A tecnologia faz nascer um novo mundo. Além de criar empregos de alta inteligência e remuneração, a Apple, a Amazon, o Facebook e o Google, através de esforços negociais conjuntos ou complementares, conseguiram a façanha de colocar um supercomputador de bolso à disposição dos cidadãos do mundo. Em termos de riqueza, mais de $2 trilhões de dólares foram gerados via mercado de ações. Os avanços alcançados são indiscutivelmente fascinantes e superlativos.
No limiar do futuro, estamos ingressando em uma nova etapa do desenvolvimento humano, libertando as pessoas dos repetitivos e enfadonhos empregos da era industrial.
Sim, a máquina progressivamente substituirá o homem nas tarefas padronizáveis. Calma. O pânico inicial também traz consigo a esperança ao longo da curva. Sem cortinas, a tecnologia e os instrumentos de inteligência artificial – ao invés de armas de destruição em massa – são, na verdade, cartas de alforria ao espírito humano superior. Talvez estejamos voltando para uma época clássica, na qual centraremos esforços em atividades genuinamente humanas: ver o mundo, pensar a vida, aprender com a natureza, criar realidades inovadoras, amar e se deixar amar. Enfim, planta-se a semente de um humanismo mais alto e profundo.
O problema é que os desafios no horizonte são gigantescos.
Objetivamente, a economia digital é infinitamente mais sofisticada que o anterior modelo industrial. A mudança, aqui, é de grau e atitude. O trabalho irá migrar do técnico-manual para o reflexivo-intelectual, exigindo um consequente exercício lógico e intersubjetivo do pensamento e, não, a mera internalização linear de práticas ou ações repetitivas. Os chamados “soft skills” (empatia, criatividade, versatilidade, adaptabilidade, comunicação eficaz, liderança, entre outros) serão atributos essenciais de navegação profissional. Aliás, as profissões também terão um traço artesanal, expandindo o poder do talento individual nas ágeis e fluídas dinâmicas das redes informacionais.
Os meios online e off-line atuarão em simbiose necessária, conjugando exercícios de campo com o uso de mecanismos exponenciais de imagem, reputação e valor. A prova de autenticação será fatal: haverá que existir uma indissociável identidade entre o real e o virtual, pois a desconexão é um sinal de falsidade e, naturalmente, ninguém confia, acredita ou valida aquilo ou quem é falso. É claro que poderemos ter inúmeros e plurais voos de galinha, mas os grandes vencedores serão os empreendedores e as empresas geneticamente autênticas em si e a seus propósitos de negócios.
Não temos mais tempo a perder. A velocidade do mundo aumentou e quem quiser jogar competitivamente a primeira liga terá que desenvolver uma capacidade de raciocínio rápida e multifacetada.
Nesse contexto transformacional, o modelo da educação tradicional é falido e ineficaz. Podem gritar o que quiserem. Choramingos sindicais e reinvindicações corporativistas não mudam a realidade. O que foi, simplesmente não é mais.
Ora, a decadência estrutural do ensino brasileiro é flagrante: nossos jovens, entre escola e universidade, passam quase 20 anos estudando e, pasmem, muitos saem despreparados para o mercado de trabalho. O fato é inaceitável! Não podemos mais continuar investindo fortunas em algo que gera pobreza intelectual. Existe, portanto, uma substantiva desconexão do ensino com as necessidades da vida moderna; temos escolas que não ensinam e alunos que não aprendem.
Como bem aponta Thomas Friedman em seu excelente Thank You for Being Late, a humanidade precisa se engajar em um processo dinâmico de “lifelong learning”, com ciclos de saber cada vez mais rápidos e, por assim serem, capazes de desenvolver uma maior adaptabilidade do pensamento a mudanças inesperadas ou radicais, tendo como meta a otimização máxima do intelecto em um mundo de progressiva estabilidade instável.
Voltando ao início, um novo mundo exige novos conceitos. E um novo Brasil exige novas instituições. As pessoas estão cansadas das velhas narrativas. Logo, precisamos inflexionar o pensamento sobre territórios inexplorados, estimulando a imaginação criadora e o raciocínio definidor. Por tudo, temos – diante de nós – um amplo campo de desenvolvimento e inúmeras oportunidades de amanhã. Todavia, se seguirmos com escolas analógicas, seremos um país de miseráveis digitais. A diferença será uma só: a pobreza em Real será quitada em Bitcoins.
Sebastião, gostei muito de sua provocação, e na esteira da mesma gostaria de instiga-lo a escrever mais artigos explorando alternativas ao sistema atual. Grande abraço!