fbpx Skip to main content

Sinto que estamos vivendo um daqueles momentos que os livros de história vão descrever com frases curtas e frias — mas que, na realidade, são cheios de dúvidas, ansiedade e expectativa. Muitos não têm ideia do que está acontecendo. 
Não é preciso olhar muito para perceber que pessoas qualificadas, que optaram por caminhos mais convencionais, estão totalmente por fora dessa transformação. Sem falar na maioria dos povos que, ao redor do mundo, não tiveram oportunidades de estudo e formação. 

As mudanças tecnológicas impulsionam a evolução da sociedade, mas também provocam impactos profundos. Existe sempre um período de tempo, até que as tecnologias se tornem acessíveis a todos, em que um grupo de privilegiados consegue evoluir muito mais rápido que o restante da população. Quem “surfa” a onda primeiro, inevitavelmente, amplia as discrepâncias entre os mais pobres e vulneráveis e os mais ricos. 

Até mesmo aqueles que acreditam estar acompanhando o ritmo — como muitas pequenas startups e empresas de menor porte — acabam ficando para trás. Sabem o que está acontecendo, mas não percebem que quem domina o jogo são os gigantes da tecnologia. 
Mas sempre foi assim. Em todas as revoluções tecnológicas radicais, há um abismo inicial. E agora não será diferente. 
A era da Inteligência Artificial chegou e, por mais que tentem explicá-la de forma técnica, o que estamos vivendo é, antes de tudo, uma revolução humana. 

Penso muito em como chegamos até aqui. 
Na Revolução Industrial, o mundo aprendeu a produzir em escala — mas também aprendeu a substituir mãos por máquinas. Milhões perderam seus ofícios, e o trabalho deixou de ser arte para virar função. 
Foi uma era de progresso e de dor. 
Logo depois veio o modelo de produção seriada, que levou a eficiência ao extremo. O homem virou parte de uma engrenagem maior. Ganhou produtividade, mas perdeu identidade. 

Em seguida, a busca pela qualidade total trouxe uma nova lógica: fazer certo, padronizar, medir. 
E então chegaram os computadores pessoais, e, pela primeira vez, a tecnologia deixou de estar nas fábricas e entrou nas casas. A forma de trabalhar mudou. A forma de aprender mudou. A forma de viver também. 
A Internet veio logo em seguida, conectando tudo e todos, e as redes sociais transformaram essa conexão em espelho — algo que aumentou significativamente a ansiedade e a dor das pessoas frente às comparações e aos desejos inalcançáveis. 
O resultado: dependência total e muita depressão. 
De repente, o mundo inteiro passou a se olhar — e a se comparar. 

Cada revolução veio mais rápida que a anterior. 
Cada uma exigiu menos tempo de adaptação e, ao mesmo tempo, deixou mais gente para trás. 
A verdade é que a adaptação nunca foi homogênea. 
Enquanto alguns avançam, outros resistem. 
E, entre o avanço e a resistência, há sempre medo, euforia, negação e esperança. 

Hoje, com a IA, o sentimento é o mesmo — só que acelerado. 
Há quem veja oportunidades infinitas. E há quem sinta pânico por não entender o que vai sobrar de humano nesse novo mundo. 

Empresas estão revendo seus papéis. Profissões estão desaparecendo e surgindo em questão de meses. 
E nós, seres humanos, estamos tentando compreender quem somos em meio a tudo isso. 
Sinto que o que está em jogo não é apenas produtividade — é identidade. 

Na Revolução Industrial, temíamos as máquinas que roubavam o trabalho manual. 
Agora, tememos as máquinas que “pensam”. 
Mas talvez o maior medo de todos seja perceber que elas pensam mais rápido do que nós. 

O impacto disso é profundo. 
Vejo pessoas brilhantes paralisadas, duvidando do próprio valor. 
Vejo empresas tentando parecer modernas, mas presas em culturas antigas. 
E vejo uma sociedade inteira oscilando entre o fascínio e o cansaço. 

O que mais me impressiona é perceber que, apesar de toda a tecnologia, o que está em jogo continua sendo o mesmo: pertencer, ser útil, ser visto, continuar relevante. 
Esses são sentimentos que atravessam séculos. 
Eles estavam lá no operário do século XIX, no engenheiro dos anos 70, no programador dos anos 90 — e estão aqui, em cada um de nós, diante de uma tela que agora responde, pensa, cria e fala conosco. 

Acredito que a IA não é o fim de nada. 
É apenas mais uma etapa — talvez a mais desafiadora (acredito que a última sempre será a mais desafiadora…) — de um processo que sempre foi o mesmo: a humanidade tentando se reinventar sem se perder de si mesma. 

E, no fundo, toda revolução começa igual: com um incômodo, um medo e uma vontade imensa de entender o que vem depois. 
Talvez o futuro seja isso mesmo: uma conversa constante entre o que somos e o que ainda estamos aprendendo a ser. 

Deixar um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Tiago Lemos

Economista, com pós em Economia empresarial e Engenharia de Produção, consultor especialista em inovação, investidor anjo e empresário.