fbpx Skip to main content

Acredito que todos que passam por traumas ou acompanham pessoas próximas, amigos, familiares em situações trágicas, vivenciam momentos de incredulidade seguido de uma necessária racionalidade sobre o que dizer.

Talvez, mais desafiador do que “o que dizer” seja, o que silenciar.

– Vai ficar tudo bem!

– Não Chora!

– Deus sabe o que faz!

Quando deveríamos simplesmente dizer:

– Não sabemos como as coisas vão ficar, mas estamos aqui para tudo o que precisar.

– Chora o quanto você quiser, estou aqui para te abraçar e te apoiar.

Não sabemos se vai ficar tudo bem, não podemos prometer isso a ninguém, mas podemos garantir nossa presença amiga, nosso abraço acolhedor, um ombro para chorar, uma canja gostosa, um chá quentinho, um cafuné para acalmar e acalentar.

As pessoas precisam colocar para fora a sua dor e os que não estão vivenciando a mesma dor é que precisam ser fortes para aguentar o choro, o lamento, o desespero de quem perdeu um ente querido, um carro, seus móveis, sua casa, sua empresa. Sejam acidentes automobilísticos, assaltos, enchentes ou qualquer catástrofe climática, dizer para as pessoas que não devem chorar por seus bens materiais não é empático.

Todos nós sabemos o quanto de vida entregamos para adquirir patrimônio, roupas, joias, utensílios, casas, móveis, automóveis, dinheiro. Todos os bens tangíveis e consequentemente sujeitos a perdas, mas que consomem muito da nossa energia, força, saúde, intelecto, crenças, valores. Eis o grande paradoxo, nosso intangível nos permite obter o tangível.

Será que esse patrimônio traduz a nossa vida? Define quem nós somos? Claro que não.

Acontece que vivemos numa sociedade e numa cultura que estimula e valoriza tudo isso e, portanto, não estamos preparados para perder. Qualquer perda causa muita dor e sofrimento. A devastação que se abateu sobre o Estado do Rio Grande do Sul nesses últimos meses em consequência da crise climática trouxe à tona todas essas reflexões de ordem econômica, filosófica, espiritual, ambiental, política.

Qual a responsabilidade do Estado em ajudar as pessoas e empresas na recomposição do patrimônio? Muitas pessoas entusiastas do Estado mínimo estão recorrendo às ajudas governamentais e provavelmente irão rever suas convicções ideológicas.

Pessoas avessas às medidas populistas como as bolsas auxílio, precisaram se refugiar em abrigos e sobreviver com ajudas humanitárias ou doações voluntárias.

Precisamos rever conceitos, aprender sobre mudanças climáticas, eventos extremos, ações humanitárias, abrigos a refugiados, microcrédito, políticas públicas de mitigação de riscos climáticos, Sustentabilidade ESG, êxodo populacional, transtorno pós-traumático. Somos uma legião de pessoas fortemente impactadas por cenas de catástrofes que nunca mais esqueceremos, somos sobreviventes de uma guerra onde não explodiram mísseis, bombas, tiros de canhão, mas romperam-se comportas de barragens, rios que extravasaram suas margens, encostas desbarrancadas, enchentes, raios, tempestades.

Somos os refugiados do clima! Uma nova categoria de refugiados de uma guerra contemporânea, silenciosa, mas não ignorada. Existem muitos estudos dando conta de uma tragédia anunciada e não abrange só o sul do País. Se estudarmos os relatórios da ONU sobre o clima teremos acesso a pesquisas que estabelecem metas para redução das emissões de gases de efeito estufa, trata-se da agenda 2030 que tem o objetivo de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC, se possível evitar que a temperatura do planeta aumente 1,5ºC até 2030.

Entre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável do Pacto Global da ONU, o ODS nº 13 “Ação contra mudança global do clima” prevê a necessidade de adoção de medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos com reforço da resiliência e da capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos os países;  integrar medidas da mudança do clima nas políticas, estratégias e planejamentos nacionais; melhoria da educação, aumento da conscientização e da capacidade humana e institucional sobre mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce da mudança do clima entre outras medidas necessárias. Impossível? Considero mais viável, acessível e menos traumática do que os esforços de salvamento e reconstrução que se sucedem às grandes catástrofes.

Além de pensar no que dizer diante das tragédias climáticas, precisamos pensar no que fazer, porque a nossa omissão pessoal, empresarial e governamental não será perdoada.

4 Comentários

  • MAURICIO CASTELO BRANCO VALADARES disse:

    Tudo bem. Em minha opinião a responsabilidade do Estado do RGS, principalmente de sua Engenharia, foi vergonhosa. Mas tudo bem no artigo. Mas essa Responsabilidade há que ser cobrada!

  • Marli Esteves Gomes Pereira disse:

    Muito bom artigo e que possamos ajudar cada vez mais aqueles que precisam nem sempre a ajuda é financeira e sim de empatia e em meio aos dias corridos esquece de mandar uma mensagem ou até mesmo esbossar um sorriso e dar valor as coisas que o dinheiro não compra essas lições servem pra isso rever conceitos e ao que estamos valorizando um grande abraço 🤗

  • Marli Esteves Gomes Pereira disse:

    Muito bom artigo e que possamos ajudar cada vez mais aqueles que precisam nem sempre a ajuda é financeira e sim de empatia e em meio aos dias corridos esquece de mandar uma mensagem ou até mesmo esbossar um sorriso e dar valor as coisas que realmente o dinheiro não compra essas lições catastróficas só servem pra isso rever-mos conceitos e ao que realmente estamos valorizando um grande abraço 🤗

  • Alice Porto disse:

    Parabéns, pelo artigo! Trata-se de tema sensível e atual. Você ofereceu aos leitores uma reflexão poderosa sobre a empatia, a fragilidade da vida e a necessidade urgente de ação climática, destacando que nossa resposta às crises deve ser tanto emocional quanto prática, unindo solidariedade e ação preventiva. Abordou de forma exemplar como lidar com pessoas que enfrentam traumas e situações trágicas, destacando a importância da empatia e da presença solidária em momentos de crise, a exemplo da crise climática recente que devastou o Estado do Rio Grande do Sul. Gostei quando falou acerca do papel do Estado e das ideologias políticas na resposta a essas crises, apontando que até mesmo aqueles que defendem um Estado mínimo acabam recorrendo à ajuda governamental em momentos de necessidade extrema o que eu particularmente, concordo (são diversos, os casos em que isso corre). Gostei, também quando tratou sobre a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, destacando a importância de ações coordenadas e urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.

Deixar um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Ana Tércia L. Rodrigues

# Contadora, # Mestre em Administração e Negócios (PUCRS) # Professora Universitária (UFRGS) # Presidente do CRCRS # Membro da Academia de Ciências Contábeis do RS # Conselheira Fiscal da ONG Parceiros Voluntários # Mentora, Palestrante, Escritora