Vivemos tempos curiosos. Trouxe algumas reflexões que podem ser paradigmas a serem aprofundados. Tempos em que a tecnologia avança mais rápido do que conseguimos acompanhar, mas em que também nos sentimos mais exaustos do que nunca. Esta é a era da “Sociedade do Cansaço”, um conceito desenvolvido pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. A premissa é simples, mas poderosa: estamos exauridos porque estamos sempre tentando nos superar, sermos mais produtivos e mais bem-sucedidos. Isso tem um impacto profundo não apenas em nossas vidas pessoais, mas também nos movimentos de inovação. Será que essa exaustão crônica nos impede de inovar, ou pode, de alguma forma, ser um catalisador para novas ideias?
Byung-Chul Han nos descreve uma sociedade que evoluiu de uma “sociedade disciplinar” para uma “sociedade de desempenho”. Antes, éramos controlados por regras externas, por um poder que dizia “você não pode”. Agora, somos nós mesmos que nos pressionamos, que nos dizemos “você deve”, “você pode”. Vivemos em um estado constante de autopromoção e autoexploração, onde a vida se tornou uma série interminável de metas a serem cumpridas. Esta sociedade de desempenho vem com suas armadilhas. A primeira é a positividade tóxica. A crença de que podemos conquistar tudo o que quisermos nos empurra para limites insustentáveis e irreais. A segunda é a autoexploração, que leva ao esgotamento e a uma epidemia de doenças mentais, como ansiedade e depressão. E, finalmente, há o isolamento. Ao nos focarmos em nossos próprios sucessos, frequentemente deixamos de lado a colaboração genuína com os outros.
Quando olhamos para o tema Inovação, compreendemos que a inovação depende fortemente da criatividade, que requer tempo, espaço e liberdade mental para florescer. No entanto, a sociedade do cansaço sufoca a criatividade ao priorizar a produtividade em detrimento da reflexão e do ócio criativo. Os ambientes de trabalho atuais, muitas vezes obcecados por resultados rápidos, acabam criando condições onde a criatividade é sufocada por uma busca incessante por produtividade. Funcionários esgotados tendem a seguir procedimentos padrão, em vez de buscar novas soluções, pois não há tempo para o errar e aprender com este erro. Além disso, o bombardeio constante de informações pode ser paralisante, reduzindo a capacidade de foco profundo, essencial para o pensamento inovador.
A pressão para obter resultados rápidos também compromete a inovação a longo prazo. A saúde mental dos colaboradores, que é essencial para a criatividade, frequentemente fica em segundo plano, afetando diretamente a capacidade inovadora das empresas. Essa responsabilidade recai sobre poucos, visto que existem áreas de inovação, mas poucas empresas têm essa visão holística. Além disso, a competição exacerbada dentro das organizações pode desencorajar a colaboração, essencial para o processo inovador, que frequentemente se beneficia da diversidade de perspectivas.
Neste cenário de esgotamento e busca incessante por produtividade, o papel dos grandes líderes se torna crucial para transformar a sociedade do cansaço em um ambiente que favoreça a inovação. Líderes visionários são aqueles que reconhecem que a inovação não é fruto apenas de trabalho árduo, mas também de um equilíbrio saudável entre desempenho e bem-estar.
Entendem que o esgotamento não é um indicativo de sucesso, mas um obstáculo para a criatividade e a inovação. Para que tenhamos Empresas inovadoras, existe a responsabilidade de criar uma cultura organizacional que valorize não apenas resultados, mas também o processo de geração de ideias. Ao promover um ambiente de trabalho que encoraje a colaboração, a diversidade de ideias e o bem-estar mental, líderes podem desbloquear o potencial criativo de suas equipes.
Além disso, o exemplo inspira. Ao priorizar sua própria saúde mental e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, eles estabelecem um padrão que pode ser seguido por toda a organização. Incentivar pausas para reflexão e ócio criativo pode resultar em insights valiosos e soluções inovadoras que um ambiente de alta pressão não consegue oferecer. Permitir o erro e ter um ambiente com segurança psicológica para ações que fujam do escopo, é um dos grandes incentivadores da inovação. Além desse espaço, criar canais de comunicação abertos e honestos, onde todos se sentem à vontade para compartilhar suas ideias e preocupações. Essa abordagem inclusiva não apenas fortalece a confiança e a motivação dos colaboradores, mas também promove um ambiente fértil para a inovação.
As empresas precisam incentivar a colaboração, em vez da competição interna, para aproveitar a diversidade de ideias que impulsionam a inovação. Criar uma cultura organizacional que valorize o bem-estar mental é crucial. Funcionários saudáveis e felizes são mais propensos a contribuir de forma significativa e inovadora.
Além disso, proporcionar um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal é essencial. As empresas que reconhecem a importância do descanso e do lazer tendem a ter equipes mais motivadas e criativas. É necessário que as organizações vejam a inovação não apenas como a criação de algo novo, mas como a criação de algo que faça sentido e tenha impacto positivo e sustentável.
Neste contexto, os grandes líderes têm um papel fundamental em criar um ambiente onde a inovação possa prosperar. Eles têm o poder de transformar a cultura organizacional, priorizando o bem-estar e promovendo a colaboração. Afinal, é na pausa que muitas vezes surgem as ideias mais brilhantes, e é através da liderança visionária que podemos transformar a sociedade do cansaço em uma sociedade de inovação e criatividade.
Trazendo para você, como você está tratando este tema na sua Organização?
Estamos vendo e vivendo isso diariamente. Parabéns pela publicação.
Excelente tema Bibiana. Muito explicativo o artigo. Trazer a luz a importância da consciência no que fazemos, na maneira em que estamos no mundo, e assim entendermos como é por que tomamos as decisões que tomamos me parece crucial. Com isso, vermos nosso cansaço, a corrida por produtividade incessante, o medo de desapontar e não dar conta ou de dizer um não, faz todo sentido.
Muito intenso, objetivo e claro. Como também sou da área da Bibiana percebo que as empresas confundem saúde mental com doença mental, ou seja, se não tem ninguém com doença mental na empresa, todos estão saudáveis !! Aqui é que o processo de investir em gestão emocional emperra.
Pessoas mais atrapalhadas psiquicamente são mais fáceis de serem manobradas. Talvez possa ser este objetivo perverso da sociedade do cansaço.
Abs Bibiana