Depois de 2020, o mundo não mais será o mesmo.
Sim, mudanças são inevitáveis, mas talvez jamais foram tão autoevidentes. O argumento não é meramente retórico. A tecnologia da informação revolucionou o cotidiano em um ambiente de repercussão imediata e instantânea de fatos relevantes. Nos tornamos, assim, reativos e poucos reflexivos.
O problema é que não solucionamos problemas complexos sem pensamentos profundos. E a profundidade do pensar requer tempo e experiência. No entanto, a vida, agora, nos exige pressa e imediatismo; desconhece a paciência e desprestigia a perseverança. É como querer viver um eterno amor com rasos sentimentos pueris… Simplesmente impossível.
Aliás, a possibilidade, antes de uma promessa de perfeição, traduz apenas uma oportunidade vivencial, que será boa ou ruim, a partir de nossa capacidade de colorir o preto e branco da existência. E, sabidamente, no contraste das estações, a primavera é a antessala do verão.
Acontece que o ano corrente parece um inverno sem fim. O advento Coronavírus expôs a absoluta fragilidade da vida. Apesar de todos os avanços da ciência, apesar de todos os talentos humanos, apesar de inimagináveis progressos tecnológicos, ainda somos fatalmente vulneráveis a doenças microscópicas. Aqui, a prepotência da razão pode pouco, pois nossa capacidade de compreensão é fragmentária frente à complexidade universal.
No pulsar das dores e das perdas, precisamos encontrar algum tipo de sentido que nos faça seguir em frente. A lógica do tempo é perversa; avança sem pedir licença; faz do passado o pó; aniquila o presente e condena o futuro à dúvida perpétua. Felizmente, sempre teremos a nós e, assim, a possibilidade do triunfo humano sobre os dramas existenciais.
Os prenúncios da mudança estão aí aos olhos de todos.
2020 nos fez repensar a vida, o trabalho, a família, os amigos, a essência do que somos e queremos. Inintencionalmente, fomos forçados a baixar a velocidade frenética da modernidade e voltarmos o velho hábito romântico da reflexão profunda. Tal simples circunstância nos traz firmes esperanças de que encontraremos respostas para determinados problemas postos.
Numa época de extremismos ocos e vociferação radical de irracionalidades, será a virtude do pensar e a capacidade de dialogar – para transpor o eu e chegar ao nós – que determinará o sucesso das nações e das corporações empresariais. E a tecnologia onde fica? Ora, trata-se de um meio para um fim que se quer humano. O amanhã, portanto, é de humanismo tecnológico.
Que venha, por favor, 2021!