Porto Alegre costumava ser repleta de sons interessantes, tanto de dia quanto à noite. Aviões comerciais cruzavam o céu sobre a Zaida Jarros, e pequenas aeronaves, de instrução ou particulares, voavam sem parar, dia e noite. Nas quintas-feiras, em determinadas épocas do ano, o nosso querido Esquadrão Pampa realizava treinos de toque e arremetida no Salgado Filho, à noite. Os Northrop F-5M Tiger deixavam o céu mais agitado e colorido com suas arremetidas, acompanhadas do som inconfundível dos motores em afterburner.
Eventualmente, helicópteros também sobrevoavam a cidade.
Durante os dias ensolarados de nossa querida Porto Alegre, pássaros enchiam o ar com seus cantos, alegrando o ambiente.
Tudo isso, como se tivesse sido desligado por um interruptor, cessou no início de maio de 2024, quando uma grande enchente desafiou, mais uma vez, o nosso Estado a se reerguer. Porto Alegre foi tomada por outros sons, não tão agradáveis. E, embora esses sons já existissem em tempos normais, agora eles dominavam a cidade.
Os sons que prevaleciam eram de ambulâncias, bombeiros, buzinas, sirenes, carros de polícia e pedidos de ajuda.
Helicópteros, que antes eram uma presença comum, tornaram-se os senhores dos céus. Era impossível não ouvir o som incessante deles, voando de um lado para o outro. Não havia outra forma de chegar a muitos lugares que não fosse por helicóptero.
Nosso aeroporto Salgado Filho, submerso e sem condições de operar, silenciou os voos comerciais e de pequenas aeronaves. Assistimos ao nosso aeroporto transformar-se num verdadeiro porto.
Aos poucos, começamos a perceber as mudanças que nos foram impostas de forma abrupta, da noite para o dia.
Os dias passaram, e os sons mudaram novamente. Desta vez, surgiu o som do silêncio. O Centro Histórico, antes movimentado, vibrante, musical, colorido e multicultural, agora era um lugar envolto em um silêncio sepulcral, interrompido apenas por um ou outro ruído distante.
Onde antes faltava espaço para circular, agora havia espaço de sobra, mas nada acontecia. Apenas tristeza.
E assim, nossa Porto Alegre mudou seu tom por alguns longos dias…
Nos dias que se seguiram, muita coisa aconteceu. Muitos outros sons surgiram, e outros tantos desapareceram.
O som da nossa força emergiu através da ajuda, do apoio, das ações rápidas, dos resgates, do amparo, dos abrigos e da alimentação oferecida a quem precisava, independentemente de quem fosse.
Porto Alegre trouxe de volta os sons das ruas movimentadas, dos motores, do trabalho. Eram os sons da reconstrução, da retomada da cidade, das empresas e das pessoas em suas vidas.
Novas oportunidades de negócios surgiram. Oportunidades de reconstruir, de recomeçar com uma nova visão.
Nossa Porto Alegre demonstrou, mais uma vez, sua resiliência diante das adversidades, trazendo consigo novos horizontes.
O espírito lutador do povo gaúcho foi decisivo para que saíssemos do olho desse furacão. Ainda há muito a ser feito, muito a reconstruir, repensar e planejar, para que eventos naturais venham a causar menos danos.
Nossa economia está se reerguendo, com inúmeros projetos de apoio a pequenos empreendedores que sofreram perdas consideráveis. Tanto a iniciativa privada quanto o governo estão ajudando a reconstruir uma boa parte da economia gaúcha.
Mas você notou que os sons de Porto Alegre já mudaram novamente? O Centro Histórico voltou ao seu ritmo normal, colorido e multicultural. Já é possível ouvir um ou outro avião cruzando o céu, e as aeronaves de instrução estão voando novamente. Há sons de festas, músicas, risadas e celebrações.
Superamos!
Estamos voltando à normalidade. Escrevo este texto de um local que esteve totalmente submerso.
Seguimos em frente, ansiosos pelos sons que o Salgado Filho embalava em nossas noites e que, em breve, voltarão a nos embalar.
Particularmente, estou ansioso pelos treinos do Esquadrão Pampa!
Baita texto!!
Com certeza voltaremos mais fortes e unidos!
Que a empatia e o senso comum sejam cada vez mais presente em nossas vidas.
Os sons estão de volta