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A doença mental ou desajustes psíquicos, podem ocorrer por alterações bioquímicas do cérebro, conflitos psíquicos ou traumas existenciais. Com a pandemia, muitas instituições descobriram que existe um novo “ente” chamado saúde mental. Passaram a se importar com o psicológico ou emocional, e a sua relevância no cotidiano e no desempenho laboral das pessoas. A ginasta Simone Biles dos EUA desistiu em decorrência de depressão. Ela vivenciou abandonos e traumas na infância. Treina várias horas todos os dias, afasta-se das festas e amigos, namorar nem pensar, não pode ter conflitos familiares, etc. Se ganhar medalha de ouro, não recebe grana, volta para casa e começa tudo de novo e é, rapidamente, esquecida pelas mídias. É como viver encarcerada. A depressão poderia ter ocorrido por excesso de demandas e/ou expectativas elevadas. Poderíamos inferir que deprimir-se tivesse a função de se rebelar com a situação vivida.

E a saúde mental em outros esportes? No vôlei e futebol, os atletas se acompanham e, de uma certa forma, se cuidam. Estão mais próximos, brincam, se ajudam e ganham bem para jogar e sempre estão nas mídias.

No futebol a falta de interesse com o psicológico dos jogadores é total. Quando se contrata um jogador novo escutamos o seguinte: fará exames médicos para saber de suas condições físicas e atléticas. Jamais, jamais, ouvimos! Fará uma avaliação psiquiátrica/psicológica. Parece um detalhe “bobo”! Lembrando. Nossa sociedade tem preconceito com os sofrimentos psicológicos, logo, nega a presença e a importância deles.

Temos algumas experiências no cotidiano do futebol. O clube vem bem, troca-se dirigentes e/ou treinadores e desanda tudo. Como entender esta queda? Talvez, a explicação está na falta de atenção sobre a vida real e psíquica dos jogadores e dos próprios treinadores e dirigentes. O atleta entra em campo carregando todos seus conflitos e mazelas. Há um distanciamento prejudicial entre os “grandões”, que mandam, e os atletas, que deveriam obedecer. Os mandatários dos clubes têm uma “aura divina”, pois não precisam demonstrar capacitação prévia para a difícil função. O dirigente mais limitado e comprometido para a função é o fanático pelo clube, pois fanatismo é igual a cegueira.

O treinador é chamado de “professor” pelos atletas, o que sinaliza um distanciamento. Interessante que não o chamam pelo seu nome! O reflexo disso costuma aparecer através do boicote dos atletas, inconsciente ou consciente, ao treinador/dirigente que não lhes ouvem ao mandar um treinador embora, ou contratar um novo. Claro, ouvir é uma coisa, mas a decisão sempre será dos dirigentes.  

A sedução é uma arma poderosa em nossas vidas. Alguns treinadores a têm e dizemos: “Tem o vestiário na mão! ” O diferencial desses é que sabem seduzir. Se não seduzo meus pares, atletas, funcionários ou filhos, através de narrativas bem embasadas e com um bom nível de afeto, não consigo tirar o melhor deles. Saúde mental adequada traz mais rendimento e felicidade. Olhem que paradoxo: não ter doença mental, tipo depressão, fobia, pânico, não significa que temos boa saúde mental. Uma boa alternativa, seria um psicoterapeuta habilitado em conduzir grupos de reflexão semanal com os atletas, comissão técnica e dirigentes. Seria uma forma de expandir reflexões e se ter mais intimidade com o emocional e a capacidade de ajudar o grupo a crescer. Poder perceber e entender o nosso psiquismo é uma grande “ferramenta” para abrir portas e ultrapassar obstáculos.

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Nelio Tombini

Médico psiquiatra, CRM/RS 5440, psicoterapeuta, palestrante e autor do livro A Arte de Ser Infeliz - Desarmando as armadilhas emocionais.