Nossas autoridades lidam mal com a questão da segurança no trânsito rodoviário. Atuam como se o limite de velocidade fosse o centro do problema e se espantam quando os sinistros não diminuem na proporção em que instalam seus pardais.
O desenvolvimento, refreado por causas políticas e jurídicas faz com que o setor produtivo nacional tente pisar no acelerador e não obtenha resposta satisfatória do motor. O dinheiro público não é curto, é mal gasto, consumido pela “máquina”. Esta, operada por mãos humanas, reproduz os humanos anseios por uma boa e confortável vida. Ou seja, trata de dispor dos melhores frutos buscados diretamente na fruteira do trabalho alheio.
Daí a precariedade do que seja público ou de acesso ao público. União, estados e municípios, somadas as receitas anuais, arrecadam algo como nove trilhões de reais, e falta dinheiro para tudo que importa. É a mesma compreensão da realidade nacional que me ocorre cada vez que passo por um desses “pardais” rodoviários. Ele está ali como zelador simbólico da segurança na estrada. É o olho na pista. Presença silenciosa do Estado fiscalizador. Mas, se alguém der uma espiada através de sua câmera, certamente verá buracos, bochechas e caroços no asfalto, sinalização horizontal ineficiente ou inexistente e sinalização vertical danificada. Quem disse ser a velocidade o único dos grandes problemas?
Por outro lado, como viajo bastante de carro na Europa, onde as pistas são excelentes, sei que é perfeitamente possível trafegar com segurança a uma velocidade bem acima de 120 km/h. São raríssimos os sinistros. Aliás, pela pista da esquerda, na Alemanha, parece não haver limite de velocidade.
Sempre se pode alegar, contra essa constatação, que os acidentes se tornam mais graves à medida em que a velocidade aumenta, mas um choque a
80 km/h também faz um estrago danado. Aliás, 40 km/h seria um limite muito mais seguro, embora se saiba que, até caminhando na rua, se você bater num poste, pode quebrar o nariz.
O que tenho podido observar é que, apesar de a velocidade estar presente entre as causas de muitos sinistros, a legislação brasileira e as autoridades do trânsito andam muito desatentas para outras causas, quase sempre observáveis nas ocorrências rodoviárias, entre elas os motoristas imperitos, imprudentes, os veículos sem condições, etc.
Quem os fiscaliza? Quem os autua? Dirigir numa estrada requer destreza diferente daquela exigida pelo trânsito urbano. Como é possível, então, que alguém seja considerado apto a dirigir em rodovias após uma instrução apenas urbana e um teste de habilidade feito dentro da cidade? Quem está cuidando disso?
O olho do pardal assume, então, um brilho de pura ganância. Há muito tempo, passei a vê-lo, também, como silenciosa representação de um setor público que só cuida bem de si mesmo.