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Aos 40, muita coisa muda — o corpo, o foco, as prioridades. Algumas portas se fecham. Outras deixam de fazer sentido. Não é um recomeço, nem um fim. É uma transição firme, onde a clareza cresce e a paciência diminui.

A régua muda. Já não se trata de agradar, provar ou se encaixar. Trata-se de sustentar o que importa — com menos concessões e mais consciência.

Corpo: a fisiologia muda, mas não falha
A narrativa da “falência do corpo feminino” persiste. Só que não é falência — é reconfiguração.

No livro A Reconfiguração da Menopausa, a médica Mindy Pelz propõe uma nova compreensão do funcionamento feminino a partir da perimenopausa. Ela mostra que, com pequenas mudanças — como sono estratégico, jejum em fases bem aplicadas, alimentação anti-inflamatória e treino ajustado — é possível ter mais energia e clareza mental do que antes. Desde que se pare de usar o corpo de ontem como referência para o corpo de agora.

Nada disso é milagre. Mas também não é decadência.

Treino 40+: o corpo responde

O treinador argentino Juan Martin Miranda resumiu bem os mitos que rondam o treino depois dos 40: que não se ganha força, que o rendimento só cai, que lesões são inevitáveis. Tudo isso já foi desmentido pela prática e pela ciência. O que muda é a forma de treinar. Volume e intensidade dão lugar à constância, técnica e recuperação bem planejada.
Corpos maduros treinam. Evoluem. Se adaptam. Só não funcionam mais à base de improviso e excesso.

Hormônios: transição que não é colapso

A oscilação hormonal dessa fase impacta sono, foco, humor, apetite e disposição. Mas tratar isso como colapso é simplista. O que existe é uma nova lógica metabólica que precisa de ajustes. Com atenção aos sinais, suplementação bem orientada e rotinas coerentes, dá para atravessar esse processo com mais estabilidade do que instabilidade. O problema está mais na falta de informação do que no corpo em si.

Trabalho e o viés etário (que precisa ser enfrentado com estratégia)

Aos 40+, o mercado de trabalho costuma projetar mais suposições do que observar capacidades. Não é uma opinião — é uma estrutura.
O artigo da MarketWatch expõe as principais razões pelas quais pessoas mais velhas são descartadas em processos seletivos. E nenhuma delas tem a ver com falta de habilidade real. O que pesa é o imaginário: supõem que a pessoa é menos flexível, não acompanha tecnologia, custa mais, não aceita liderança jovem ou vai sair logo por desmotivação.
Esses filtros não são discutidos nas entrevistas — mas operam nos bastidores das decisões. O resultado?
Profissionais experientes são ignorados antes mesmo de terem chance de mostrar o que entregam.

No caso das mulheres, o viés se duplica. Ao preconceito geracional soma-se o machismo estrutural: a mulher que se posiciona é lida como difícil. A que tem muitos anos de carreira é “sênior demais”. A que sai do mercado por um tempo para cuidar da família carrega “lacunas” que pesam mais do que entregas reais.

A Ethical Jobs propõe saídas concretas. Algumas funcionam melhor dependendo do setor, da posição e do contexto econômico. Mas há pontos comuns que aumentam a chance de ser considerada:

1. Atualizar o vocabulário e o formato do currículo
Profissionais experientes costumam manter um CV linear, descritivo e cronológico demais. É preciso ajustar a linguagem: usar verbos de impacto, métricas claras, resultados recentes.
Foco em impacto, não em função.

2. Posicionar-se como solução, não como “experiente”
A experiência é um ativo — mas só funciona quando conecta com um problema que a empresa precisa resolver. Mostrar como a bagagem se traduz em eficiência, autonomia, visão sistêmica, capacidade de tomada de decisão.

3. Fortalecer presença digital com coerência
O recrutador que recebe um bom currículo vai procurar o nome da pessoa. Se o LinkedIn estiver parado ou genérico, a candidatura perde força. Ter um perfil com portfólio, conteúdos, recomendações ou mesmo posts recentes já sinaliza movimento e alinhamento com o presente.

4. Redefinir o que é “boa empresa”
Nem todo lugar quer inovação, diversidade e maturidade. Buscar empresas que valorizem resultados mais do que juventude. Startups maduras, ONGs estruturadas, negócios de impacto e consultorias especializadas tendem a ter mais abertura — especialmente em áreas como ESG, cultura, projetos sociais, treinamento, compliance, sustentabilidade e desenvolvimento humano.

5. Usar a idade como vantagem estratégica
Onde há rotatividade alta, caos e imaturidade organizacional, uma pessoa que entrega com consistência e baixa necessidade de gestão já é diferencial. Em vez de tentar “parecer mais jovem”, o movimento pode ser outro: mostrar o que a experiência resolve com mais agilidade e menos ruído.

6. Considerar novos formatos: consultoria, mentoria, parcerias
Em vez de procurar vagas no modelo tradicional, muitas pessoas 40+ têm se reposicionado como prestadoras de serviço. Um mesmo perfil que não é contratado como “coordenador” pode ser ouvido como “consultor”. Não se trata de inflar o cargo — e sim de mudar a abordagem.

7. Atualizar competências, sem compulsão
Aprender novas ferramentas digitais e entender as exigências do mercado atual é importante — mas não precisa virar uma corrida de certificados. O essencial é identificar quais ferramentas, linguagens ou metodologias são realmente exigidas na sua área e aprender o que for útil.

8. Ter um discurso claro sobre o que se quer agora
O mercado valoriza quem sabe explicar o que quer e o que entrega. Evitar falar em “recomeço”, “estou aberta a tudo” ou “preciso voltar para o mercado”. Isso gera insegurança em quem contrata. A clareza no foco é tão importante quanto a experiência acumulada.

Desafios
O maior desgaste está em tentar voltar a uma lógica que já não serve: a tentativa de suavizar o tom, esconder a idade, minimizar o tempo fora do mercado ou parecer “disponível demais” cobra um preço alto — e raramente funciona.
Depois dos 40, não se trata de convencer ninguém. Trata-se de encontrar onde sua entrega faz sentido, atualizar o que for necessário e sustentar o próprio valor com clareza.
Isso não é simples. Mas é possível. Com estratégia, critério e energia bem direcionada. Depois dos 40, não é sobre começar do zero. É sobre continuar com mais critério, menos pressa e outro tipo de força.

A potência não desaparece. Mas muda de lugar.
O corpo exige método. O mercado exige reposicionamento. A vida exige direção.

Não é reinvenção — é adaptação e sustentação.

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Cris Ljungmann

Minha missão é aprimoramento e performance profissional, para levar ao máximo o equilíbrio da vida com o trabalho. Especialista em trabalho Remoto e Híbrido, com mais de 20 anos de experiência em treinamentos e gestão. Abordagem com ênfase na mudança e aprimoramento de mindset, metodologias ágeis, utilizando tecnologias de ponta, sem descuidar a inteligência emocional, a comunicação e com forte influência nas áreas sociais e culturais. Antropóloga pela Universidade de Buenos Aires (UBA), Coach Executivo e Pessoal pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC) e professora da Universidade de Cambridge. Sócia da Dynamic Mindset, fundadora da Viver para Ser, diretora executiva do Agile Institute Brasil. Cris fornece serviços de consultoria, Coaching & Mentoring, e treinamentos de liderança e performance com profissionais e empresas que estejam na procura de mudança contínua e exponencial. Praticante de esporte aventura, amante da natureza, fotógrafa e escritora.