Quando falamos de liderança, eu sempre penso em Gandhi ou Martin Luther King, que tiveram milhões de seguidores, mas lembro também de dois chefes espetaculares que foram fontes de inspiração e sabedoria para mim e para um seleto grupo de pessoas. Eu vou falar dos meus chefes porque convivi muito com eles e, infelizmente, não tive o privilégio de estar com Gandhi ou Luther King.
Esses dois chefes tinham características muito parecidas, que hoje eu entendo serem atributos imprescindíveis e que fazem parte do kit de liderança.
A primeira característica, e que é mais presente na minha memória, é PACIÊNCIA. Mesmo no meio dos grandes incêndios do dia a dia, eles paravam para me ensinar sempre que fosse necessário. Eu chegava “esbaforido” com um problemão, e eles dedicavam um tempo para me fazer refletir, buscar as melhores alternativas e transformar o problemão em um delicioso desafio. Muitos anos depois, eu encontrei um deles e comentamos sobre uma determinada situação. Eu disse para ele: “Você teve paciência de me ajudar por mais de 1 hora”, e ele respondeu: “Não foram mais do que 5 minutos”. Os dois estavam certos: os 5 minutos do meu líder foram 1 hora de aprendizado para mim.
A segunda característica é MOTIVAÇÃO. Eu lembro de um momento, tarde da noite, eu exausto e sem conseguir ver uma luz no final do túnel — o problema parecia enorme, a ponto de me engolir. O líder pôs a mão no meu ombro e disse: “Sobe no banquinho! Se você estiver no mesmo nível do problema, você não verá solução. Sobe um degrau e olha por cima, deixe a criatividade fluir.” Ele me apontou um pedaço de papel que estava no canto da mesa. O enigma me deu energia para mais 4 horas de trabalho e, de repente, o tal papel no canto da mesa era a chave para o meu quebra-cabeça.
A terceira característica é a “BANDEIRA”. Todos nós sabíamos as ambições profissionais do líder e trabalhávamos como um grande bloco para apoiá-lo. A cada 6 meses, vinha o discurso de alinhamento: “A guerra é formada de várias batalhas”, dizia ele, “para os próximos 6 meses, nossa batalha será esta”, e lá vinha a bandeira e o que deveríamos seguir. Corações e mentes se alinhavam com a bandeira, e cada área e cada pessoa sabia exatamente como contribuir para vencer a batalha da vez.
A quarta característica é a CONSTRUÇÃO DO TIME. Meus dois chefes sabiam muito bem como “ler as pessoas”, identificar habilidades, competências, potencial, motivadores e medos. Eles sabiam como colocar a pessoa certa no lugar certo, prepará-la e motivá-la para o momento certo. Eles sabiam como integrar o time e fazer a equipe trabalhar com respeito e ajuda entre as partes, criando um bloco coeso e síncrono. Uma vez, assisti ao filme Moneyball, em que o personagem interpretado por Brad Pitt criou um time sem estrelas multimilionárias, mas com tamanha sinergia que acabou vencendo todos os campeonatos. Meio como O Mágico de Oz, onde cada personagem tinha habilidades e competências importantes para uma determinada batalha e garantia o sucesso ao final. Trazendo ao ambiente corporativo, leia-se: DIVERSIDADE e ENGAJAMENTO.
Gerenciar ou administrar um time de vendas é muito diferente de liderar a equipe.
O gestor pode ser excelente: analisar todos os dados do funil de vendas, garantir um funil saudável, controlar as oportunidades, fazer as reuniões de vendas garantindo alta previsibilidade (forecast), montar a estrutura e os processos corretos, e treinar a equipe.
O líder faz tudo isso, mas vai além. Ele usa seu conhecimento dos pontos fortes e fracos das pessoas para montar um time de alto desempenho. Ele OUVE e respeita cada um no grupo e, com isso, ganha o respeito de todos. Ele conquista os corações e mentes de seus colaboradores e, com isso, a equipe trabalha com outro nível de energia e engajamento.
Nem todo líder nasce líder. A liderança é um comportamento que pode ser exercitado e aperfeiçoado.
Excelente e inspirador artigo Dago!