Os dias mais felizes da minha vida, sempre remetem a momentos com as pessoas que eu amo, meus filhos, meu esposo, minha família e amigos! E sempre que quiseres, podemos tomar um café e colocar o papo em dia :-). Te admiro e tenho como um dos meus exemplos. Grande e apertado abraço!

    • Reges Bronzatti disse:

      Ana , você é sempre muito gentil ! Obrigado pelo carinho e pelo comentário ! Sabes que nunca nego um convite para um café…kkkkkkkkk abraços !

  • Sandra disse:

    Reges, excelente texto!!! Desperta uma reflexão interessante: “As pessoas ainda sabem o que é importante pra si e como se conectam verdadeiramente com isso.? Eis o desafio!!!
    Abraços

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Reges Bronzatti

Gerador de Valor para Negócios com Tecnologia. Apaixonado por Gestão, Inovação, Direito Digital, Privacidade e Empreendedorismo. Advogado. Mestre em Ciência da Computação. Conselheiro Empresarial.