As relações do homem com o tempo nasceram de suas observações e necessidades básicas quanto à sobrevivência e perenidade de seus agrupamentos. Remontam aos primórdios da humanidade.
Decorrem da busca dos alimentos ao desvendar a natureza com seus mitos e segredos, das questões de estratégias de lutas entre tribos, às procuras ou catas com caçadores-coletores, ao cultivo da terra sob ações do clima e efeitos das estações, dos mistérios advindos dos corpos celestes ao complicado movimento relativo da terra em relação ao sol, ao entendimento de noite e dia, estrelas, outros astros e, embora a beleza, com a lua no meio para complicar. A danada nos encanta desde então…e faz tempo!
Deuses sempre foram provedores de boa parte das crenças e do entusiasmo que provocava e consolidava cada passo desse desbravamento que, em suma, chegaria aos dias de hoje, pelos braços do cristianismo, com os maiores símbolos destas relações temporais que são o calendário Gregoriano e a divisão do ano solar em suas unidades clássicas de tempo: anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. Só para lembrar, quando o Brasil foi descoberto, o calendário era o Juliano…
O tempo tal qual hoje o concebemos é convencional, além de relativo. Não absoluto, como Einstein o disse e provou… Nos facilita e ajuda a contar histórias e até a fazer cálculos, digamos assim… Johannes Kepler (Século XVII) que o diga, ao inserí-lo em suas leis das órbitas planetárias e Isaac Newton nas questões da mecânica celeste. Mas quando Werner Heinsenberg, quase desprezando-o, firmou na mecânica quântica que não podíamos, ao mesmo tempo, conhecer a posição e velocidade de uma partícula, Einstein berrou: “Deus Não Joga Dados”…Pouco adiantou sua reação à nova teoria. O TEMPO mostrou-lhe que estava errado…
Mesmo não existindo como entidade física, despossuído que é de corpo, origem, desgaste ou término, seu conceito está entranhado em nós mais que o do próprio ar que respiramos. De tão sedimentado culturalmente, viver sem sua fictícia existência poderia não fazer o menor sentido uma vez que exigiria de nós tanto o abandono como o desfazimento dos entrelaçados elos da corrente passado, presente e futuro, à qual sempre estivemos amarrados. Sem ele, talvez, a palavra saudade perdesse o sentido. Talvez nem mesmo existisse.
Entidade criada pelo homem, necessitou de mensuração para diferentes propósitos. Relógios de sol, calendários e mecanismos diversos, fases de luas, posições estelares, foram recursos que utilizamos e aprimoramos ficando, quem sabe, o último e maior desafio em mãos do inglês John Harryson quando, pela invenção do cronômetro (revivendo Chronos, Deus do Tempo, na mitologia Grega), salvaria os navegadores ainda no século XVIII, de infelicidades imprevisíveis em suas tarefas e aventuras mares afora, propiciando-lhes conhecimentos seguros das longitudes. As latitudes, mais poéticas e perceptíveis, diferentemente, auto afirmavam-se sob brilhos de estrelas como a Polar, lá na Ursa Menor, norteadora de navegadores. Foi para mim a última palavra em termos de criatividade em descobertas e invenções do homem em seus tratos técnicos com o tempo, uma vez que as evoluções posteriores cairiam na inevitabilidade das novas tecnologias, chegando aos milésimos de segundo…
Hoje nossas relações com o tempo estão mais despreocupadas com tecnicismos. Mesmo com todo o respeito às convenções, comemorações e lembranças de datas diversas, elas assentam-se mais em relações de esperanças que temos com a época em que se vive. Como as que advêm de sonhos, das estórias de cada um e do querer vencer desafios que se interpõem às nossas ações ao perseguí-los. Nada de data marcada, reveillon ou segunda-feira que vem, mas como exercício natural na seqüência normal de cada momento vivido ou de desejos assentados.
Ao chegar e passar pelo primeiro dia deste século XXI e milênio, naquela alvorada destes próximos cem e mais sei lá quantos anos, senti um enorme vazio em relação a essa nova referência dos anos e tempos; o século XXI, embora toda a parafernália de presságios, fogos e festas diversas mundo afora, na verdade, deu-me alguma emoção pela data em si. Aliás, data por data, nada acontece. Em contraposição, fortes sentimentos de esperanças. Não somente daquelas que brotam naturalmente de vivências religiosas ou de intuições mas também de outras mais elaboradas, nascidas de compromissos espontâneos e conscientes que formalizamos conosco e por aqueles pelos quais temos responsabilidades ou envolvimento com a felicidade. À esperança associam-se confiança, coragem e determinação em realizar o que se pretende, seja no campo individual, familiar, coletivo, social ou profissional. Afinal, qual a convergência entre sonhos e datas? A rigor, nenhuma. Mas pensando bem, sim. Com aqueles momentos vividos ou a viver, atuais ou futuros, seja lá qual for a pressa de cada um em realizá-los. E pressa, há que haver com o tempo…
Obrigado Cesar abrs.