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De tempos em tempos o assunto geracional vem à tona. Empresas de pesquisa, relatórios de tendências e reportagens retratam a geração mais nova como “algo completamente novo, diferente, revolucionário que você precisa entender logo para não quebrar o seu negócio”.  A febre do momento é falar sobre a guerra da Geração Z (os jovens que têm hoje entre 18 e 24 anos) com os Millennials (que estão na faixa dos 30 a 40 anos). Os mais jovens mandaram avisar que muitas coisas absolutamente amadas pela geração anterior (como os jeans skinny, a série Friends e até o Harry Potter) são consideradas “cringe” por eles. Ou seja: são coisas vergonhosas, bregas e fora de moda.

A notícia foi recebida com surpresa pelos mais novos tiozões do momento (grupo no qual me incluo) e provocou uma série de memes de revolta nas redes sociais. Pra mim, a indignação logo foi se transformando em curiosidade por entender mais sobre minha própria geração. Alguns Googles depois, uma realidade terrível foi se desvendando diante de mim: somos a geração mais pobre e mais deprimida de todos os tempos. Fiquei me perguntando: como foi que isso aconteceu? Não seríamos nós que iríamos revolucionar o mundo? O que foi que deu errado?

Acabei encontrando algumas explicações bastante convincentes de como chegamos até este cenário nada animador. Algumas delas me lembraram de afirmações que, há 10 anos atrás, eram vistas como pequenas revoluções que tornariam o mundo um lugar melhor e acabaram se provando ser uma cilada na qual muitos de nós caímos sem nem nos darmos conta.  

“Queremos acesso ao invés de posse”.

Se você participou de alguma palestra de qualquer guru do marketing nos últimos 10 anos, com certeza deve ter ouvido esta frase. A economia compartilhada aparecia como uma das grandes revoluções protagonizadas pela minha geração.  “Ninguém precisa da furadeira, mas sim do buraco na parede” provocavam os palestrantes da década passada. 

O que ninguém nos avisou é que o “acesso” é temporário e que em momentos de recessão é a posse que permite estabilidade. Preferindo gastar seu dinheiro com
experiências e não com bens materiais,

os millennials criaram para si um estilo de vida caro e acumularam pouco ou quase nada que pudesse ser trocado por dinheiro. E, agora que as vantagens da propriedade se tornam óbvias, não tem recursos para bancar a compra.

Quase metade dos Boomers eram proprietários de casas aos 34 anos; Em contraste, apenas 37% dos Millennials possuem uma nesta idade. Este é um dado muito preocupante, uma vez que a posse imobiliária é uma das maneiras mais seguras de acumular capital e transmiti-lo para as gerações futuras.

Os Baby Boomers, que nasceram no caótico cenário pós guerra, valorizavam tudo aquilo que lhes trouxessem renda e estabilidade. Não por acaso hoje são eles que acumulam mais da metade da riqueza do mundo. Os dados dos EUA mostram que os millennials acumulam menos de 5% da riqueza do país, sendo que Mark Zuckerberg sozinho detém a maior fatia desse percentual. 

Mas, obviamente, a valorização do acesso ao invés da posse não é o único responsável por esta diferença de riqueza entre gerações. Os millennials também foram bastante prejudicados pelas crises econômicas que chegaram no momento mais decisivo de suas vidas adultas. No meio do caminho estavam pelo menos duas grandes crises econômicas globais. Ainda, se considerarmos a realidade dos millennials brasileiros, podemos colocar nessa conta um impeachment já concretizado e uma grande torcida pelo segundo.

Trabalhe com o que você ama…. e logo terá um burnout.

Ao contrário de nossos pais que buscavam profissões consolidadas, nós millennials fomos livres para buscar profissões que nos realizem profissionalmente. Muitos de nós passamos a nos definir e viver por nossas profissões – por mais estressantes e mal remuneradas que elas fossem. 

Com o perdão da palavra, o resultado disto foi uma pandemia de burnout com proporções assustadoras: 95% dos Millennials relataram já ter sofrido com episódios de Burnout e outros 75% dizem se sentir mentalmente exaustos (e estes dados são de antes da pandemia!).

Para quem ainda não conhece a expressão, por definição, burnout é “um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, sempre relacionada ao trabalho de um indivíduo”. De tão frequente, a minha geração já foi até apelidada de geração burnout. 

Desde 2013, a geração do milênio observou um aumento de 47% nos diagnósticos de depressão. A taxa geral aumentou de 3% para 4,4% entre até 34 anos. Os dados são ainda piores para a população negra. De 2001 a 2017, as taxas de mortalidade por suicídio para meninos negros de 13 a 19 anos aumentaram 60%; para as meninas negras, é 182%, de acordo com um estudo do Journal of Community Health.

Mais conectados – e mais solitários do que nunca.

Nós millennials inventamos as redes sociais. Ficamos obcecados por nos conectar digitalmente com milhares de pessoas desde os tempos do Orkut. Chegamos no Facebook quando tudo era mato. É realmente surpreendente descobrir que acabamos nos tornando a geração mais solitária do planeta: 30% dos millennials disseram que sempre ou frequentemente se sentiam sozinhos, em comparação com 20% da Geração X e 15% dos boomers.

Muitos de nós decidimos não casar, adiar a chegada dos filhos e fomos pioneiros do isolamento social ao preferir a Netflix do que um passeio com amigos na vida real. E todos estes fatores contribuem para este sentimento de isolamento, segundo os especialistas.

Uma pesquisa recente descobriu que três em cada quatro americanos desta geração possuem um animal de estimação. Uma vez que eles não podem comprar uma casa e não querem filhos, estão preenchendo seus ninhos vazios com bebês de quatro patas. O que, obviamente, não substitui a conexão humana.

Ainda somos os mesmos – mas não vivemos como nossos pais.

Eu nunca acreditei nesses recortes geracionais que apresentam rupturas abruptas de comportamento. Acredito que há tanta diversidade de comportamentos dentro das gerações quanto entre as gerações. Mas, estes dados extrapolam os hábitos, crenças e comportamentos. São realidades culturais e de contexto que são muito difíceis de se modificar. E, ao olhar para o futuro, podemos projetar cenários e questionamentos com impactos duradouros:

  • Com o avanço da medicina, seremos uma das gerações com maior longevidade. Como será envelhecer sem posses e com a lembrança de uma juventude solitária e depressiva?
  • Qual será a contra-tendência que a Geração Z vai implementar para salvar-se dos destinos da geração anterior? Eles irão voltar a valorizar a posse ao invés do acesso ou vão apostar no minimalismo como forma de viver com menos? 
  • Como a geração Alfa (os filhos dos millennials) vai olhar para o mercado de trabalho sendo que terão menor apoio financeiro de seus pais?

Diante de todos estes questionamentos, eu volto a pensar na guerra entre Millennials e GenZs que provocou toda esta reflexão. Aos mais novinhos, só me resta alertar que quem com cringe fere, com Geração Alfa será ferido. O peso das escolhas de cada geração e o momento de revisar nossos erros e acertos chegará certamente para todos. O que quero dizer é que as dancinhas no Tik Tok não serão o suficiente: façam escolhas de vida melhores do que as nossas, se quiserem continuar rindo por último.

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Dani Lazzarotto

Fundadora e diretora de estratégia da Cordão Formada em publicidade e pós graduada em branding, a Dani acredita que as marcas precisam agregar valor para sociedade. Tem mais de 12 anos de experiência como estrategista. É fundadora e diretora de estratégia na Cordão - consultoria de branding que atende clientes como: Agibank, FreeSurf, PUCRS, Pmweb, Tramontina entre outros. Já teve seu trabalho reconhecido com diversos prêmios, inclusive o de melhor profissional de planejamento. Também foi presidente do Grupo de Planejamento do RS por três anos e é professora de cursos livres e pós-graduação.