Jesus na cruz ergueu seus olhos para o céu e disse: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). Estas palavras teriam sido atribuídas a Jesus quando estava crucificado e parte da população que assistia o crucificamento gritava morte a Jesus. Parte não concordava com a morte de Jesus, mas ficava calada.
Jesus teve a percepção de um bom psicoterapeuta, ou seja, simbolicamente falando, percebeu que era depositário das angústias e sofrimentos daquele povo. Foi o “bode expiatório”. Foi para o sacrifício, para cruz.
A origem do termo bode expiatório está nas tradições hebraicas de sacrifício e expiação, que eram cerimônias religiosas de expurgação dos pecados do povo hebreu, como parte das cerimônias do Yom Kippur (dia do perdão).
O sacerdote colocava as mãos sobre a cabeça de um bode e confessava todos os pecados do povo. Em seguida, o animal era levado ao deserto e deixado ao relento, carregando consigo todos os pecados do povo hebreu, assim o povo se aliviava de suas culpas. Seriam expiadas pelo bode.
O confinamento, os sofrimentos e as perdas decorrentes da pandemia geram abatimento, ira e revolta coletiva. Tendemos a dar vasão, colocar para fora este mal-estar. A vida já é difícil e agora tudo se agravou. Uma forma de tentar se aliviar é negar a pandemia e sair sem cuidados, se aglomerar.
Quando acontece um fato mais sério, externo a pandemia, costumamos engatar nesta situação todas nossas frustações e brabezas com o “status quo” e ali depositamos nossos desagrados. Estes movimentos de insatisfação podem ser pacíficos ou não.
Boa parte da população está aborrecida com a mídia tradicional. Nestas horas, a mídia também tira proveito de fatos que geram muito descontentamento popular e abraça esta causa sem avaliar com cautela o que está ocorrendo. Adere ao clamor dos que esbravejam. Talvez a minoria barulhenta. Busca o bode expiatório. O uso desse artifício está geralmente associado à busca irracional pela responsabilização de um problema sem tê-lo, antes, averiguado.
Qual a relação do explanado com nossa psique. Carregamos nossas neuroses, mas precisamos estar atentos para não agregarmos nossos sofrimentos psicológicos a fatos externos, mesmo relevantes.
A neurose é nutrida pelo nosso imaginário, pelas fantasias, pelo emocional. Mas ela tem muito prazer em também se alimentar e se nutrir com os bodes expiatórios que lhe ofertamos. É um petisco nutritivo para sua dieta e apetite sem fim.
Resumindo, devemos atentar para nosso interior e cuidar das nossas ansiedades, chateações, irritações, queixumes, em suma, das nossas neuroses. Importante tentar não anexarmos mais sofrimentos decorrentes de fatos exteriores, os quais, muitas vezes, não podemos solucionar. Desta forma, impediremos nossas neuroses de sofrerem mutações e se agigantarem, tornando-se mais virulentas para nós e para os que nos cercam.
Podemos afirmar que Jesus entendia muito bem da alma humana. Hoje, a psicoterapia ainda é o melhor instrumento para desvendar os subterrâneos da psique humana e desenterrar as neuroses. Trazê-las para superfície, botar luz sobre elas, acarretara em menos sofrimento emocional e uma vida mais plena e satisfatória.
Bons conselhos assumidos com bons conhecimentos. Não é somente permitir um avantajamento neurótico nesses tempos difíceis como entender com mais lucidez essas neuroses…chô…